O último capítulo da trilogia de Christopher Nolan à frente dos destinos do Batman chega com um filme que parece passar depressa. Mais negro do que os habituais filmes de super-heróis, não chega nunca a deixar de ser isso, no fundo. Não é nenhum épico em que o espectador venha a sair impressionado com a profundidade do pensamento de Batman, e mesmo a sua destreza é oferecida de modo condicionado. The Dark Knight Rises não é um mau filme para massas, tem cenas panorâmicas que são um deleite, tem acção bem distribuída, tem surpresas, e um fim que é apesar de tudo, em aberto. A sonografia é de topo, bem como o desempenho de Christian Bale (tal como os outros super-heróis, incluindo aqueles que estão por descobrir-se), e será porventura o ponto mais alto da saga do cavaleiro das trevas durante muitos anos.
How I Met Your Mother tenta manter acesa a chama que deflagrou com Friends durante os anos 90, e é possivelmente a melhor série do género, como atesta a popularidade da série, traduzida no número de temporadas para que tem sido renovada. Apesar de uma personagem central miserável, cuja história de como conheceu a mulher, tenta contar aos filhos em cada episódio, as outras personagens, bem como os actores, certamente compensam. O casal que tem um bocado de cada espectador, o solteiro que vive uma vida que é de sonho/pesadelo mas que se tenta sempre corrigir e a rapariga ingénua que tem o comportamento alterado pela cidade contam a sua vida com muitos flashforwards/backs. Não é a odisseia emocional que Friends foi para tanta gente, e a história parece que quase não avançou ao fim de tantos anos, mas de episódios para episódio, é bem escrito, bem humorado e com muitas piadas. Pena não ter outro actor e personagem no centro da história, mas para a duração de vinte minutos de humor ligeiro, é óptima.
Passado em Puerto Rico, The Rum Diary tem cenários muito bons, mas é uma valente seca. Coitado do Hunter S. Thompson.
Apesar de as imagens remeterem para os anos 70, The Black Power Mixtape 1967-1975 é um documentário do ano transacto, com a variante exótica de ser a disposição de imagens de um arquivo Sueco. Narrado por Erykah Badu, foca-se na luta dos direitos dos negros, com Martin Luther King à cabeça. A necessidade de guardarem a história dessa luta foi atendida por uma equipa de jornalistas Suecos na época, complementada com uma montagem recente desses registos. Um exercício curioso, e cujo material merece ser visto ainda hoje.

Utz

Kaspar Joachim Utz colecciona porcelanas de Meissen. Dedicado às peças na Checoslováquia durante a Guerra Fria, só pode sair do país uma vez anualmente. E é por não poder levar as porcelanas, que tem sempre uma desculpa para regressar a casa. Bruce Chatwin, o autor, de porteiro a director da Sothebys, largo tudo para viajar e foi com esses escritos que se tornou famoso. No entanto, Utz é um livro assinável, de 1988. Um investigador do Imperador Rudolfo, célebre pelos tesouros que amealhara, é posto em contacto com Utz, um 'Rudolfo dos nossos tempos'. As mil peças no apartamento não desanimam o investigador, dando achas para os muitos diálogos do livro, que é narrado por um Americano. Em miúdo, Utz pediu um arlequim de J. J. Kaendler que estava numa montra, mas a avó, que lhe dava tudo, negou-o. Deu-o quatro anos depois, quando morreu o pai dele, e agora obcecado, Utz coleccionou e defendia que as peças estragavam-se por não serem tocadas. Politicamente neutro e já sem a avó e mãe, comprava. Em criança estivera em Inglaterra, mas com Hitler, deixou a nacionalidade Alemã. Exibe a sua colecção aos amigos. A policia secreta foi a casa dele para inventeriar a sua colecção, mas o coleccionador ia a caminho de Vichy em França, tratar de uma doença imaginária. Chegado lá, achou tudo muito chato, dormia mal e tinha saudades da empregada Marta. Voltou, mas repetia a viagem todos os anos. Após a morte dele, o museu não sabe onde está a colecção,e os dois amigos dos almoços de trutas encontram-se, ficando-se a saber que ele casou com a empregada agora Baronesa, para não perder a casa, e teria sido ela a partir a colecção. Não era certo que fosse barão, mas tinha tido muitas mulheres. Marta quis ser respeitada, e casou pela igreja com ele uma década depois do primeiro casamento civil, dormindo na mesma cama. O funeral de Utz estava vazio porque ela dera indicações erradas às amantes e aos funcionários do museu quanto à hora e local. É este o início do livro, com a morte. Poucos amigos num funeral, a empregada e um organista substituto que era o sacristão, porque o original não queria acordar cedo. Na relação de Utz com a porcelana, Chatwin dá uma bela noção do coleccionismo, num romance que tem uma forma típica da Europa de Leste do século passado. A posse de objectos foi o que definiu a vida de Urtz, e o que o ligava às memórias de infância, mas isso só concedia um carácter divino à colecção, em vez de algo tão físico. A baronesa estava numa casa simples na aldeia, e talvez as porcelanas se tivessem tornado irrelevantes, como avança o narrador, perante o amor de Marta. Bonito.
Apesar de distar vinte e cinco anos de diferença de Menos Que Zero, Quartos Imperiais é a sequela directa do primeiro livro de Bret Easton Ellis. Clay é agora um argumentista, que depois de vários anos em Nova Iorque, vai a Los Angeles em trabalho. Promete papéis a pessoas com quem se envolve, e torna-se uma sombra daquilo que podia ser. Neste episódio (e com a sua curta dimensão, é o que o livro parece), Rain, tem uma má aura, e tendo ligações a quase todos os antigos amigos de Clay e outros homens, deixa Clay numa cilada. A relação de Rip e Julian mantém a mesma dinâmica, subindo a força das suas posições, portanto as consequências também descambam noutras resoluções. Blair oscila entre ajudas a Clay e o desprezo, sendo talvez a única que o tempo não demonizou. O estilo, mantém-se o do primeiro livro, ainda que seja mais directo ao assunto, o que pode ser uma desvantagem ou desvantagem, consoante o leitor.
A força de Menos Que Zero não pode ser medida aos olhos da sociedade actual, em que inúmeros reality shows e livros se baseiam na personagem Clay e no seu grupo de amigos endinheirados. Escrito aos dezanove anos por Bret Easton Ellis, é um retrato possivelmente chocante de Los Angeles, onde os jovens ociosos só querem saber de drogas, festas e MTV. Com uma narrativa quebrada em parágrafos (cenas), há que dar mérito ao que terá representado aquando o seu lançamento. Clay, que veio passar as quatro semanas de férias de Natal a casa, parece, apesar de tudo o que tem em comum, ser mais atento que o resto do grupo. Tem de lidar com as recordações da família de férias em Palm Springs, com a namorada que deixou ao ir para a universidade, e mais pesado que tudo o resto, com o presente.
Tal como os diversos filmes de culto do cinema negro que homenageia no título, Don't Be A Menace To South Central While Drinking Your Juice In The Hood é algo inconsequente. Questionando as estatísticas dos negros Americanos através do humor, a dupla Shawn e Marlon Wayans cumpre os requisitos, com tiros, acidentes, murros à avó, combinações de armas com sapatilhas, customização de cadeiras de rodas, racismo em todas as direcções e eventos com a igreja e gravidez a surgirem-lhes no dia-a-dia. Nada de memorável, mas entretém.
De Eric Steel, The Golden Gate Bridge Suicides é um documentário que prometia mais do que é. As imagens não têm grande qualidade, e apesar das estatísticas de vinte e quatro pessoas suicidarem-se na ponte de São Francisco em 2004, acaba por se focar em apenas 3 histórias. Familiares e amigos de pessoas que saltaram, pessoas que impediram, imagens de alguns a suicidarem-se e dos momentos que antecedem a queda, compõem o quadro destas tragédias.