Kaspar Joachim Utz colecciona porcelanas de Meissen. Dedicado às peças na Checoslováquia durante a Guerra Fria, só pode sair do país uma vez anualmente. E é por não poder levar as porcelanas, que tem sempre uma desculpa para regressar a casa. Bruce Chatwin, o autor, de porteiro a director da Sothebys, largo tudo para viajar e foi com esses escritos que se tornou famoso. No entanto, Utz é um livro assinável, de 1988.
Um investigador do Imperador Rudolfo, célebre pelos tesouros que amealhara, é posto em contacto com Utz, um 'Rudolfo dos nossos tempos'. As mil peças no apartamento não desanimam o investigador, dando achas para os muitos diálogos do livro, que é narrado por um Americano.
Em miúdo, Utz pediu um arlequim de J. J. Kaendler que estava numa montra, mas a avó, que lhe dava tudo, negou-o. Deu-o quatro anos depois, quando morreu o pai dele, e agora obcecado, Utz coleccionou e defendia que as peças estragavam-se por não serem tocadas. Politicamente neutro e já sem a avó e mãe, comprava. Em criança estivera em Inglaterra, mas com Hitler, deixou a nacionalidade Alemã.
Exibe a sua colecção aos amigos. A policia secreta foi a casa dele para inventeriar a sua colecção, mas o coleccionador ia a caminho de Vichy em França, tratar de uma doença imaginária. Chegado lá, achou tudo muito chato, dormia mal e tinha saudades da empregada Marta. Voltou, mas repetia a viagem todos os anos.
Após a morte dele, o museu não sabe onde está a colecção,e os dois amigos dos almoços de trutas encontram-se, ficando-se a saber que ele casou com a empregada agora Baronesa, para não perder a casa, e teria sido ela a partir a colecção. Não era certo que fosse barão, mas tinha tido muitas mulheres. Marta quis ser respeitada, e casou pela igreja com ele uma década depois do primeiro casamento civil, dormindo na mesma cama. O funeral de Utz estava vazio porque ela dera indicações erradas às amantes e aos funcionários do museu quanto à hora e local. É este o início do livro, com a morte. Poucos amigos num funeral, a empregada e um organista substituto que era o sacristão, porque o original não queria acordar cedo.
Na relação de Utz com a porcelana, Chatwin dá uma bela noção do coleccionismo, num romance que tem uma forma típica da Europa de Leste do século passado. A posse de objectos foi o que definiu a vida de Urtz, e o que o ligava às memórias de infância, mas isso só concedia um carácter divino à colecção, em vez de algo tão físico. A baronesa estava numa casa simples na aldeia, e talvez as porcelanas se tivessem tornado irrelevantes, como avança o narrador, perante o amor de Marta. Bonito.