Quando os filhos são enviados para Nova Iorque, como é um filme do século XX, estamos à espera de encontrar um comboio, mas eles vão de coche. Em Our Hospitality, Buster Keaton filma uma história passada em 1810 e que trata de disputas familiares, ódios antigos que as gerações recentes fazem questão de preservar. No entanto, de volta ao sul, Buster Keaton apaixona-se pela filha da família rival, tão fortemente que até casou com ela na vida real. É muito subtil e elegante, até no humor, e os cenários da época são únicos, uma obra de arte. E mais tarde aparece então uma réplica do primeiro comboio, o Rock de Stephenson.

Häxan é uma produção lançada em 1922 que Benjamin Christensen gravou na Suécia e Dinamarca durante três anos. É uma espécia de documentário colossal, acerca da superstição através dos tempos e da ligação a bruxas e como elas propagam doenças.
A primeira parte é só a partir de ilustrações, com uma grande banda sonora que se mantém ao longo dos 7 capítulos. Daí passa para a Idade Média e a maneira como lida com o misticismo e o horror é muito arrojada, e à que o filme se vai compondo, os demónios ganham forma, representados na forma medieval, ainda muito conectada com os livros e verdadeiramente assustadora. É sujo, animalesca e impregnada de ruralidade e com actores que conferem um toque macabro à obra.
Os ambientes que criam a partir do terceiro capítulo, são inacreditáveis, e não admira os três anos que demorou a fazer. Perto do fim existem uma cena com freiras a dançar enquanto o demónio as observa, terrificamente. É uma forma de fazer terror que ainda hoje causa efeitos.
A palavra 'Fim' sem legendas tem piada, por todas as freiras e mulheres que aparecem ao longo destas Bruxas.

Le Voyage Dans La Lunes de Georges Méliés, filmado em 1902 é o primeiro filme de ficção cientifica e os efeitos especiais até são melhores do que muita coisa hoje em dia.
Existe já uma grande caracterização, uma interpretação teatral, com uma câmara estável e grandes planos/cenas.
O filme é mágico, quase infantil, a forma como eles pegam nos fatos de astronauta, se vestem e preparam para ir para a lua, cinco colegas para seguir um cientista. Os pormenores são geniais e com apenas 14 minutos vale a pena ver e logo de seguida rever. O fumo da cidade é fantástico, um mundo de possibilidades para o cinema a abrir-se. A despedida, com uma lua triunfante ao fundo, como destino da carcaça que foi disparada para o espaço com os tripulantes, onde existe uma queda de neve, bem como os habitantes lunares a aguardar os terráqueos. O regresso ao nosso planeta, a cena com a cidade e o barco a vapor, tudo fantástico.

Um dos melhores filmes do Neorealismo, Ladri di Biciclette de Vittorio de Sica, é um retrato do pós-guerra e da economia frágil da Itália, onde Antonio consegue um emprego a colar posters, mas lhe roubam a bicicleta para a qual teve de penhorar roupa de cama., essencial para o trabalho. Simplesmente magnifico, nos pormenores como o rapaz que toca acordeão, a mulher que espreita para a janela que se fecha, a sensação de bairro dada pelo quarto do ladrão onde o policia e Antonio procuram pela bicicleta e se vê os habitantes da casa em frente.
Os actores amadores conferem um toque genuíno ao filme, uma análise da classe trabalhadora, onde sobressai a maturidade do filho, Bruno, com uma presença soberba para uma criança. O companheirismo de pai e filho na busca pela bicicleta carrega o filme, com um final tão duro que se torna belo.

Depois de um dos filmes de ontem, parece que tive um deja-vu com Eastern Promises. O filme começa a matar, literalmente, mas nem Vincent Cassel e Vigo Mortensen safam a boçalidade de mais um filme sobre a máfia Russa, em Londres. Tem uma sequência de luta nos chuveiros de uma violência avassaladora, mas fora isso, é para esquecer.

A Cross The Universe, o DVD da tour nos Estados Unidos dos Franceses Justice é muito vazio, reflexo do electro azeiteiro que tocam, insipido e sem conteudo. O manager interessar-se por armas é como se fosse uma coisa muito arriscada, o facto de eles gostarem de beber é sensacional, e um deles casar-se em Las Vegas, como se nunca ninguém tivesse feito isso, é hilariante. Apenas para eles, pelos vistos. A garrafa a ser partida na cabeça dum miudo é a única coisa de jeito. Muito mau mesmo.

De uns amigos meus da Suécia chega esta Effort, uma fanzine de hardcore mesmo como antigamente. Não tem muitas reviews, mas tem textos pessoais interessantes e entrevistas boas com On, Common Cause, Lion of Judah, entre outras bandas. O papel é mesmo muito bom, não é fotocopiado e é melhor que muitas revistas no mercado. Tem um preço alto, cerca de 4€, mas vale a pena. As fotos são antigas e de concertos recentes.

Rocknrolla é francamente mau. Russos no Este de Londres, mafia, tudo muito pouco excitante. Ah, e tem ambientes luxuosos. As chapadas estão bem sonorizadas. A evitar.

Para The Inconvenient Truth, Al Gore, vai buscar muitas influências. O documentário é apenas conferência, por um lado é fantástico que esta mensagem tenha tido tanta projecção, mas é também um negócio muito lucrativa para Al Gore.
Mandem-me uma mensagem a confirmar que morreram 13,000 pessoas em Portugal em 2003 com uma onda de calor, porque eu não me lembro. Não é uma brincadeira.

A segunda parte do filme do movimento Zeitgeist, Adendum, está disponível aqui com legendas em Português ou no link acima.
Começa com uma ligação ao anterior, a maneira como as notas tornam o dinheiro legal e lhe dão um valor, e em como apenas 3% do dinheiro existe fisicamente, o resto é em computador, criado a partir de dívidas. A escravatura e dependência que eles advogam não pode ser tão radical, pois é algo que afecta a sociedade, mas não o individuo. Ainda assim, vale a pena ver.
A compração do número de pessoas que morrem com doenças coronárias com as vitimas de terrorismo, é algo que eu já tinha pensado, e é rídiculo a atenção dos media e a propagação do mito por parte do governo, que desvia os fundos dos problemas da humanidade. A ganância e a corrupção são os temas gerais deste documentário, e apesar das medidas, que surgem no fim, parecerem radicais, acertam em cheio no que a maior parte das pessoas ignora e pertence por arrasto. A parte criacionista é só para Americanos verem mesmo.

É imperativo ver os tops da Complex. Desde as fotografias do Rick Ross até ao ténis de imitação da Magic, é tudo genial.

Depois de o sucesso de The Documentary, Jayceon Taylor teve de encontrar uma equipa nova para trabalhar no novo album, Doctor's Advocate, que para além de ser um clássico já, fo muito bem recebido. Este filme foi feito após o lançamento e começa com vários amigos a falarem da pessoa para além do artista, que admite saber distinguir a personalidade em palco da pessoa que ele é. Ainda assim, os dramas são lamechas e encenados, já toda a gente sabe que ele não passou por muitas daquelas coisas. Quando começa a ser um documentário sobre o pai de The Game, Life After The Math mostra imagens de concertos, com milhares de pessoas onde quer que seja. O que é raro em dvds de hip hop, é a edição ser muito boa, bem organizada. Vale a pena ver para quem gosta dos álbuns.

Charlotte Chandler entrevistou Groucho Marx para a Playboy, e ele gostou tanto, que disse ser a unica vez que tinha falado verdade, e pediu-lhe para o acompanhar até ao fim da vida. Pensar que os Irmãos nasceram no século XIX e viveram vidas tão fantásticas, e mesmo deixando a escola cedo, foram capazes de criar aquele espólio, em Hello, I Must Be Going, é tudo analisado, entrevistas com os amigos mais próximos de Groucho, até ao inicio dos Marx na América, com a imigração de Minnie e Sam.
Os empregos que tiveram de suster são lendários, e a personagem de Groucho é indissociável do actor. Há uma sensação de tristeza a pairar, por estes seres humanos tão geniais já não estarem vivos, e a sociedade ser tão diferente e banal hoje em dia.
Obrigatório para os admiradores dos Irmãos Marx, e uma grande história Americana, bastante extensa, que se demora cerca de 15 horas a ler.

Outro spoken word, Provoked de Henry Rollins, onde o ex-vocalisto dos Black Flag discorre no estilo habitual, muito efusivo. O facto de ele ter 46 anos e ser o terror das crianças da familia tem piada, mas vale principalmente pelo entusiasmo que ele demonstra, que cativa qualquer um para prestar atenção a esta lenda. É imperativo ouvir a história acerca dos Van Halen.

A Time We'll Remember, um spoken word do Ray Cappo de YOT tem piada e algumas irrepetiveis, apesar disso há alturas em que ele estraga as histórias com finais fracos. Ele tem coisas em que parece muito infantil para se salvaguardar do que se passa em redor.

Rob é dono de uma loja de discos e Alta Fidelidade é uma história muito leve acerca de todas as mulheres que se cruzaram na vida dele. Com pouco romantismo e muito realismo cru, achei especialmente curioso porque é passado na rua onde resido. Não é nenhum trabalho de génio, mas é uma história que vale a pena ler.

Darren Aronofsky, de modo a filmar um desporto tão teatralizado como o wrestling, despiu o filme de flashes e gritos que seguem os lutadores e retrata a vida dum wrestler em queda, Randy “The Ram” Robinson, uma estrela dos anos 80, mas que agora é uma sombra. É um filme cru, sujo, mas tocante. Micky Rourke assenta bem no corpo de The Ram, com uma performance físico, onde o corpo desfeito já não lhe permite ser uma lenda, nem numa liga menor, onde para além da compaixão dos colegas, é difícil encontrar alguma decência.
O grande problema de The Wrestler é quão simples é. O guião linear, previsivel é apenas abanado por Cassidy, uma stripper que ele visita e vê como a ponte para uma vida normal.
O final inconclusivo também seria evitável, pois The Ram nunca encontra uma forma de substituir a felicidade que tem no ringue, pela filha e por Cassidy, ou ficamos sem saber se ele sobrevive. No geral, vale a pena ver pelas imagens estilo documentário da solidão de Ram, que constroem bons momentos cinematográficos.
Cinquenta posters, cada um melhor que o outro, fica um exemplo.

Dois novos posters para Organic Anagram.

Este mostra onde diversas bandas foram buscar o artwork para os albuns.

Mas que bem que fala.

Lancei mais um album como Organic Anagram. O press release está na editora em Português e em Inglês. Como pode ser visto no myspace, o download directo com todas as faixas e artowrk é feito neste link.
Há quem diga muito bem dele. Eu vejo isso sempre com muita suspeição.

O meu flickr também sofreu alguns acrescentos. Pena não dar para mais de 100mb por mês, agora que voltei a ter tudo operacional.
Obrigado pelo interesse.

Ser Danny Boyles, um Inglês, a relatar esta história é estranho. Muito de acordo com a tradição Indiana do destino e do acaso, Slumdog Millionaire é realmente um blockbuster notável. Existe uma dosagem da acção, que flui entre o passado e o presente com flashbacks, e que depois segue para o final da história, que dá Jamal Malik como vencedor de um concurso de trivia na televisão. Os guettos de Mumbai, onde a história começa têm uma cor soberba, e especial destaque deve ser dado à actuação dos actores que fazem de crianças, com grandes desempenhos, bem como à sonoplastia e banda sonora.
Por detrás de todas as injustiças e violência está uma história de amor, talvez a única ligação com Bollywood, que até poupou as clássicas cenas de dança.

The Chumscrubber é um filme ingrato. De um elenco de adultos soberbo (Ralph Fiennes, Glenn Close entre outros), tão imersos nos seus problemas, que nem se apercebem da própria vida que levam, há a incapacidade para lidar com os filhos adolescentes do subúrbio, que só buscam um pouco de compreensão. A dose de alienação que lhes é servida leva-os a cometerem actos sem sentido, e naquele ambiente de subúrbios, se este filme fosse realizado por David Lynch, seria admirado e considerado uma obra prima. A história é a seguinte: um adolescente que vendia drogas enforcou-se, e por isso o melhor amigo tem a cadeia alimentar à perna, então eles tentam raptar o irmão do melhor melhor amigo, mas ficam com outro miúdo por engano, tendo depois de se livrar dele. Suficientes mudanças vão fazer os papéis alterarem-se, num filme bastante excitante.

Forrest Gump definiu uma geração alienada, que cresceu obcecada pela cultura pop e os movimentos reaccionários a isso, na América redneck. O que fascina é a polaridade do filme, a facilidade com que muda de um filme acerca da vida pacata numa cidade Americana, para uma história de amor, para a guerra do Vietname. No fundo é a história de um homem (Tom Hanks) de bom coração que perdeu tudo mas era feliz na sua inocência.

Há momentos de The Machinist em que o filme parece perder-se, mas no final acaba por fazer sentido, juntas todas as peças, e as alucinações de Trevor (Christian Bale) compreendidas. O tom industrial do filme, cinzento metálico reflecte o aspecto cadavérico de Bale, que não dorme à mais de um ano e tem o hábito de ir todos os dias ao aeroporto. A interpretação de Bale é fantástica, sendo a personagem acusada moralmente de um colega de emprego perder a mão e a ter de viver com vários fantasmas.

Desde que tomei conhecimento desta via mais racional da criação que sempre me fascinou, mas só agora tive oportunidade de ler A Origem das Espécies de Charles Darwin. A forma como é escrito oferece sugestões que Darwin defende sobre tudo, no entanto não se vê como uma versão definitiva, deixando espaço para novas descobertas. É escrito duma forma muito visual e vai buscar exemplos concretos para partir para o grande plano das coisas. A selecção natural, comemora agora 150 anos, uma boa altura para ler esta obra essencial do pensamento Ocidental.

No primeiro filme que realizou, João César Monteiro, ainda a assinar como João César Santos, tentou dar imagem à poesia de Sophia de Mello Breyner, estando, obviamente, o mar muito presente. Apesar de ser de 1969, era já um exercício de nostalgia, bastante suave, a contrastar com alguns apontamentos mais pesados e o semblante carregado de poetisa. Uma homenagem contida, muito sóbria.

Uma adaptação da novela gráfica Ghost World, o filme conserva o humor leftist das publicações do género, intrusivo, faz um uso genial do silêncio num mundo muito peculiar, onde ser um outsider é ser superior e motivo de orgulho. Steve Buscemi e Scarlett Johansson é uma união divina num ecrã, mas a verdadeira dupla é Enid e Rebecca, saídas da escola, que ora actuam em equipa ora se odeiam por Enid decidir levar uma partida a Seymour (Buscemi), um fanático de discos, longe demais, envolvendo-se com ele.
Uma das melhores comédias.

Rebecca: This is so bad it's almost good.
Enid: This is so bad it's gone past good and back to bad again.

Um amigo meu chamado Theo começou um blog muito interessante, que disponibiliza musica relativamente dificil de arranjar. Metal, hardcore e dubstep devem aparecer por lá regularmente. Começa também com uma entrevista minha, o que é um prazer, dado ser quem é.
O design do blog apetece trincar.

Em 2006 depois de uma tour que percorreu todo o mundo, os Sigur Rós voltaram à Islândia natal para efectuarem uma série de concertos em localizações remotas. As paisagens são assombrosas, principalmente numa das ultimas musicas onde o musgo típico da Islândia reflete o céu azul que se estende para o mar com a montanha nevada por trás. Surpreende também a cordialidade e a subtileza do público que assiste a estas actuações tão pessoais das musicas com um genuíno interesse nos olhos. Em Heima, a terra pára e a vida sustém-se.
Pode ser visto aqui o trailer.

De Três em Pipa são as primeiras 100 páginas de um livro de Céline, Casse Pipe, o terceiro romance escrito, abandonado devido à sua fuga para a Alemanha. O pequeno volume, é como uma taça. Dentro dela existe uma mistura putrefacta de sangue nasal, vómito, urina, ofensas múltiplas e desonra. No entanto a taça é de ouro, embutida com um requintado ornamento que sobressairia numa montra em saldos.
O registo exaltado, exuberante, é um vicio. Os insultos proferidos contra os recrutas são algo entre o Capitão Haddock e o Sgt. Hartman de Kubrick.
Uma nota para Aníbal Fernandes, ainda que com uma interessante nota introdutória, creio que complica a narrativa com a sua tradução ao tornar o texto menos acessível.

Mean Streets de 1973 tinha tudo para ser um filme icónico. A crueza da vida de rua rompe com toda a fantasia dos 60s e o chamamento divino acaba por ser o que traz alguma realidade aquelas vidas boémias.
A maneira de filmar de Scorcese, tentando recriar as histórias da comunidade Italiana com que crescera em Nova Iorque é carregada de realismo e com o humor agressivo, principalmente de Robert de Niro, aqui no primeiro filme com Scorcese e especialmente corrosivo, uma bomba prestes a espalhar o caos em todas as direcções, que pode ter toda a sua personalidade definida nesta cena.
Não sendo apreciador dos filmes mais mencionados dele, como Goodfellas, Taxi Driver ou Casino, Mean Streets saltou lá para cima mesmo.

Tabu (Gohatto no original) de Nagisa Oshima conta a história de dois aspirantes a samurai, Okita e Kano. O filme tem uma boa cadência, uma frieza superficial que dissimula as relações entre os guerreiros e mantém o público na expectativa. O começo é hesitante, mas desenvolve bem a passagem de um filme de guerreiras para a história homossexual que revela.

Trazendo ao publico 15 anos de trabalho, Dumb Luck - The Art Of Gary Baseman contém todas as criaturas que o definem, as que escapam à confusão do mundo ao serem sádicas com um sorriso pueril, em pequenas narrativas do absurdo, que encontra a felicidade na miséria.
Em termos técnicos pode parecer infantil, mas existe um grande cuidado no traço e na cor, acentuado nas ilustrações, onde as capacidades de Baseman se ampliam, dando uma dimensão aumentada às críticas sociais.
Contém desde pinturas que foram exibidas a ilustrações para revistas, sketches do programa de TV dele para a Disney, entre outras coisas.

Tendo sido uma oferta duma oferta, surpreendi-me pela alta qualidade de Diários de Viagem - Desenhos do Quotidiano, que ou ainda não foi lançado ou não teve a distribuição merecida, dado que não reparei neste livro em nenhuma loja.
Eduardo Salavisa tem um grande ponto a favor, é movido pelo desejo de promover uma paixão. Os excertos dos seus cadernos são maravilhosos, tal como o texto introdutório, muito explicativo, cruzando as ideias de consagrados como Le Corbusier com emergentes ilustradores nacionais.
A qualidade do papel, capa e as reproduções fantásticas que ocupam estas quase 300 páginas engrandecem este documento a guardar. Sendo a maioria arquitectos, professores e ilustradores, acaba por ser quase natural o elevadíssimo nível das páginas mostradas, arte que a maioria dos entrevistas leva muito a sério. Entre traços de caneta e borras de café que se desenvolvem para composições extraordinárias, a incursão de alguns pelas aguarelas, dá origem a obras de arte repletas de cor e força.

Como membro destes "marginais" que carregam sempre um bloco para escrever, é uma honra ver uma publicação deste livro, em Português, feito em Portugal. Alguém trate de disponibilizar Diários de Viagem nos museus de todo o mundo e livrarias especializadas.

Vale a pena consultar o blog do autor e este global.
Dubliners é uma colecção de histórias de James Joyce, quando ele já tinha deixado a Irlanda para viajar e se radicar em Paris.
Mais acessível comparando com as obras que se seguiriam, estas histórias, ainda assim, rompem com uma literatura mais acessível, sendo difícil descortinar um fio condutor que não um ambiente comum a todas as histórias, sendo as suas personagens e locais, díspares. A forma como todas acabam, num impasse, de modo a salvaguardar uma sensação etérea, quase sempre com a morte em parêntesis. A forma é extremamente inventiva, podendo ser lidas aqui o significado de cada história, desenvolvido sem emoção alguma.
Apesar das ligações, estas histórias valem (muito) por elas próprias, numa representação dúbia da sociedade de Dublin. É possível lê-las aqui.

Já agora, na recentemente lançada Biblioteca Digital do Instituto Camões é possível fazer o download d'Os Lusíadas para o iPod, como notas. Ainda muito incompleta, mas já se encontram alguns bons textos no arquivo.

Uma viagem ao interior da relação entre Katherine e Alexander, enquanto eles saem de Inglaterra para ir vender uma terra que ficou de herança na Itália profunda. Esta Viagem em Itália de Rossellini parece proporcionar uma boa oportunidade para o casal se conhecer ao fim de oito anos de casamento, mas as fissuras só alargam à medida que cada um se apercebe de como o outro se movimenta nos circuitos sociais. No fim, acabam por entregar a eternidade depois de um desencontro numa multidão.
Apesar do original ser rodado em Inglês (pelas nacionalidades e por ser um casal de turistas), é uma falsa genuinidade que se alcança com a versão falada em Italiano, com o som em melhores condições, sendo por isso preferível.
Ingrid Bergman e George Sanders enchem o ecran, mesmo quando se distanciam um do outro. O retrato da cidade a partir do interior do carro de Katherine é uma prova do encanto de Rossellini.

Parece que foi ontem.
Já agora, fica também um ilustrador, Zach Johnsen.

Até que podia distribuir talento.


O Testamento do Dr Mabuse de Fritz Lang é agora distribuido numa versão muito bem restaurada. Apesar de filmado na década de 30, só na de 50 é que foi projectado. Detalhes como a explosão inicial, o assassínio no meio das buzinadelas do semáfora e os efeitos de velocidade da fuga final dão um toque característico ao filme, que tal como o segmento gangster reafirma, são de inspiração Americana. Os detalhes aguentam o filme, que apesar das montagens e efeitos bons, é ligeiramente longo de mais. Talvez uma banda sonora fosse ajudar. Os olhares enlouquecidos, as revelações, exploram as história em várias direcções, com sideplots a desenvolverem-se.
A analogia da prisão também é interessante, tudo gira à volta dela, a de Mabuse é inflingida no próprio corpo, o homem que se suicida, tenta antes prender dentro da casa todos os ocupantes, entre outros exemplos.

Já da fase a cores, mas sempre com o olhar ao Japão tradicional, Kagemusha - A Sombra do Guerreiro de Akira Kurosawa é um épico que precisa de uma paciência épica. São quase três horas num desenrolar lento da história, sobre a troca de um líder, descurando a acção em prol do diálogo. Há planos enormes, com um bom uso de cor, mas que dificilmente carregam a acção num período tão longo. As sombras inferem uma carga portentosa, bem como as sequências de singular beleza e perfeição técnica, no entanto tem várias falhas do ponto de vista de um Ocidental.

Australia não é um mau filme. Nem Hugh Jackman nem Nicole Kidman são maus. A história não é má. Mas falta qualquer coisa. Muita coisa para uma grande história. Primeiro de tudo, uma história. É acerca dos aborígenes e dos crimes que se perpetuaram por séculos? É uma história de amor Hollywoodesca? É a vida dum rapaz que perde a mãe mas ganha outra logo de seguida? Não se percebe.
Soa muito artificial, para um filme que podia aproveitar as paisagens naturais. Os cenários e a montagem parecem tirados do inicio dos anos 90. Algumas passagens e bons conflitos no argumento fazem compensar uma ida ao cinema. Até pela companhia.

A Noiva Estava de Luto, décimo filme de François Truffaut, de 1968 é uma pérola. A sumptuosidade da actriz pricipal (Jeanne Moreau) e forma como a banda sonora é inserida, conferem ao argumento escrito/adaptado para realçar a elegância da femme fatale Julie, uma profundidade que fazem deste um dos grandes filmes Franceses. Depois do início de carreira como crítico de cinema nos Cahiers, Truffaut aprendeu depressa as lições, com os vários falsos arranques como falhanços, no entanto esta história brilhantemente filmada e inteligente, é um filme memorável, com uma cena final a concluir os casos, numa teia engendrada pelo acaso, em que Julie vinga um marido morto no dia do casamento.

A parte inicial de Zeitgeist compara os rituais pagãos com as analogias todas do cristianismo a outros Deuses adorados, é muito interessante, com a sobreposição da Biblia como um documento astrológico. O estilo sensacionalista acaba por ser perdoado, como forma de chegar a um público mais vasto.
Despachados os 1700 anos de cristianismo, segue-se para o 11 de Setembro. Tem piada a envolvência que dão aos relatórios tal como outro filmes fizeram, e da ligação da família Bush aos Bin Laden, dados como responsáveis pelo que eles apelidam de demolição controlada, executada pelos EUA contra os seus cidadãos.
A ultima parte versa na economia e numa explicação para o que se passou em 1929 e em como o Banco Central tem como missão criar dívida e controlar tudo e nas guerras Americanas.
EUA sem dólar? Espero estar cá para ver esse dia.
Pelo fraco alcance, isto não é uma plataforma para eu discutir a veracidade do que aqui é apresentado, mas não duvido que a ideia por trás de tudo isto, é verdadeira.
Dura duas horas e pode ser visto acima.

Vou-me ausentar para o este de Portugal, regime livre para tirar fotografias e passar um tempo sozinho. Fica aqui este artigo sobre as atrocidades dos Japoneses sob as ordens do Imperador, e esta ligação para uma recriação de um fenómeno na Amazónia, enterrar bebés vivos, não vá alguma azar atacar a tribo. Medidas de prevenção que já se aplicavam por cá.