A história d'A Planície mistura o clima político nos anos 50 com a imprensa Portuguesa, perdida em Moura, no Alentejo.
Começa com uma equipa reduzida e com as melhores intenções culturais, que levam a publicação a ter grandes nomes das letras Portuguesas entre os seus colaboradores mais locais.
A pesquisa exaustiva, bem como a classe linguística de Alberto Franco, tornam a história ainda mais apetecível, que traça quase linha a linha o desenvolvimento deste histórico jornal quinzenário,que vem depois a incluir o Ângulo, o suplemento literário d'A Planície, para assim dividir os conteúdos regionalistas e artísticos.
Com 13 anos e 272 edições analisadas, para além dos depoimentos há reproduções da poesia e ficção que era exclusiva, (ainda hoje continua a ser explorada) da publicação Alentejana.
Homenagens e refrescamentos da memória pública deste nível são sempre bem-vindos.

Que coisa demodé, os cravos. Bom feriado, principalmente por ser 25 de Abril.

Organic Anagram, Inverno 2010.
Meshuggah - Bleed

Finalmente saiu o video do single do ultimo album, Obzen.


Segundo episódio. Peço desculpa pelos cortes no som, mas surgiram na conversão, pelo que não tenho maneira de os corrigir. Surpreende-me, porque foi todo gravado numa peça, não tive de fazer colagens nenhumas.
Neste episódio aparecem vinys de Fântomas, Judge, NYHC, Black Flag, Hatebreed e Between The Buried And Me.

Devia ter sido posto hoje no site da Playcloths, mas a curiosidade acerca do novo single de Clipse mandou o site abaixo. O artwork de “Til the casket drops” foi desenhado por Kaws e ainda não foi mostrado.
You're just Original Fakes while I am the Kaws.

Entretanto, já está disponível no site do Re-Up Gang.

William Spencer, divisão artes circenses.
Video cortesia da Playboy com o Pharrel Williams a demonstrar que, se não é pelo que lhe metem à frente, só gosta de parvoíces.

Enquanto eu continuo a acabar a tese (e por isso sem tempo para updates), os xKingdomx continuam em tour pelos Estados Unidos. Esse é o segundo video que a Davin fez. Para quem não leu a entrevista que tive aqui com ela, está aqui.

As capacidade descritivas de Nikolai Gógol, assinaladas em O Retrato, são um deleite.
Tcharkov, um pintor, compra um quadro num mercado, cujo olhar perturbador tem um efeito maléfico naqueles que lhe olham nos olhos. Quando o senhorio e um inspector da policia lhe vão cobrar a renda atrasada, mil moedas de ouro (que ele já desejara num sonho), aparecem-lhe. Com elas, compra tudo o que sempre quis ter, incluindo a fama, que lhe trouxe depois trabalho, a retratar os ilustres de São Petersburgo.
Ao ver um quadro de um conhecido que, ao deslocar-se para Roma, dedicou-se por inteiro à arte. Apercebe-se das diferenças qualitativas para os seus, que eram já profundamente elogiados e procurados, e inicia uma relação de fúria com a pintura, comprando quadros apenas pelo prazer de os queimar.
A divisão para a segunda parte refresca a narrativa, recomeçando com uma descrição realista do bairro de Kolomna por parte de um pintor, seguindo para uma inventiva descrição dos infortúnios que se abateram sobre as pessoas que se cruzaram com os cidadãos que tiveram contacto com uma figura estrangeira, pintada pelo seu pai. O retrato dessa personagem é, claro, aquele que desencadeou a fama e miséria de Tchartkov. Final brilhante.

Andrei Tarkovsky morreu aos 54 anos, exilado em Paris, com um cancro, tendo realizado apenas sete filmes, sendo O Sacrifício o ultimo, rodado na Suécia.
Intemporal, é uma viagem pela alma, entrando e saindo de cada personagem, como se o espectador estivesse munido de uma lanterna, para olhar para onde bem lhe apetecer.
A primeira cena, a água e a montanha, o passado e futuro lado a lado, análise e moral, o longe e o perto num plano soberbo com pai e filho a encontrarem-se.
Esteticamente soberba, a paz, as deambulações são traçadas de uma genialidade incomum, um conjunto de monólogos e constatações, que vão do introspectivo à posição desajustada que cada um ocupa na sociedade. A filosofia e Nietzsche marcam presença, voltando na voz do rapaz, no final do filme.
O falador e o cúmplice, ouvindo-o, de cuja face só se tem conhecimento, quando o tema é a morte. Da afecção passa para o sangue, do verde do campo para o preto e branco citadino. Alexander projecta no seu filho o medo que sente pela falta de espiritualidade do mundo. O antigo actor, professor e filósofo, agora na reforma, vê-se aturdido com a alteração no seu modo de viver.
Aos 27 minutos existe uma disposição das personagens em cena genial, com três graus de profundidade e um quarto, alheio ao assunto, escondido. Acaba com os dois homens sentados a falar do futuro. Nas mulheres, vemos-lhes a cara, no momento em que aparecem em cena, nos homens só depois de os ouvir discursar, distantes da câmera.
O cair, rastejar e levantar-se sozinho acaba por ser um resumo do filme, ainda que o final seja a inconsequência de prolongar esse movimento. Explora-se a relação entre o carteiro Otto e o reformado Alexander, sendo na verdade o confronto dos passados de ambos, e não o que eles são no presente.
A partir do climax envolvente da sala onde a familia toma conhecimento da guerra, o filme perde parte da magia, apenas iluminado por belos planos, as luzes amarelas entrelaçadas naqueles a preto e branco, até Alexander queimar a casa. O final simbólico do rapaz, que prevalece a tudo, plantando e cuidando do futuro é belíssimo.

Um dos primeiros livros de Dostoyevsky (1848), Coração Débil é a história de Vassia Chumkov, que chega a casa e surpreende o amigo Arkadii Ivanovotch, revelando-lhe que se vai casar. Depois da euforia de conhecer a noiva na véspera do ano novo e sonhar com um futuro, Vassia tem de retomar o trabalho que aceitara do seu mestre, e à medida que o limite do prazo chega, ele vai ficando mais afectado, e a sua jovialidade dá lugar à desconfiança.
Passou o tempo que devia ter usado para acabar o trabalho, entretido com a noiva, e agora vê como real a possibilidade de desapontar o seu mestre, incapaz de finalizar o trabalho que tem em mãos.
O pequeno papel de Petia, irmão da noiva e figura cândida que testa os limites da misericórdia é uma aparição quase divina no meio do caos em que os amigos se vêm envolvidos. É uma descrição linear, encantadora na simplicidade e pureza das emoções. Em termos de forma, tem a curiosidade de na penúltima página, descobrirmos que era Arkadii a personagem principal. Muito bom.

Juventude do Polaco Joseph Conrad é uma descrição a bordo de um navio, tema querido a Josef Konrad, dado o seu passado marítimo antes de se fixar em Inglaterra aos 30 anos. Extremamente detalhada e com grande precisão na definição dos termos técnicos, densidade assinalável. O ritmo intenso das suas palavras sofre, no entanto, de um problema na apreensão do texto por parte deste leitor. Depois de obras maiores como Moby Dick de Melville, 500 páginas em circulo sobre a caça à baleia e Hemingway, não tenho paciência para descrições da vida no mar.

Dostoyevsky começa O Sonho de Um Homem Ridiculo por constatar em como é doloroso ser o único a saber a verdade, na perspectiva do narrador. Reconhecendo a condição de criatura ridícula, alivia de certo modo os temores interiores, dado que no exterior é tudo desinteressante, tudo se torna indiferente, não necessitando de pensar para existir. O homem deixa-se ficar sentado num cadeirão, a pensar, sereno na sua condição. O estado misantrópico toma lugar, até que ele toma a decisão de se suicidar com um tiro. A três de Novembro, vê um rasgo de verdade, que lhe traz uma nova vida, depois de deambular naquela além da morte.
O narrador toma contacto com o amor noutro planeta, onde não tinham desejos. Uma sociedade justa, que ao acordar, o faz querer viver a utopia que imaginou. Então, com a mentira incutida, afundando-se no individualismo, regressa ao sentimento inicial, onde a dor é beleza. Ao acordar do sonho, distancia-se dos sentimentos e promove a verdade, e apesar de continuar a ser troçado, a humildade fá-lo aceitar a verdade e não o destino. Uma rasgo de génio.
O livro traz ainda outra história mais curta, mas igualmente boa, onde ao alugar um quarto a um conhecido da cozinheira, o narrador vê-se com um novo inquilino entre mãos. Com uma forma peculiar de contar a história d'O Ladrão Honesto, o inquilino toma as rédeas e conta a história do referido ladrão, de que ambos haviam sido vitimas, procurando a misericórdia para com infelizes seres que roubam inadvertidamente, vitimas da sua condição.

The General ou o estapafúrdio Pamplinas Maquinista em Português, de 1926, é tanto o ponto alto como o inicio do declínio de Buster Keaton. Ainda que estando pouco para lá dos 30 anos, o seu inicio no vaudeville e no cinema havia sido precoce, e anos depois, com o aparecimento do som, parte da magia desaparecia, limitando-se ele a criar o seu insucesso para os ecrãs durante largos anos.
O filme é uma transposição da imagem de Keaton, elegante e com um humor fisico que não entrega a comédia, envolvendo-a na seriedade da Guerra Civil Americana.
Keaton, a fazer de anti-herói que tem de trabalhar no duro para ser reconhecido, passa por perseguições nos comboios que são insanamente bem preparadas e resultam na perfeição, acaba integrado no exército que o negligenciou, como tenente. Uma dessas cenas, em que o comboio General cai na ponte a arder, bem como a batalha que se segue, dando uma nova dinâmica ao filme, são ouro cinematográfico. (A cena do comboio seria mesmo considerado a mais dispendiosa do cinema mudo e prova que por mais efeitos especiais que se usem, só há uma forma de tirar verdadeiras emoções)
A perfeição estética consagrada neste tratamento de imagem, bem como a banda sonora, os cenários e os actores (convincentes desde Keaton até aos figurinos), são motivos para esta obra fulcral, de um mestre a dominar todas as categorias da arte.
Uma coisa que reparei, é a quantidade de passagens de desenhos animados que são retiradas deste filme.

João Céu e Silva teve vários encontros em Espanha e Portugal com o escritor Ibérico (olhar de soslaio) para este Uma Longa Viagem com José Saramago editado pela Porto Editora.
Os principais tópicos são o PCP e o Nobel. Depois abrem-se aspas nas respostas e tem-se entrevistas com pessoas que se cruzaram com o escritor, uma ideia interessante mas que quebra o ritmo, por vezes.
A forma de escrever, o que foi mudando com os anos, análises dos livros, bem como perguntas mais pessoais como o facto de não ter tido filhos com Pilar ou o relacionamento com outros escritores, são outras das questões que ocupam as cerca de 400 páginas. De um modo geral, é um livro virado para o passado antes da mediatização, numa tentativa de humanizar um produto, que quer se queira quer não, é o maior nome das letras Portuguesas da actualidade, aos olhos do mundo.
Tem piada numa secretária ao lado da mesa de trabalho, os únicos livros serem a Bíblia e o Corão, como se pode constar numa fotografia.


Durante 20 dias, dois jornalistas atravessaram os Estados Unidos de Los Angeles a Nova Iorque, de autocarro. Isto são as filmagens que conseguiram reunir e as pessoas que conheceram no autocarro, numa história muito inspiradora. Vou fazer uma viagem similar este Verão, ainda que com uma rota diferente. O final, com aquilo que as pessoas que eles conheceram andam a fazer, é muito engraçado. Chama-se The Great American Detour.

Por ocasião do concerto de amanhã no Porto de Stephen O'Maley, fica aqui este apontamento, que é possível ler na Wire, quatro partes exclusivas de entrevistas feitas para a edição que os Sunn 0))) foram capa.
Os colaboradores entrevistados são Oren Ambarchi (que os influenciou), Jessika Kenney que emprestou a voz, a violinista Eyvind Kang e aquele que mais destaque tem, o Húngaro Attila Csihar, vocalista agora regressado aos Mayhem.

Monoliths & Dimensions
sai dia 5 de Maio.


Primeiro episódio duma secção nova onde falo sobre alguns vinys que tenho. Neste aparece Burzum, Brujeria, Sunn 0))) com Boris, Mobb Deep e Necros.

Foi aqui manifestada por mim, uma certa surpresa pelo reconhecimento concedido a Godard, no entanto, com o magnífico Bando à Parte, é impossível não tecer elogios. É um filme em homenagem aos anos 40, com dois maltrapilhas que se dedicam a engendrar um plano para um assalto, fazendo uso de Odile, uma jovem que balança entre o desinibido e o envergonhado, soberanamente transposta para o ecrã por Anna Karina, a musa e mulher de Godard. Com os aldrabões a revezarem-se em cena, quem se destaca é mesmo ela, até ao ponto alto do filme, quando todos repetem a coreografia. Brilhantes jogos mentais, com destaque para a cena do quase-minuto de silêncio. O lirismo do texto adaptado, com a sumptuosidade das interpretações, com o papel ambíguo de Franz e Arthur, que ora cedendo ao encantamento de Odile, ora repudiando-o, desafiam a percepção do espectador, desafiando os limites do relacionamento entre eles os dois e com a estudante de línguas, nunca se decifrando quem está do lado de quem. O desenlace racional num filme atípico é a coroa inesperada.

Apesar da negritude, Vicky Cristina Barcelona não tem Woody Allen a tentar fazer um filme Americano noutro território, a maneira de filmar é bem Europeia.
Começa com vários traços dos filmes antigos de Woody Allen e a principal disparidade será o silêncio que pesa sobre o desenrolar do filme. A narração devia estar mais presente, deixando o filme entregue a demasiados actores, a história não desenvolve em nada e com tantas personagens a dividirem o ecrã, acaba por não ir em nenhuma direcção.
Javier Bardem controla bem as turistas parvinhas, cujos diálogos parecem anúncios de televisão, o que soa muito estranho, tal como o Castelhano de Bardem e Penélope Cruz, que neste contexto é mais embaraçoso que o Inglês deles. Junte-se a quantidade de vezes que se ouve Bardem a dizer "speak English" e a musica inicial (horrível), que nos faz querer deixar o filme, e está o tormento resumido.

Uma iniciativa da Fnac e da Guimarães Editores, Breve Antologia da Poesia Portuguesa está disponível nas lojas da multinacional a preço reduzido. Desde D. Dinis, Antero, Cesário Verde até Eugénio de Castro, Mário Sá Carneiro e Florbela Espanca, percorrem-se 800 anos de poesia em Português neste pequeno volume, contando cada poeta com uma página, apesar de se estender o espaço noutros.
Os mais impressionantes serão mesmo Camões, com "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades", também exaltado nos versos de Bocage. Sá de Miranda, João de Deus, o "Miserável" Gomes Leal, Guerra Junqueiro, Camilo Pessanha e claro, a "Tabacaria" de Fernando Pessoa. Boa forma de entrar na poesia.

Pela maneira como começa, Inside: Straight Edge da National Geographic, até é positivo. Obviamente que análises dos media a culturas minoritárias são sempre falsas representações de uma realidade ou então a versão das pessoas com quem se cruzam. A parte mais interessante é quando alguns contam o que os levou a tornarem-se straights. A partir do momento em que deixam Boston e passam as filmagens para Reno e Salt Lake, é como montar uma tenda de circo e deixar os palhaços andarem de um lado para o outro. A mensagem é passada, mas não da melhor forma.

Serve este post, bastante diferente do habitual deste blog, para pedir desculpas. Estou a acabar a dissertação, e como tal, não tenho tempo para ler nem ver filmes. Obrigado por continuarem a passar por cá, e a quem está na minha cidade, é bom voltar a estar com todos.
Primeiro, segundo e terceiro link.
O video posto em cima é retirado do Chaos vs Cosmos, do meu amigo Bruno.

20



A final do Fight Klub, um abuso verbal de 20 minutos.

A Wallflower Press com a divisão Short Cuts continua a editar livros muito úteis dedicados ao cinema, indicados para académicos, como para apaixonados do cinema.
O livro dedicado ao Italian Neorealism é escrito por Mark Shiel do King's College da Universidade de Londres. Investiga a fundo os principais títulos deste género que surgiu depois da 2a Guerra, cujas características unificadoras são o transporte da câmera para a rua, para fora dos estúdios, com personagens genuínas em prol de actores conceituados e uma luz natural para envolver o espectador e levá-lo a viver os dramas de perto.
Os principais realizadores, como Roberto Rossellini, Vittorio de Sica, Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni são todos analisados ao pormenor, em termos de filmografia e na sua envolvência com o género, do pós-guerra até ao que fizeram com as carreiras nos anos que se seguiram. Tal como o neorealismo, é tudo feito sem grandes montagens ou efeitos, numa história que vale a pena ser lida até por quem nunca viu filmes como Roma, Cidade Aberta ou O Ladrão de Bicicletas. A carga emocional e a objectividade documental estão presentes também nos testemunhos que Shiel cita, felizmente esgotando os paralelismos quando chega à austeridade.

O facto de este blog ter chegado ao seu fim, tratava-se, claro está, de uma mentira de 1 de Abril. Ainda pensei em dizer bem do Câmara Clara, mas já estaria assim, a ir longe de mais.

Só para fechar o blog, que com este post chega ao fim. Tudo do Times, dez one hit wonders da literatura, dez segundos livros que surpreenderam e dez segundos livros amaldeiçoados, ou seja, fracos.
Scary Movie 4, péssimo, Rocky Balboa, mais ou menos.
O potencial disto é ilimitado.