Narrado por várias personagens que querem aproveitar a vida, O Duelo de Anton Tchékhov foi escrito em 1891. Dois amigos relaxam no mar e um confessa já não amar a mulher, pelo que precisa de ajuda para a deixar, pois conhece outra. É-lhe dito que mais que amor, passados uns anos, é preciso paciência. No Caucaso, procuram todos o inédito, que lhes traga alguma agitação. Em casa do mais sensato, que não demovia o amigo dos sentimentos odiosos pela actual mulher, comiam um diácono e um zoólogo. Este último odeia o ausente por dezenas de motivos. A mulher que tentara deixar estava também envolvida com outro homem, ainda que se arrependesse, e todas as personagens se juntam num piquenique, que obviamente não corre bem. As desconfiaças existem também no lado das mulheres. Na iminência do corte de várias relações e partidas, o homem no centro de tudo tem um ataque de histeria e vira-se contra o amigo que lhe ia emprestar o dinheiro para voltar a São Petersburgo, mas exalta-se e propõe um duelo, que o zoólogo aceita de imediato, sem ter nada a ver com o assunto, e apenas movido pelo ódio. Daí surge uma boa lição da natureza humana. Tchékhov não é extravagante, antes controlado e com uma excelente noção de ritmo.
Realizado por Sidney Pollack a convite do próprio Gehry, que rejeitou outros documentários sobre ele, Sketches of Frank Gehry é principalmente sobre o processo de conceptualização e o trabalho manual do arquitecto. Pela familiaridade entre ambos, há temas como a infância, a mudança do nome Judaico, a admiração por Alvar Aalto e pelo hóquei no gelo, o trabalho de equipa, a ida do Canada para Los Angeles, as críticas negativas, que são acessíveis e discutidos. As raízes modernistas e a tentativa de se expressar através dos materiais, até uma cisão completa com todas as regras e estilos surgem também num registo muito pessoal e íntimo. Grande parte do foco está no museu Guggenheim de Bilbao, com contribuições interessantes das pessoas envolvidas, havendo vários testemunhos de artistas e arquitectos ao longo do documentário.
Com uma montagem muito amadora, The Pervert's Guide To Cinema é narrado e escrito por Slavoj Zizek. O filósofo defende que o cinema é a arte dos pervertidos, pois não dá o que desejamos, diz-nos o que desejar. Dividido em três capítulos, analisa vários filmes de diferentes eras do cinema no seu Inglês macarrónico como Matrix, Os Pássaros, Psycho, filmes dos Irmãos Marx, O Exorcista, O Testamento do Dr Mabuse, Alien, O Ditador, Mullholand Drive, Dr Strangelove, Fight Club, Vertigo, Solaris, Persona, Eyes Wide Shut, A Pianista, Dogville, ou seja, tudo de topo. As considerações que o Esloveno faz são muito aleatórias (a ligação entre o sorriso do gato de Alice que perdura quando ele desaparece e o desejo de dançar materializados nos sapatos de The Red Shoes? Flores serem proibidas a crianças?), indo aos sítios onde as cenas são passadas no filme. Outros dos temas lançados são por exemplo os níveis do espaço ou da relação entre as personagens, a serem o id, ego e superego, a voz nos filmes sem corpo, a imortalidade das figuras masculinas de Lynch e ideias Freudianas. Claro que vale a pena por ser uma discussão de filmes bastante interessantes, e Zizek diz que para compreender a realidade de hoje em dia é preciso o cinema.
Com um óptimo cuidado estético, Format Perspective é um documentário sobre pessoas envolvidas no skate na Suécia, Irlanda do Norte, Irlanda, Londres (com o editor da revista Kingpin), Alemanha e Espanha. Em vez dos skaters, são os fotógrafos a falarem sobre as cenas locais. A edição, com muito trabalho em cima, faz com que tenha uma fotografia nostálgica, como um filme que parece queimado pelo sol. Os diferentes fotógrafos falam das motivações, no trabalho de colegas que lhes interessa e no que buscam nas imagens que tiram. Uma voz independente e um produto muito bem executado.
Baseado no livro de Kathryn Stockett, The Help tem como personagem principal uma mulher negra que ao crescer já sabia que iria ser empregada doméstica. Cuida de crianças brancas enquanto as dela crescem com outras pessoas, e essas crianças brancas têm os próprios filhos, e uma delas quer escrever um livro sobre a perspectiva das amas negras. Inicialmente relutantes, após algumas tragédias, muitas aceitam falar. A descriminação para com quem criava as filhas, que não podia usar as mesmas casas-de-banho que as crianças brancas é o pólo que comanda todos os sentimentos das diferentes personagens. Os cenários são magníficos, das grandes casas do Sul, bem como os interiores, num filme feito para os Óscares, com grandes valias.
O designer Mathieu Lehanneur, cujas criações têm um forte carácter biológico e científico patente nas inúmeros peças que tem desenhado em conjunto com cientistas, tem um livro dedicado às peças, bem como às imagens que o inspiraram para cada peça, e o processo. O resultado final é quase sempre deslumbrante.
Sem dúvida dos projectos mais estranhos, Anna Nicole é um filme da peça/ópera sobre a vida de Anna Nicole Smith. Talvez seja uma adaptação dos tempos modernos de muitas tragédias, o que é certo é que é uma produção muito elaborada, com mais de 40 cantores em palco, idealizada por Mark-Anthony Turnage. Se houvessem poucos motivos para duvidar desta ópera, acrescente-se o facto de ser uma produção Inglesa. Confesso que não conheço nenhum libreto moderno, mas os cenários apesar de obviamente modernos, são muito bonitos. Ainda assim, parece uma piada que se esgota rapidamente, sendo os seios da falecida actriz o ponto central de todo o primeiro acto, sendo o segundo reservado para o marido idoso e o filho Daniel, que morreu antes dela.
Barthes, que segundo o próprio não tem paciência para ser amador da fotografia sequer, procura definir pelas suas palavras a força que certas fotografias têm. E é nas suas palavras que reside o problema da sua expressão. Reconheço-lhe o génio e a escola, mas a forma de escrevem em dez linhas o que podia ser dito em uma é exasperante. Sei que dizer isto de uma figura dadas palavras como Barthes parece provocante, mas a minha incompatibilidade é de há muito. A imagem fotográfica e o pêndulo entre a vida e a morte são dois interessantes conceitos mentais de A Câmara Clara. Quantos às fotografia, muito bem escolhidas, com comentários acertados que denotam um bom olhar, finalizando com uma teoria sobre a nossa memória colectiva e a morte, através de uma fotografia da mãe, o que fica sempre bem.
Em 2003, Louis Theroux vai ter com famílias Americanas que vive em comunidade com valores racistas de extrema direita, descendentes do KKK. Nas questões que faz tenta impor a visão dele em vez de deixar as câmaras fazerem o relato, o que é algo incomodativo, bem como as perguntas disparatadas que faz, como pedir para dormir na casa de uma pessoa que acabou de conhecer, Tom Metzger, famoso pela actividade como orador e escritor dentro dessa temática é o ponto central da história. O agente dele desperta uma curiosidade no narrador, pois já esteve preso por tráfico de cocaína, e um dos organizadores de um evento onde Metzger vai falar convida-o para ir ver a casa uns dias antes do evento, decorada com várias insígnias nazis, com vários filhos. Em Louis and the Nazis, a estupidez leva-o a levantar a suspeita sobre ele próprio ser Judeu, levando a uma discussão em casa das pessoas que ficam reticentes quanto a eles e que se expõem como aquilo que são. Chegado o dia do evento, há muita gente lá reunida, incluindo Lamb & Lynx, que são o alvo do segundo documentário. Preparadas pela mãe para serem um duo, estudam em casa com a mãe que as educa. O avô foi o responsável pelo tipo de ideologia da família, e uma das cinco filhas de Tom era responsável pela Liga Ariana Feminina. Entretanto, Metzger, o agente e Louis vão até ao México, tirando Louis da sua posição confortável, e o que começam a fazer lá é tão estranho que tem imensa graça. Louis ofende Metzger, o que por piores que sejam as ideologias dele, não é o seu papel. Quatro anos depois, volta a estar com Lamb & Lynx, que mantém a carreira musical, num documentário mais curto chamado Nazi Pop Twins, mas muito mais bem executado, até por ter menos tempo de Theroux em frente à câmara. Num ano na vida delas, em que têm de viver com ameaças de morte, e estão a querer ficar mais independentes, há várias mudanças. Os protestos contra a mãe aumentam com a mudança para o Montana, tanto dos residentes, como das raparigas, sendo o documentário interrompido e ficando a ideia de um objecto incompleto.
Conhecidos como o melhor e o pior do futebol na America, os New York Cosmos foram uma equipa de estrelas. Once In A Lifetime é um documentário onde a história do clube em 1977 se cruza com o começo do futebol nos EUA. Aquela que foi a primeira equipa decente do país e a adaptação dos Americanos a este desporto, num tempo de ingenuidade em que até os investidores desconheciam o futebol, acabou por dar frutos. As histórias aparecem contadas pelos antigos jogadores, treinadores e pessoas envolvidas com os Cosmos e o futebol na América, incluíndo a mítica dupla de atacantes. É um documentário muito completo e bem montado.
Realizado pelo filho de William Colby, um agente da CIA, The Man Nobody Knew - In Search of My Father inicia com o percurso no exército e por todo o mundo em treinos e missões de Guerra contra os Nazis. Em Itália conhece a mãe do realizador enquanto faz diferentes missões, bem como no Saigão, Vietname e Cuba. Durante a administração Kennedy fez parte de uma das épocas mais decisivas do século XX e esteve presente em vários dos pontos onde os Estados Unidos estiveram activos. Importante foi também o relacionamento com a mãe (não fosse isto realizado pelo filho do casal) e o papel dela ao lado dele, inverso à complexidade de todas as relações que ele tinha, que o levaram a comandar a CIA, e depois a ser afastado. Com muitas imagens da época e relatos de familiares e colegas é um filme com uma perspectiva única e com bastante material. A busca não é dada por finalizada, pois a morte de Colby numa canoa no rio que gostava não parece fazer sentido.
Uma produção conjunta da Finlândia, Alemanha e Austrália (?), Iron Sky não pode ser julgado pelo mesmo padrão dos filmes de ficção-científica de Hollywood. Com animações péssimas e efeitos especiais ainda piores que o humor, a premissa de que havia Nazis na lua, que se preparam para regressar à Terra, e por isso aprendem os costumes dos Terráqueos, é engraçada. O astronauta que eles capturam é negro, e tal como todos os terráqueos, é um idiota. A missão dele é permitir aos nazis extraterrestres falarem com a presidente Americana, mas claro que a chegada à Terra corre mal. Há coisas com piada como a influência do Ditador de Chaplin ou Sarah Palin como presidente, ainda assim, fica bastante aquém.
Cem artistas, na sua maioria latinos, foram convidados a interpretar Qees de oito polegadas. Não são customizadores habituais, mas alguns aplicam técnicas interessantes, sendo Swab Toyz uma colecção boa, com o propósito de ajudar a luta contra a SIDA.
Chanel - Collections and Creations não é a monografia em formato de mesa de café que a casa Parisiense merecia, ainda assim é um livro que vale a pena ler, escrito por alguém exterior à marca. O perfume N.5, os princípios seguidos por Coco e as homenagens dos criadores que se seguiram são alguns dos focos, bem como o preto e branco que, obviamente, marca a estética.
Reprodução conjunta dos quatro números de Newton's Illustrated, cada um dedicado a um tema como a fama ou nudez. Fotografias belíssimas a preto e branco (exceptuando algumas do último número), encenadas, que traduzem requinte e luxúria.
Into The Abyss é o projecto final de Werner Herzog, relativo a Death Row, lançado em 2011, elabora nas entrevistas e acrescenta muitas outras filmagens e entrevistas com pessoas envolvidas no processo de tirar a vida a um homem, com Herzog sempre inquisitivo. O realizador considera que os seres humanos não devem ser executados, ainda que imagens do crime de Michael Perry, de como a casa ficou após o homícido e uma reconstrução por parte do xerife mostrem a crueldade dos crimes. Para passar a noção da gravidade do crime, entrevista o irmão de uma das vítimas, a irmã e filha de outra e várias outras pessoas que contribuem imensamente para a história, numa perspectiva apaziguadora e com um final em vista.
O primeiro filme de Wong Kar Wai em Inglês é uma ocidentalização de muitos momentos e sentimentos orientais para a óptica das massas. Em My Blueberry Nights, uma rapariga (curiosamente um símbolo dessa transposição, filha da Ravi Shankar, mais conhecida por Norah Jones) tenta reencontrar uma pessoa num bar onde o dono lhe diz que as sobremesas acabam sempre quase todas, menos a tarte de mirtilos. Ela muda-se de cidade para esquecer o rapaz, e encontra um policia em Memphis que tem um hábito de beber após o divórcio. Apesar de ser muito simpático para ela, é abusivo para com a ex-mulher, que também tem problemas com o álcool. O filme acaba por se extremamente lento e entediante por causa desse ciclo. Para o quebrar, a amizade com a nova rapariga que aparece (Natalie Portman, muito bem), é despachada a toda a pressa. Mantém-se em contacto com o dono do bar em Nova Iorque e o seguimento da amizade deles é uma carga de clichés.
Acontece eu não saber que tipo de filme me é apresentado. E também acontece que eu queira ver filmes que vão ser maus. Em Pasadena, um rapaz vai ter uma casa para ele e os amigos, onde organizam uma festa para as pessoas da escola. No entanto, ninguém conhece a pessoa que faz anos, o que não impede que aparece muita gente. As músicas tocam alto, partem-se coisas, e o Project X é o trabalho de uma das personagens, que está sempre a gravar um vídeo. Parece um longo videoclip, sendo a ênfase mais nas musicas do que na história, que é apenas uma sequência de cenas aleatórias. Uma espécie de American Pie para os mais novos.
Há livros que não recebem nenhum destaque, mas que acabam por ser as mais-valias nas bibliotecas. Full Bleed é um exemplo latente de como até com grandes nomes (e um trabalho a esse nível), as teias da distribuição podem salvar muitas carreiras, e renegar outros livros ao esquecimento. E é exactamente contra esse esquecimento que as muitas fotografias (304 páginas) lutam. Cingindo-se ao espaço físico de Nova Iorque, há no entanto três décadas diferentes de fotografias de mais de quarenta fotógrafos, a maior parte nomes cimeiros e com grande representatividade no que toca ao skate. Soberbo não só o exercício nostálgico para alguns, o revisitamento histórico para outros, mas igualmente um fantástico livro de fotografia técnica, não fosse o skate pioneiro em inúmeras técnicas de registo fotográfico e fílmico. Não se pode dizer que ou os fotógrafos ou os skaters tenham mais destaque no livro, pois é claro que a grande inspiração é a rugosidade da cidade Norte-Americana, cujas ruas são retratadas com grande reverência e beleza neste conjunto de fotografias.
Andy Warhol Giant Size é um daqueles esforços hercúleos que faz a ponte entre o catalogue raisonné e a porta introdutória para um artista a ser usada por um público mais vasto. A posição de Warhol na arte moderna mantém-se aquela que sempre desejou, e se as duas mil imagens divididas pelos sete quilos deste livro parecem um número absurdo, é certo que com a produção da sua Factory dava para encher bastantes vezes este número. Muitas das obras que marcaram a pop art, muitos objectos pessoais e mundanos, fotografias privadas, alguns textos críticos e um pesado emblema para a sala de estar que atesta a vanguarda dos habitantes.
Como o subtítulo denota, Maximum Rad é um livro de mesa com as capas mais icónicas da revista Thrasher. Bem organizado e ilustrado, as fotografias são complementadas com excertos dos skaters retratados na capa na actualidade, onde explicam a importância de terem conseguido aparecer na capa, bem como o seu envolvimento actual com o skate. As lendas, os casos únicos que não ficaram para a história e claro, as manobras, num livro digno de destaque em qualquer sala.
Ainda antes do apogeu de produção que foi a última digressão/album, Kanye West ameaçava produções arrojadas e com um grande sentido estético a ir buscar influências Greco-Romanas, mescladas com o futurismo das luzes quentes. Glow In The Dark é um livro que divide a digressão em duas partes, pois foram espectáculos reformulados, através da objectiva de Nabil Elderkin. As fotografias deixam bastante a desejar, pois com tanto material disponível, esperava-se mais, no entanto, a entrevista com Spike Jonze é bastante interessante, e o ponto central do livro. O CD incluído, é mais do que dispensável, pois apenas tem alguns instrumentais incompletos, não acrescentado nada ao livro.
Apesar de já ter alguns anos, The Concrete Wave é um livro curioso sobre a história do skate. Como em tudo, há algumas coisas que ficam de fora, mas algumas inclusões inesperadas da perspectiva histórica do autor Michael Brooke, compensam. O grande problema do livro, prende-se com a edição e grafismo, que é absolutamente horrível e datado, no entanto, os textos do livro propriamente dito (excusavam-se os avisos quanto ao conteúdo no prólogo, e os indices) são bem escritos e cativantes.