Uma sugestão que me foi dada, War Photographer de 2001 é um documentário de Christian Frei. O objecto, é a carreira de James Nachtwey e a entrega, até pela solidão a que se submete. Começa por um trabalho em Kosovo, bombardeada pela guerra, surpreendentemente calmo.
Com uma micro-câmara instalada na máquina, é possível ver a insensibilidade dele ao ir atrás de uma mulher a chorar quando ela volta a casa, agora destruída. Não aprovo isso, mas é a profissão. Ainda que ele pareça uma sombra, acho que é uma afronta perturbar assim as pessoas. Motivado pelo perigo e pelas emoções, vai para a Indonésia, onde famílias vivem entre as linhas do comboio. Os miúdos de Jacarta que não vão à escola e passam o dia a recolher coisas na lixeira e lá está a objectiva de James para o captar. Ele põe a câmara no centro da acção, e com isso o corpo, relatando as doenças que apanhou, as lesões, mas apesar disso, ele acha que continua a valer a pena por mostrar a vida das pessoas. Vale a pena conhecer esta vida.

Um desempregado acha que algumas pessoas mais cultas deviam estar absolvidas de certos crimes e começa uma nova vida como assaltante. Passa a vida no metro a roubar carteiras, arriscando-se a ser preso. Realizado em 1959, Pickpocket de Robert Bresson não é seguramente um filme de acção, é bastante lento, revelando a sua beleza nos argumentos a favor do crime como encorajamento para levar uma vida mais feliz. Tal como o protagonista Michel, o filme é inteligente.

A adaptação do livro East of Eden de John Steinbeck de Elia Kazan com James Dean é tida como um dos grandes momentos do cinema. Um dos três capítulos cinematográficos de Dean, conhecido o nível para que ele elevou o papel de rebelde, em paralelismo com a sua própria vida. Dean vai procurar a mãe que lhe tinham dito morta como forma de tentar acalmar a efervescência juvenil, mas descobre nela uma equivalente. Pede-lhe ajuda nos negócios, mas acaba por abrir uma grande fissura na familia.
O final é bom, deixa tudo em aberto, não descura o que aconteceu mas é esperançoso, e a música de Leonard Rosenman, bela. Clássico a todos os níveis.

Quem não sabe, já devia saber.

Um dos sites para onde escrevo, orgialiteraria.com, tem um texto novo em destaque. Se gostam de literatura, guardem-no nos favoritos, aparecem sempre coisas interessantes.

Stachka ou Strike foi o primeiro filme de Sergei Eisenstein, que precedeu O Couraçado Potemkin. De 1925, mudo e profundamente imerso na ideologia comunista, era a primeira parte de um projecto maior. O principal tema é a organização do proletariado sob a tutela de Lenine, incluindo uma revolta em 1903 por parte dos trabalhadores de uma fábrica. Várias vezes aparece a comparação entre animais ao tratamento dado aos operários. Um testamento ao colectivismo, brilhante e intenso do ponto de vista cinematográfico.

Tido como o filme que começou o movimento do cinema moderno Brasileiro em 1955, a cópia de Rio 40 Graus de Nelson Pereira dos Santos que vi tinha a imagem muito deteriorada. Pela qualidade do som, parece que foi adicionado depois, demasiado cristalino e desajustado das bocas, efeito algo desagradável.
Nesta história sobre a vida de cinco rapazes de uma favela no Rio de Janeiro, acaba por não passar uma grande imagem do país, pois entre as vendas que fazem, ocupam muito do tempo a enganar turistas. O uso de actores amadores contribuiu para o realismo, que é a arma mais forte do filme.

Sem nada que fazer durante o Verão, duas amigas decidem passar um filme todo a falar de coisas absurdas. Le Rayon Vert realizado por Eric Rohmer não é exactamente isto, mas o que fica por saber é irrelevante. Deprimida, uma delas tenta procurar o amor por Paris, depois de muito caminhar, é em Biarritz que o vê. É ofensivo que tenha o título baseado no livro de Julio Verne.

There Will Be Blood tem a época da corrida ao óleo como fundo. Depois de ter um palpite sobre uma nova zona para explorar petróleo, Daniel Plainview trata de se familiarizar com a área e compra-a, dizendo à população os planos de exploração e das vantagens que a população de trabalhadores e as suas famílias iriam trazer. Há uma explosão e o filho dele fica debilitado. Culpa toda a gente por causa disso e os antigos donos da fazenda sentem-se traídos e que podiam ter feito melhor negócio. Revela mais tarde que H.W. não era filho dele, apenas uma forma de ele conseguir comprar terra, o que abre um fosso sobre a ganância de Daniel, bem como da implicância da religião para as pessoas. Bom filme, grande interpretação de Daniel Day-Lewis, ainda que muito similar a Bill The Butcher em Gangs of New York (o que não é menosprezo nenhum), bem como um competente Paul Dano.

Mallrats de Kevin Smith (que é também Silent Bob) foi feito em 1995, a seguir a Clerks.
Depois de perderem as namoradas, Brodie e T.S., decidem passar o tempo a divertirem-se no centro comercial, até encontrarem uma missão, acabar com uma transmissão televisiva do concurso apresentado pela pai da namorada de T.S. Duas personagens conhecidas, Jay e Silent Bob, que só se tinham estreado no ano anterior em Clerks juntam-se a eles. Young, dumb and fun, com punk rock à mistura, para este tipo de humor descomplexado, entretém.

Não há regras matemáticas que demonstrem como adições de números positivos conseguem dar um resultado negativo. Dirigido por Abel Ferrara em 1996, The Funeral tem entre os actores, gente como Christopher Walken, Benicio Del Toro, Vincent Gallo, Chris Senn e Isabella Rossellini. Passado em 1930, este retrato da Mafia Italiana em Nova Iorque sai um bocado desfocado, é francamente mau, sem nexo e desinteressante.

É uma sensação óptima descobrir um grande pedaço de cinema que desconhecíamos. Realizado por Sidney Lumet em 1957, 12 Angry Men começa na sala de audiências de um tribunal, com o final do julgamento, para o júri do homicídio deliberar. Se decidirem que o rapaz é culpado de matar o pai, ele vai para a cadeira eléctrica. É preciso os 12 votarem para ele ser condenado, mas há um dos membros do júri que acredita que ele é inocente, ou pelo menos que merece que eles discutam o caso pois teve uma vida difícil e o poder deles sobre o seu destino não devia ser tomado de forma levianda. Cada um começa a dar a sua impressão sob o caso, sempre impregnada com os seus passados e aquilo que viveram. No fim, todos dão o rapaz como inocente, apesar de tal como o título indica, as emoções se exaltarem.
Tirando a cena inicial do fim do julgamento, é todo passado na sala do júri, com uma progressão empolgante. É um filme muito inteligente, de topo mesmo.

Fartos de ser injustamente tratados, os criados da casa do advogado Roberto formam um sindicato e expõem as reivindicações ao patrão que prontamente os despede a todos.
O Tio Bernardo que fez fortuna em África, volta a uma Lisboa moderna passados 20 anos, pensando que o sobrinho Amadeu está casado, rico e com uma grande casa quando não tem nada. Para ajudar o amigo, Roberto tem de se passar por criado, a ser constantemente humilhado. Em vez de aguentarem durante 3 horas, vão ter de ficar com ele até ao fim do mês por causa do adiamento de uma reunião. Reinstalados, todos os empregados têm de se habituar à nova ordem.
O Costa de África de João Mendes tem bastante crítica política, particularmente na questão das colónias, tendo até alguns comentários bastante racistas. A última meia hora tem dos duplos sentidos mais geniais do cinema Português, que só por si já é território bem povoado. Vasco Santana como o Tio Bernardo Costa e Ribeirinho como Roberto são de outro planeta.

Tem quase quarenta minutos esta entrevista mas vê-se muito bem, é uma conversa informal com o Pharrell onde ele fala do sucesso, tanto na musica como nas outras coisas em que está envolvido. É uma conversa honesta, onde ele dá destaque a todas as pessoas que o rodeiam e fazem o trabalho de promover e de conseguir pô-lo no nível em que está. Bastante inspirador, com tantas nomeações nos Grammy, ainda conseguir ter marcas de bicicletas, a Billionaire Boys Club, entre tantas outras e ainda criar plataformas para o público como o Artst e o Kidult.

Depois de Fear and Desire e Day Of The Fight, fica apenas a faltar-me ver Killer's Kiss para completar a filmografia de Stanley Kubrick. Fear And Desire de 1953, é na realidade um filme de guerra fraco em que uma companhia tem de ultrapassar um rio. O primeiro realizado por Kubrick, o próprio tentou destruir todas as cópias existentes. Vale a pena apenas pela curiosidade.

Day of the Fight precede-o, um pequeno documentário de 1951, uma explicacão do boxe, da crueldade e uma curiosa análise crua da loucura que é pagar preços exorbitantes para ver homens cometerem um crime num ringue. Segue então a vida difícil de um boxeur na preparação para um combate, com a antecipação dos minutos finais até que começa o combate.

Foi a primeira vez que vi João Ratão de Jorge Brum do canto de 1940. Existindo uma elite do cinema Português, este seria um filme da primeira fila, mas da segunda linha. Um soldado que foi para França e regressou envolto em glória para inveja das pessoas da terra tem azar nos relacionamentos, até pelo que os amigos fizeram, contratar uma artista de circo para se passar por uma amante francesa com um filho dele. Apercebendo-se que estava a desfazer uma relação, ela desmancha o combinado e o casal pode então seguir cada um para seu lado.
Os diálogos são bons, ainda que o filme seja inconstante, tem falta de ritmo, mas apesar de ter António Silva e outros notáveis, parece que o elenco é uma segunda-linha de quem não chegou Beatriz Costa e Vasco Santana para a dupla. Como Dupond e Dupont, diria mesmo mais, os diálogos são muito bons.




Foi a primeira vez que passei o melhor jogo de sempre na totalidade!

Montado em 1994, os dois clássicos que fazem parte deste double bill julgavam-se perdidos da filmografia de Rod Serling, o criador de Twilight Zone, até que foram encontrados na garagem dele. O primeiro, The Theatre é introduzido como uma peça do Twilight Zone. Uma mulher que vê a sua morte no filme em exibição no cinema, volta à projecção, continuando a ver a mesma coisa, que acaba por acontecer. Nada de mais. O segundo, o filme mais longo, Where The Dead Are de 1968 é bem melhor. Com a acção a correr no século 19, um médico tenta salvar um doente, mas descobre=lhe um traumatismo durante a operação e percebe que o homem foi alvo de uma pesquisa em tecidos regenerados, pois não era possível sobreviver a tal corte. Decide ir investigar o que se passa na ilha de onde ele vinha e para além do cepticismo da população circundante, é recebido pelo homem que ressuscitava os mortos da ilha. Vale a pena ver.

Já tinha feito aqui algumas considerações sobre o Pedro Costa, por isso não me vou estar a repetir. Em No Quarto da Vanda, é o que se pode esperar dele, uma prequela do que era a vida de Vanda de A Juventude em Marcha. Apesar de ser superior, continua a ser desinteressante. Há um limite para a quantidade de mau Português que se pode ouvir num filme, e da mesma maneira que há quem defenda o "realismo" de Pedro Costa, isto é francamente mau.

Por sua vez, O Sangue de 1989, comparativamente com tudo o que se haveria de seguir é um filme notável. Dramatismo, bom uso da musica, apesar de os actores serem embaraçosos na entrega ao texto. Um começo auspicioso que não salva o que haveria de vir.

Já tinha falado aqui há poucos dias sobre estas entrevistas da Paris Review. Podem reler a entrada para se inteirarem sobre o conteúdo. No caso deste Paris Review Interview Volume 2 editado em Inglês (a que se seguirá outro), há 15 escritores entrevistados.
De James Thurber fica a capacidade de memorizar e de reconhecer que só por volta do sétimo manuscrito é que começar a ficar publicável. As histórias de Harold Ross, o editor da The New Yorker por ordem cronológica, o gigante Faulkner repetido, que é tema de outras entrevistas como à sulista Eudora Welty ou ao escritor Iidisch Isaac Bashevis Singer.
O humor de Robert Lowell discutido de forma séria contrasta com John Gardner, que insiste na importância dos clássicos e na honestidade a contar uma história, de não ser imoral ao esconder a realidade.
O crítico Harold Bloom, magoado, mas que consegue realizar a promessa de ser professor de poesia em Yale e Harvard tem uma entrevista interessante, bem como Stephen King, apesar de não manifestar qualquer interesse pessoal por ele. Alice Munro surge como uma mulher dedicada às letras e à vida caseira e Peter Carey relembra a vida que viveu mas que não parece ser sua. Muito bom, como era de esperar.

Comparativamente às ilustrações originais do livro de Maurice Sendak, a versão cinematográfica de Where The Wild Things Are de Spike Jonze até suaviza os seres selvagens, aligeirando-lhes as tendências maléficas. A história é transposta para o novo milénio, onde Max, um rapaz que se vê abandonado e a crescer sozinho, decide partir numa viagem para outra terra, onde procura compreensão.
A obra de Sendak tem apenas 10 frases e 37 páginas, portanto há muitas ambiguidades que não são desfeitas. Sendo um mundo imaginário onde estão os seres selvagens, sem ter nada a chamar por ele em casa, porque havia Max de querer voltar quando atinge a redenção pela mentira que disse, ao fazer-se passar por um rei?
Maurice Sendak escolheu propositadamente Spike Jonze para realizar o filme, e a escolha foi acertada. Visualmente, o fantástico de uma história infantil está presente, mas ao mesmo tempo, há um sentimento de tristeza que assola as audiências, impressionadas com o realismo que se cria (é possível criá-lo) e com esse pedaço da História infeliz, que podia ser outro qualquer. Exceptuando o final, devido às tais limitações do texto original neste caso, o filme é belíssimo, com um grande actor em Max Records, óptima fotografia, bem como uma banda sonora condizente.
Uma nota só a uma coisa curiosa que eu reparei. Para além da fama como ex-marido de Sofia Coppola e realizador de vários vídeos de música, o que um público mais geral não sabe é que Spike Jonze é uma espécie de figura de culto no skate por ser um dos fundadores (e ainda um dos donos) da Girl Skateboards e por ter dirigido alguns dos filmes mais admirados como Video Days da Blind ou o Yeah Right da Girl, bem como de muitos episódios do Jackass. A obsessão com Where The Wild Things Are (e estava em produção há muitos anos mesmo) parece-me ser explicada pelo skate: Max enfrenta problemas em casa e refugia-se numa ocupação, viajar de barco (skate), encontrando um grupo diferente que o rejeita mas que começa a ver as semelhanças que têm (novos grupos de amigos skaters), que tentam construir um forte (a união que se estabelece ao construir rampas de skate em grupo) mas que em última instância se separam (o crescer). Penso que é uma analogia válida, ou então sou eu a imaginar coisas.

Como complemento para o lançamento do 7" de Young Governor, a Sleep City lançou um livro DIY muito interessante. A lista de colaboradores mais parece as Nações Unidas (contribuí com um texto e um desenho, gostei do resultado final), entre fotografias, desenhos e alguns textos, interpretações livres do Verão. Lê-se rapidamente, a apresentação é excelente e é um volume muito coerente. O único ponto que vale a pena dizer pela "negativa" é a não inclusão dos créditos ao excelente trabalho de paginação e design gráfico do livro.
Ainda está disponível aqui por um preço apelativo.

Gianni pega na história da sua vida, quando teve de voltar para casa da mãe depois do divórcio e filma uma história do envelhecer de forma amorosa, vista por um homem que vive com a mãe em Roma. Como um favor, devido ao perdão de dívidas, o apartmento começa a ficar invadido por idosas. É um filme curto, e tal como no Almoço de 15 de Agosto, ficamos com pena de não poder passar mais um bocado de tempo com estas senhoras Italianas. Humor Italiano, simples.

Imobilizado com a perna engessada, James Stewart, mais uma vez no papel principal, é um antigo repórter que se limita a passar os dias a observar o bairro pela janela das traseiras. Depois de Rear Window vou fazer uma pausa nos filmes de Hitchcock, mas foi uma grande final. Ao ter acesso a um mundo privado em que as pessoas não se comportam como em público, Jeff (James Stewart) tem outra perspectiva sobre o que se passa na vida de cada um, ocupando-se disso a tempo inteiro. Grace Kelly é aquilo que sabia ser, e a relação com a enfermeira Stella tem bastante graça. O final não é dos melhores de Hitchcock, mas o filme é muito bom.

Não sei se a MTV chegou a passar isto em Portugal, mas são conversas interessantes. Entre outras duplas, estão conversas entre o Kaws e o Pharrell, o Hiroshi Fujiwara com o Will.I.Am e o Pete Wentz de Fall Out Boy com o Chris Ware. Tem graça que em todos os casos, são os músicos, mais habituados a serem idolatrados, a prestarem culto total aos artistas.

Ver vídeo aqui.

Frenzy, o penúltimo filme realizado por Alfred Hitchcock já em 1972 é um ponto interessante na filmografia do Britânico. Voltando às suas raízes, é passado na Inglaterra moderna. Depois de Richard Blaney ser injustamente despedido, a sua maré de azar continua quando o amigo Rusk lhe dá uma dica para apostar nos cavalos, mas ele não põe a aposta. Um homem anda a assassinar mulheres por estrangulamento com gravatas pela cidade, e Blaney vê-se acusado, pois todas as provas apontam para ele, que até tinha sido visto a sair do local do crime. O verdadeiro autor do crime, Rusk, foge, incriminando o amigo inocente que desconhece quem faria tal coisa. Os últimos minutos desentorpecem a trama.

Hitchcock realizou duas versões de The Man Who Knew Too Much, a que falo é a de 1956, a Americana, com começo em Marrocos. A critica que normalmente apontam ao remake, é que a criança raptada, neste caso um rapaz, é uma má escolha quando posta perante a prestação da rapariga do original de 1934.
As férias de uma familia Americana em Marrocos são interrompidas por uma série de encontros estranhos que culminam no rapto do filho. O guião é excelente, do melhor que já vi em termos de diálogos e as personagens raptoras, de tão desprezíveis, são excelentes. Cheio de twists, com um bom final a culminar num grande seguimento no Royal Albert Hall em Londres, para onde o casal tem de ir tentar encontrar o filho.

Continuando com os filmes de Hitchcock (e ainda vão aparecer mais), em Vertigo, Scottie (James Stewart) é perseguido por um medo de alturas. Como antigo advogado que teve o desejo de ser chefe da policia, depois de reformado, um amigo pede-lhe que siga a mulher como detective privado. Scottie enceta uma busca silenciosa, como uma sombra fantasmagórica que segue Madeleine, obcecada com um quadro que representa Carlotta Valdés, um antepassado. Essa obsessão faz com que ela assuma a sua personalidade, e depois de Scottie a salvar e tomar contacto com ela, fica apaixonado.
Escusado será falar dos grandes planos, bem como as grandes cores que Hitchcock saca de cenas como a das sequóias ou quando lhe é mostrado o quadro de Marjorie Wood. Scottie é atraído para uma cilada, pois sabendo que ele nunca subiria as escadas por causa das vertigens, o marido de Madeleine orquestrou um plano para ele ser testemunha de um suicídio inexistente. Muito bom, e ando a reparar na importância das casas para Hitchcock, bem como na continuação da história depois da personagem feminina morrer.

Psycho de Alfred Hitchcock é um filme de mestria. Uma das mais celebradas obras do realizador, de 1960, para além de um clássico absoluto, é riquíssimo em pormenores como na cena inicial em que uma câmara entra pela janela em Phoenix, Arizona ou como quando Marion Crane depois de roubar $40,000 tem uma conversa a desenrolar-se com o patrão em tempo real, enquanto conduz, efeito repetido com a do policia e o dono do stand de automóveis.
Na fuga, acaba por ir parar ao motel de Norman Bates devido à chuva, e volta a aparecer mais um grande detalhe, a forma como Bates introduz a casa de banho, que culmina na famosa cena do chuveiro onde Marion é morta e cujos 45 segundos de cena demoraram uma semana a ser filmados com 70 posicionamentos de câmara diferentes. Melhor ainda, é o silêncio nos longos minutos que se lhe sucedem, a indiciar a morte de Marion, que a irmã ainda procura. A passagem de uma personagem para a outra, com a aparição de um detective dá seguimento ao filme, com um final terrifico, com a caveira a aparecer na cara do psicopata Norman Bates na última cena. De génio e intemporal.

Morto aos 19, Marcus pensa na vida que levou em Nova Iorque e da experiência universitária no Ohio, para fugir à opressão do pai. Em Indignação, a tensão habitual de Philip Roth é novamente temática, o que começa a ser deveras entediante.
Com o pai talhante consumido pelo medo, Marcus apercebe-se do fatalismo que ataca todos os que com ele convivem, e o final que pode ser desastroso, é salvo ao referir que a religião não lhe apelou e teve mesmo de ir para a guerra ao não concluir a universidade.
História interessante e bem desenvolvida, com os trejeitos de Roth e marcas do judaísmo que não desaparecem, mais um bom capítulo para o futuro nobel.

Com mais de 18 temporadas e os acérrimos defensores de umas e detractores de outras, seria sempre dificil de convencer toda a gente com The Simpsons Movie.
Não adiciona nada à série, não há nada de provocante, tem uma mensagem ambiental. Tem quase todas as personagens da série, tem o habitual humor (sem que haja algo de realmente hilariante). O que é? São os Simpsons no grande ecrã. E isso chega.

Não é mandatório explicar a história de Brown Bunny, pois ela é irrelevante para as possíveis considerações sobre o filme de Vincent Gallo. Eu até simpatizo com a personagem e já revelei admiração por Buffalo 66, no entanto é um filme morto. Quase não há diálogo, e se as personagens de Vincent Gallo e Chloe Sevigny (estava para ser Kirsten Dunst) têm um entrosamento interessante (e aquela cena foi mesmo filmada [válida para a narrativa]), mas o filme acaba por ser tão parco em pontos positivos que é difícil manter o interesse. Em sua defesa, diga-se que não é um filme comercial, sobrevivendo como um manifesto artístico.
O site de Vincent Gallo disponibiliza desde quadros de Charles Manson dados por Joey Ramone até ao cobertor onde ele dormiu vários anos, mas dando uma olhada a esta página, dá para ver a pancada do homem.

Italo Calvino dá o mote ao livro por definir um clássico e a importância de os ler. Entre outros autores, há pequenas lições sobre Homero, Plinio, Ovidio, Jerónimo Cardano, Voltaire ou Diderot, Joseph Conrad e Henry James. A forma dos textos e o legado deles é analisada, ainda que seja necessário ter algum conhecimento (pouco superficial) sobre as obras. São então considerações filosófico-históricas a livros concretos, por isso é dirigido a pessoas que conheçam a temática, não que fosse esse o intento, pois Porquê Ler Os Clássicos é um livro póstumo que reúne artigos póstumos, escritos ao longo de uma vida.
O único ponto negativo a apontar é a opção por não traduzir algumas citações dos livros do Italiano ou do Latim, deixando qualquer pessoa às cegas.

Reunidas e traduzidas por Carlos Vaz Marques, as Entrevistas da Paris Review, revista Nova-Iorquina pioneira na entrevista literária, são uma interessante leitura para sabe mais sobre os hábitos dos escritores. Estes seleccionados correspondem a uma distância temporal de 15 anos.
Diga-se então que Faulkner é genial. Diz que não se sente confortável a falar dele próprio, mas só fala da obra quando inquirido, de resto é pérola atrás de pérola, com muita sabedoria. Truman Capote é encantador, talvez por gostar tanto de conversar e ser tão acessível. Uma grande lição de vida. Em contraste, Hemingway é caracteristicamente rígido e disciplinado.
Boris Pasternak, dos seus 70 anos, detém uma grande amabilidade, e a forma da entrevista explora esse lado cândido de alguém que já viveu a sua época e queria que o compreendessem. Deixa transparecer ser um grande homem.
Jorge Luis Borges, já cego, é um intelectual caloroso. Dá cartas e ganha sobre qualquer livro, enquanto Jack Kerouak, apesar do início, até fala bastante, sempre de forma muito directa e sem rodeios.

Joaquin Phoenix e Eva Mendes conseguem segurar bem We Own The Night de 2007. O filme tem muitas parecenças com The Departed, ainda que não tão bom. Phoenix é o dono de uma discoteca e as ambições dele são casar e continuar a expandir o negócio, no entanto os laços familiares a um policia entram em conflito com a máfia Russa, cliente e frequentadora do seu estabelecimento. Quem gostar de crimes policiais, recomendo, quem preferir outras coisas, não há aqui grandes pontos de interesse.

Reacção óbvia: James Cameron conseguiu fazer algo realmente inovador em Avatar. Claro que o facto de ser a história de um marine sem mobilidade acaba por ser secundária aos efeitos visuais. O 3D funciona lindamente (talvez num futuro próximo este 3D com focagem algo confusa e pele sem textura pareça antiquado) e é um deleite ver aquele mundo de animais abrir-se. A história consegue ser interessante, mas toda a questão de homens contra uma raça desconhecida já foi discutida, e as ideias (pertinentes) da destruição da natureza por parte das máquinas ou da necessidade da Terra respirar, também não são novas. No entanto, funciona bem e aplaude-se a audácia. A ideia de pôr a guerra final acaba por parecer despachada e desnecessária, e a falta de personagens mais fortes também pode ser um contra. Quanto ao irmão de Jake que morreu? Digo que o nome dele é 'Prequela em 2015'.

Num mundo que já viu o 11 de Setembro, Hans, um Holandês, balança entre o distanciamento da mulher Rachel e da aproximação a Chuck Ramkissoon, um jogador de cricket é assassinado. O casal vive em Nova Iorque, mas Rachel volta com o filho para Londres, enquanto Hans continua a viver no Chelsea Hotel em Nova Iorque, a manter a carreira no banco enquanto joga cricket. Da amizade com Chuck, nasce o desejo de dotar a cidade de infra-estruturas apropriadas para o cricket com um grande estádio que atraísse os melhores jogadores mundiais. Em Netherland de Joseph O'Neill, Hans lembra-se constantemente da Holanda natal, à medida que a relação com Rachel tem os seus altos e baixos. A maneira de escrever é sem dúvida cativante, com uma boa gestão do tempo, pondo a narrativa nos campos de cricket, nas memórias de infância na Holanda e nos tempos com a mulher em Londres, sempre com os ataques terroristas a tirarem alguma esperança a uma vida moderna.
As criticas são muito boas, o que eu não percebo muito bem. É um livro competente, levanta muitas opções e tem um ritmo interessante, no entanto não acho que seja uma obra prima como o pintam. Também é verdade que não sou grande conhecedor da literatura dos anos 90 até à actualidade, talvez hoje em dia as coisas se meçam com outra medida.

A partir de uma entrevista com o próprio, Introducing Stephen Hawking tem três vertentes: a carreira do Britânico e as suas rivalidades, a contextualização com as descobertas de Newton e Einstein, e a sua vida pessoal.
A vida deste homem nascido em Oxford é notável pelos impacto que trouxe ao estudo do cosmos, mas apesar da genialidade (e tenha-se em conta que por não poder escrever há décadas, ele tem de fazer todos os cálculos de cabeça), é bem possível que ele esteja a pensar em algo que não existe.
O inicio do universo com a teoria do big bang e o estudo da forma dos buracos negros é a sua grande herança para a humanidade.

Partindo da história da Broadway escrita por Ben Hecht e Charles MacArthur nos anos 20, Billy Wilder fez a sua adaptação de The Front Page. Confesso que esperava mais, tendo em conta o que Billy Wilder tinha realizado antes. A história de um jornalista de Chicago que se quer reformar, mas que é seduzido pelo editor a escrever sobre um assassínio é passada em poucos ambientes, com poucos pontos de interesse. Se as interpretações são boas, o problema está na adaptação da história, demasiado monótona.
Talvez pelo passado de Wilder como jornalista, perceba-se que aquela ideia de newsrooms fervilhantes com homens a usar chapéus de palha a escrever sobre novas histórias fosse apelativa, no entanto não é uma obra com nada de memorável.

Rodado em 1991, Barton Fink é uma comédia dos irmãos Coen passada nos anos 40. Fink, a personagem principal, é um guionista vindo do teatro que não consegue enquadrar-se em Hollywood e exercer a sua criatividade. Isola-se num quarto de hotel para escrever um filme de Wrestling , travando conhecimento com o vendedor de seguros Charlie Meadows, mas a falta de ideias mescla-se com uma série de eventos para um final trágico. Boas interpretações de John Turturro e John Goodman num filme bom, mas lento.

O quinquagésimo Aniversário de Astérix e Obélix teve direito ao Livro de Ouro, com os ingredientes habituais das histórias criadas por Goscinny e Uderzo. Cheio em referências culturais bem como interpretações de obras clássicas da pintura e escultura alteradas, o livro começa com os preparativos para o aniversário dos dois Gauleses, a busca para uns festejos dignos. É um volume diferente, mas que mantém o tipo de humor da dupla, com os habituais desenhos sublimes, lançando uma olhada a como eles seriam se envelhecessem e até um guia de viagens, com todos os habitantes da aldeia a darem-lhes os parabéns pelo acontecimento jubilar.

Em 1994, Peter Jackson filmou na Nova Zelândia Heavenly Creatures, a história real de Pauline e Juliet, duas raparigas homossexuais que fantasiam e discutem literatura. Quando Juliet (Kate Winslet notável) tem tuberculose nos pulmões e fica dependente de uma cama, a família delas tenta acabar a relação obsessiva e pouco saudável que elas mantém. O filme de estreia de Kate Winslet é fantasista, mas Melanie Lynskey como Pauline merece uma nota também, especialmente se for considerado que ela tinha 16 anos na altura. A mãe de Pauline, ao criar-lhes dificuldades, é morta. Peter Jackson adiciona ao filme a materialização do mundo irreal delas, com monstros de barro a saltarem das páginas dos diários que escrevem e com que planeavam ficar famosas.
Como curiosidade, ambas acabaram por ser libertas cinco anos depois, uma gere uma escola na Escócia e a outra tornou-se uma escritora de livros de detectives, sem poderem ter contacto desde os anos 60.

Dirigido por Ken Annakin, Andrew Marton, Bernhard Wicki e Darryl F. Zanuck (cada um ocupa-se de exteriores diferentes, em Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, The Longest Day é um épico da Segunda Guerra fantástico. A adaptação do livro de Cornelius Ryan é uma ambiciosa produção que homenageia os feitos do Dia D, quando as tropas Aliadas entraram em Omaha Beach em 6 de Junho de 1944.
Em 1963 ganhou os Oscars para Melhor Fotografia a Preto e Branco e Melhores Efeitos Especiais. São ambas especificações técnicas bastante impressionantes, o filme é um deleite visual, mas vale a pena lembrar que o filme foi lançado em 1962, logo o preto e branco foi uma opção estética, e não comparável a filmes sobre a primeira guerra mundial, por exemplo. Ao longo das quase 3 horas de duração, tem tudo espaço para crescer, ainda que o facto de acabar logo após a invasão seja incomum nos filmes de guerra, mas é nisto que ele se foca. Pelos referidos exteriores, o filme passa-se em três países diferentes e todas as personagens falam a língua do país, Americanos, Ingleses, Franceses e Alemães, uma característica interessante e que contribui para a magnitude do filme.
É tido como o último filme de guerra feito por quem esteve nela, e imprescindível para quem se interessa pelo género, uma perspectiva de vários ângulos, dura e suja.

Al Pacino esteve quase a entrar em The Gang That Couldn't Shoot Straight, mas acabou por ser Robert de Niro. Acho que se deve ser ele a arrepender-se. Adaptado do livro homónimo de Jimmy Breslin, é suposto ser uma paródia a uma luta entre gangs da Mafia Nova-Iorquina, mas é muito mau, as linhas não têm piada e a história não faz muito sentido.

Depois da minha namorada me ter visto a ler umas revistas de skate, incluindo a capa da Trasher, ela reconheceu o Antwuan Dixon e perguntou-me porque é que as pessoas lhe ligavam. Tenho de lhe mostrar este video como resposta.

O primeiro filme realizado por Quentin Tarantino foi My Best Friend's Birthday de 1987. A história de um tipo que tenta arranjar o melhor aniversário para o amigo foi filmada o longo de quatro anos, e da metade sobrevivente dos 70 minutos originais, há alguns traços que viriam marcar a carreira do realizador. Curiosamente, a parte mais apelativa do filme é mesmo a interpretação dele como actor. Vendo o filme, consegue adivinhar-se o realizador, mas está muito longe de ser um bom filme. Uma nota de rodapé.