Comparativamente às ilustrações originais do livro de Maurice Sendak, a versão cinematográfica de
Where The Wild Things Are de Spike Jonze até suaviza os seres selvagens, aligeirando-lhes as tendências maléficas. A história é transposta para o novo milénio, onde Max, um rapaz que se vê abandonado e a crescer sozinho, decide partir numa viagem para outra terra, onde procura compreensão.
A obra de Sendak tem apenas 10 frases e 37 páginas, portanto há muitas ambiguidades que não são desfeitas. Sendo um mundo imaginário onde estão os seres selvagens, sem ter nada a chamar por ele em casa, porque havia Max de querer voltar quando atinge a redenção pela mentira que disse, ao fazer-se passar por um rei?
Maurice Sendak escolheu propositadamente Spike Jonze para realizar o filme, e a escolha foi acertada. Visualmente, o fantástico de uma história infantil está presente, mas ao mesmo tempo, há um sentimento de tristeza que assola as audiências, impressionadas com o realismo que se cria (é possível criá-lo) e com esse pedaço da História infeliz, que podia ser outro qualquer. Exceptuando o final, devido às tais limitações do texto original neste caso, o filme é belíssimo, com um grande actor em Max Records, óptima fotografia, bem como uma banda sonora condizente.
Uma nota só a uma coisa curiosa que eu reparei. Para além da fama como ex-marido de Sofia Coppola e realizador de vários vídeos de música, o que um público mais geral não sabe é que Spike Jonze é uma espécie de figura de culto no skate por ser um dos fundadores (e ainda um dos donos) da Girl Skateboards e por ter dirigido alguns dos filmes mais admirados como Video Days da Blind ou o Yeah Right da Girl, bem como de muitos episódios do Jackass. A obsessão com
Where The Wild Things Are (e estava em produção há muitos anos mesmo) parece-me ser explicada pelo skate: Max enfrenta problemas em casa e refugia-se numa ocupação, viajar de barco (skate), encontrando um grupo diferente que o rejeita mas que começa a ver as semelhanças que têm (novos grupos de amigos skaters), que tentam construir um forte (a união que se estabelece ao construir rampas de skate em grupo) mas que em última instância se separam (o crescer). Penso que é uma analogia válida, ou então sou eu a imaginar coisas.