Com mais de uma década em cima, On The Way To Work é um livro fundamental para compreender o entrevistado, Damien Hirst, e o negócio/conceito da arte contemporânea no novo milénio. Sempre desconheci da existência deste livro de entrevistas de Gordon Burn ao artista Inglês, mas após folheá-lo, e surpreendido por um preço irrisório, percebi que era algo que me ia entreter. E é esse o elemento central destas doze entrevistas. Se os conceitos de morte e decadência são o que mais facilmente extravasa das obras de Hirst, a sua aproximação teórica assenta na diversão e numa jovial disposição para encarar os números que lhe surgem embutidos. A personalidade de Hirst leva a que de tempos a tempos se deixe assomar pela necessidade de chocar e ofender, ainda assim, depois de ler os seus argumentos ao longo de um livro tão extenso, que cobre vários anos da sua ascensão (1992 a 2000), é difícil não querer acreditar nas ideias que ele vende. E há o querer, e é inegável que o controlo que ele exerce sobre o mercado se destina ao processo de venda. Mas isso é assumido, e nesse objectivo sincero há tanta beleza poética como há vida nas suas obras como A Thousand Years ou Away From The Flock. A vida esteve lá, os títulos são magníficos, e o que os nossos olhos vêm (neste caso, lêem), inspiram o leitor e levam-no a olhar para si e a crer fazer melhor. Alguns dos temas são a admiração de Hirst por Francis Bacon, as suas exposições colectivas iniciais, o crescer em Leeds, a fama e dinheiro, Charles Saatchi e artistas da sua época. Há várias contradições, mas a forma destemida como se entrega a cada explicação é impressionante, e o melhor são mesmo as suas opiniões sobre a arte que ele próprio faz. Lê-lo a falar sobre as Dot Paintings só pode fazer o leitor acreditar que sim, aquilo é efectivamente uma fórmula soberba que merece ser continuamente explorada. E é nessa venda de ideias que se acaba de ler um livro cuidado, com uma apresentação fantástica, pronta a figurar em galerias e museus de todo o mundo, com a sensação que esse é um dos objectos mais pessoais, com que se pode dialogar.