Faz agora um ano que o filme La Antena foi lançado no Reino Unido, sendo uma produção Argentina de 2007, realizada por Esteban Sapirá. Como se faz um filme de cinema clássico no segundo milénio? Neste caso, fazendo um filme soberbo, acenando à cinematografia dos clássicos, usando a tecnologia disponível na actualidade.
A cena inicial, uma máquina de escrever a fazer de piano, premonição de uma beleza de antigamente fundida com notas soltas a preto e branco, faz ponte para um dos primeiros planos, que resume o filme. Na era digital, abre-se um livro com saliências, a partir do qual um conjunto de folhas ganha forma e se transforma numa cidade de arranha-céus. Essa cidade, sem nome e que vive o ano XX, tirou a voz a todos os habitantes, excepto à Voz, uma cantora do único canal de televisão, gerido por Mr TV.
Num filme silencioso, a maneira como as palavras são incorporadas é fantástica, com cada linha de diálogo a ter um arranjo tipo mini-filme. A caracterização, o despir as personagens das semelhanças humanas por não terem voz, Tomás, o filho da cantora/espectro, sem olhos, as sobreposições das imagens fixas, são tudo pormenores geniais. Não é surpresa que o filme tenha ganho tantos prémios.
A principal influência será Metropolis. Pode-se dizer que é um Metropolis filmado ao nivel de rua, como um filme de gangsters (aceno dado pela recriação da execução com metralhadoras, muito bem animada).
A questão do silêncio, hereditário e forma como se tenta combatê-lo, como no encontro de Tomás com Ana no quarto desta, quando ele começa a falar com neve lá fora, ou no "meio-diálogo" entre o pai de Ana e o rapaz que fala é mágico com aquela musicação, aliás, de uma elegância tremenda durante todo o filme.
Talvez a história tenha problemas de fluência, no entanto, é difícil certificarmo-nos disso, tal é o deleite visual em que nos encontramos envolvidos.
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