Aparentemente é possível comprar agora em todo o lado Pacheco vs. Cesariny, uma prenda amarga de Luiz Pacheco a Lisboa, onde publicou as cartas que trocava com o círculo de amigos. A primeira, ao grupo surrealista é como um dilúvio, descarga logo tudo, mas entretanto acaba por até amenizar. Mais do que projectos, discute-se dinheiro.
A maioria são com Cesariny e Ricarte Dácio, ambos em Londres e preocupados com a sua saúde financeira, bem como Bruno da Ponte da Letras e Artes e Virgilio Martinho.
Delfim da Costa, o triunvirato cangalheiro da cidade tem uma boa participação, só se pedia mais.
Para o fim, Pacheco é rude para com Cesariny, que via-se nitidamente que o estimava, mas a maior parte da correspondência até é bastante cordial. São 350 páginas, e tem piada toda a excitação em volta da edição do Pacheco na Ulisseia, e o Virgilio Martinho começar uma carta a lamentar o facto de ele ter sido apreendido (ainda assim, saiu uma crítica no Diário de Lisboa pelo Eduardo Prado Coelho, que o Pacheco odiava [e ainda queima o Urbano Tavares Rodrigues e o Baptista Bastos, como de costume]).
A certa altura, Pacheco diz:
Quanto a mim considero-me o único escritor Portugês vivo. A minha obra é toda epistolográfica. Cartas e mais cartas. Hoje, com esta é a terceira. Cartas a pedir, cartas a agradecer, cartas de caridade.
Para quem escreveu tão pouco, realmente esta colectânea tem um ritmo desmesurado, e a validade da edição vai além da "coscuvilhice" e do interesse de Luiz Pacheco em denegrir as pessoas, porque são mesmo documentos muito interessantes e excelentemente redigidos.
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