Não que tenha iludido alguém, mas Despertar das Trevas é aquilo que parece. Claro que só cai na esparrela quem quer, mas eu fi-lo de bom grado. Apesar de alguns momentos prometedores, o estilo neo-documentalista acaba por cair nos mesmo buracos que os filmes que copia já não foram bem sucedidos. Passado principalmente em Itália, é a busca de uma filha pela alma da mãe, possuída por algum demónio, com a ajuda de dois padres aplicados e convencidos dos poderes do exorcismo. O que funciona ou deixa de funcionar é irrelevante, porque o filme simplesmente acaba, sem mais nem menos. E dito isto, fico sem vontade de escrever mais.
Um filme de família com um animal no centro da história não é a premissa mais apetecível, mas War Horse, de Steven Spielberg, consegue ser um filme bastante interessante, até com alguns momentos mais melosos de cinema comercial. O cavalo vai passando de mão em mão, com a guerra com elemento motivador, e como cenário, e todas as pessoas que tomam contacto com ele, cuidam-no, até o destino o levar de volta ao primeiro que lhe mostrou carinho. É uma história engraçada, para um público mais velho e com outras ambições que os leitores deste blog, no entanto, não deixa de valer a pena visualizá-lo.
Tendo nascido em Paris, Vahram Muratyan mudou-se durante uns meses para Nova Iorque para viver uma experiência diferente, e em paralelo ao trabalho como designer gráfico, começou um blog que opunha duas situações similares em cada uma das capitais. O livro que daí resulta é um olhar pormenorizado ao que caracteriza as cidades, muitas vezes mostrando as oposições, noutras, as equivalências. As ilustrações são minimais, mas revelam um olhar muito atento aos detalhes que tanto fazem rir como nos surpreendem por serem tão óbvios que nem reparamos neles. Paris versus New York resulta muito bem em livro e serve como entretenimento e referência futura.
Parte catálogo de uma exposição, parte portfolio dos artistas que representam, Over It & Co - Volume One foi editado por uma agência e é o primeiro livro lançado, como o nome indica. Limitado a cem cópias, o conteúdo é preenchido por oito artistas, que vão da ilustração até colagens e tatuagens.
O Artista é uma história triste, como o cinema mudo parece ser relembrado. Mas tal como nos filmes dessa época, pré-modernistas, o final tinha de ser esperançoso e deixar a audiência bem-disposta, que entrava no cinema para ver entretenimento, e saía contente ao ver arte, ou seja, o inverso de hoje em dia. Jean Dujardin, o melhor jogo de sobrancelhas desde que o Faroeste viu o vapor esvair-se, é um actor famoso e admirado, de quem toda a gente quer um pedaço, incluindo uma jovem que acaba por escalar na ordem do estúdio de filmagens, até se sobrepor ao artista, agora caído em desgraça. Até aqui nada de novo. E até ao fim também não. Mas é bonito, é uma boa experiência ver um filme com outro ritmo. Eu sou um confesso amante dos filmes mudos, por isso é difícil ficar rendido a cem por cento, no entanto, é claro que é superior a 90% do que se faz hoje em dia, sendo um filme Francês de Michel Hazanavicius, rodado em Hollywood ao lado dos blockbusters. É bom, é refrescante, mas é pálido em comparação com o colorido de muitos dos filmes que busca refrescar passados quase cem anos.
Para começar, Hugo é visualmente magnífico. Scorsese arranca o melhor uso do 3D, e a história está bem adaptada. Todo aquele mundo que parece surgir nos primeiros minutos, desaparece, para ser depois acerca de seis personagens, sendo o mundo em redor sem personalidade, cujo passado e futuro projecta ansiedade num autómato. Claro que muitas das coisas com que tomamos contacto são minadas pelas expectativas, e eu julgava que as referências ao cinema inicial iam ser mais fortes, e esperava uma maior interligação entre as referências ao tempo e à profissão de Hugo. O grande contra do filme para mim, é ter uma das pessoas que eu mais odeio no filme, o tipo que corrigiu uma jornalista e enviou cartas aos amigos para passarem a tratá-lo por Sir Ben. Para quem é tão orgulhoso, até mudou o nome Indiano com que nasceu. Mas isto são coisas que eu posso dizer num blog pessoal. Que isso não retire valor à adaptação do filme, que nesse valor, é muito bem conseguido. Uma curiosidade que vi, nos minutos iniciais, James Joyce aparece sentado num café ao lado de Dalí.
Num mundo onde as pessoas pagam tudo com tempo, In Time é um conceito interessante, mas o filme é sem sal e sem personalidade, se é que isso é compreensível. Faltam-lhe condimentos.
Das pessoas por trás de Paranormal Activity e Saw, Insiduous é igualmente chato. Um filho está em coma com a alma noutra dimensão e os pais tentam salvá-lo, é tão desinteressante como parece.
De Jerzy Skolimowski, Essential Killing tem Vincent Gallo como um soldado que é apanhado no deserto após atacar três soldados, e é levado para uma base secreta, onde é submetido a torturas, o que é contraste com o silêncio que impera no filme. Já na Polónia, terreno que ele desconhece, consegue escapulir-se e tenta sobreviver a todos os perigos e pessoas que encontra. Decente, boa fotografia e montagem.
Como Não Escrever Um Romance é um livro de humor/didático, que fazendo piadas, ensina realmente. Os erros mais comuns e os que podem ser cometidos por quem quer assemelhar-se mas lhe falta a bagagem, são dados através de exemplos de prosa mal escritos, para depois serem explicados. Os clichés vão desde o nome a evitar para os gatos das personagens, até à forma de abordar um editor, passando pelas maneiras erradas de descrever uma cena ou o passado de uma personagem. Mesmo para quem não tenha intenções de escrever, ajuda a compreender alguns erros elementares em que um tipo de escrita ligeira pode cair, fazendo uso de elementos cómicos pelo exagero.
Nanni Moretti consegue prestar um serviço à igreja, que sai com uma bela luz reflectida sobre ela neste filme sobre a sucessão após a morte de um Papa. O candidato eleito, por entre os cardeais seleccionados que não querem a responsabilidade, acaba por não estar à altura dos céus, sendo mais terreno nas suas aspirações. Entra um psiquiatra pelo colégio dos cardeais, Moretti, que tenta primeiro compreender o eleito, mas que depois tem de entreter os cardeais, enquanto o Papa anda desaparecido. Habemus Papam só podia ser Italiano, com o ambiente e boa disposição que eu cresci a admirar e para o qual vou ter sempre tempo.
Documentário de Michael Rapaport sobre o grupo de hip hop, Beats, Rhymes and Life - The Travels Of A Tribe Called Quest tem música original de Madlib, e claro, muitas músicas da carreira dos ATCQ. O cansaço de alguns dos quatro membros da música é o ponto de partida para revisitar a maneira como cada um tomou contacto com o hip hop, e depois se começarem a juntar para tentar fazer algo. Tem entrevistas exclusivas para o documentário, mas também muitas imagens de arquivo, ficando uma luz positiva da estranheza que transpirava das roupas e atitude do grupo que encontrou paralelo nos De La Soul. Outra era também, no fim dos anos 80, inicio dos anos 90, onde havia a necessidade de divertir com o hip hop, mas com alguma consciência os problemas de cada um, auxiliados de samples de jazz e soul. O final é algo manchado pela parte mais agridoce da reunião dez anos depois do fim em 1998, com os problemas de saúde de Phife. Quanto ao documentário, nada a apontar, e é uma boa homenagem.
Adaptação de Fabio de Agostini do livro de Bertha Uhland, Red Nights Of The Gestapo é um filme de 1977, em que um conjunto de Alemães planeia negociar a paz com os Ingleses em vez de apoiar Hitler, mas o coronel encarregue de os vigiar contrata mulheres para seduzir os traidores. A história tem antecedentes reais, pois em 1941, Rudolf Hess, o secretário do partido Nazi, voa para Inglaterra para tentar um acordo de paz, ao mesmo tempo que se tentava o assassínio de Hitler. No filme, a mulher ocupa uma posição central pois tem a chave da solução, ao mesmo tempo que seduzem toda a gente. O uso de Inglês em cima das interpretações é dúbio, mas é um filme com uma estética muito própria. Como o nome indica, é sobre as movimentações no partido Nazi, com umas partes eróticas à mistura, sendo um filme bastante estranho, mas curioso.
Apesar de ter sido lançado em 2008, as aventuras deste documentário do artista David Choe continuam a subir na escala. A fama dele deve-se tanto ao pagamento pelas acções do Facebook (que o tornam o artista mais bem pago de sempre), ao vício do jogo (vive em Las Vegas nos dias de hoje), como ao talento para a arte, em que ele tem total confiança. Em Dirty Hands - The Art & Crimes of David Choe anda por África a desbravar mato, vai pintando e convivendo com os indígenas, passando a cena depois para Los Angeles, onde outros artistas dão a opinião sobre ele, geralmente com histórias mais estranhas. O passado familiar, a paixão pela bateria e por roubar, o ódio pela escola, a prisão no Japão, as dificuldades em agradar à namorada são alguns dos temas abordados. Podia ser mais bem montado, com mais tempo para gravar outras coisas, mas é relevante.
Um General Manager de uma equipa de baseball que vê constantemente roubados os seus melhores talentos, tem de procurar uma alternativa numa liga que é injusta e não protege os clubes mais pequenos da competição. Um jovem licenciado obcecado com estatística tem a chave, estando tudo nos números e no que cada jogador é capaz de fazer com o seu desempenho, em vez do preço da sua reputação. Alguns jogadores são dispensados, outros vêm a carreira ressurgir, tudo em prol da equipa. O talento de Brad Pitt e da personagem que o inspirou levam a que seja chamado pelos Red Sox, rejeitando a oferta milionária, mas estabelecendo uma nova alternativa que trouxesse sucesso à equipa, chamada Moneyball.
Narrado por Jeff Bridges, The Cool School é em documentário sobre arte, onde não há uma conclusão. O foco é em Los Angeles, em oposição a Nova Iorque como centro da arte Americana, onde um grupo de artistas ignorou a história da arte e se fixou na costa Oeste. Alguns dos nomes envolvidos são Robert Irwin, John Baldessari, David Lafaile, Ed Ruscha, Robert Irwin, John Mason, Larry Bell, Dennis Hopper e Frank Gehry, com o propósito de ter uma ambição cultural depois do expressionismo abstracto. Arte moderna era obscena e comunista para eles, e grande parte da aproximação passa por singularizar elementos da pintura, que ou acrescenta a ela, ou retira coisas. A restrospectiva de Marcel Duchamp em Pasadena por Walter Hopps é um dos pontos centrais na criação de uma nova cidade da arte, bem como o envolvimento de Irving Blum, também da Ferus Gallery.
Documentário do ano passado, rodado após os sete meses como apresentador do Tonight Show. A Conan O'Brien foi oferecido um novo horário depois da meia noite, para voltar a acomodar Jay Leno no horário anterior. Depois da indemnização, Conan não podia aparecer nos meios de comunicação durante meio ano, então começou uma digressão pelos Estados Unidos com 44 espectáculos ao vivo. Conan O'Brien Can't Stop começa com os ensaios das músicas e do resto do espectáculo, até que passa a imagens de algumas das datas. É um trabalho cansativo, mas é engraçado de ver a maneira como ele interage com toda a gente que o rodeia.
Escrito por Samuel Beckett e com Buster Keaton, Film é um filme mudo de curta duração, a preto e branco. Um homem aterrador que corre ao longo de um muro, entra num prédio e fecha-se dentro de um andar quase vazio, com uns animais pequenos e as paredes baleadas. Tapa o espelho e tenta que não o vejam da rua, expulsando os animais, que tentam sempre regressar, ficando o espelho destapado, e ele rasga uma figura desenhada. Keaton contempla o espaço vazio e remexe num envelope com fotografias suas, que rasga, uma por uma. Com as memórias apagadas, o espelho encoberto, e todos os objectos tapados, ele olha em frente para a câmara, ele próprio, e assusta-se com a figura. A câmera é quase uma personagem, num exercício muito curioso.
Uma espécie de versão Mexicali de Orgulho e Preconceito, From Prada To Nada é sobre duas filhas de um milionário Mexicano em Los Angeles que morre e afinal estava na bancarrota. Mudam-se para uma parte diferente da cidade e têm de enfrentar os preconceitos que têm da sua própria cultura. Tem de se adaptar a uma vida mais pobre, com mais gente em pouco espaço. É leve e algo chato no desenvolvimento.