O último livro de Alberto Manguel que vai aparecer por aqui durante uns tempos, A Reader On Reading é conduzido por excertos de Alice no País das Maravilhas, e contém trinta e nove artigos sobre ler e escrever e a identidade que a literatura nos dá. As referências constantes a D. Quixote e alguns clássicos perfazem a parte central da obra, mas também surgem várias referências biográficas, nomeadamente alguns artigos que lidam com o Judaísmo. Não é o melhor livro de Manguel, mas vale sempre a pena dar uma leitura.

Com um dos melhores genéricos iniciais que já vi, Enter The Void de Gaspar Noé é passado no Japão. Filmado numa perspectiva pessoal, o início é uma introdução a um submundo de drogas, onde um traficante adolescente é morto, reaparecendo como um fantasma para olhar pela irmã. A fotografia é belíssima e corresponde a uma estética pouco utilizada algures entre o low-fi e o psicadélico, mas o filme acaba por perder um bocado da energia e dinamismo inicial, sendo demasiado longo mesmo.

Passado em Charlestown, Boston, The Town é realizado por Ben Affleck que também aparece no papel principal. É um filme de acção, com a funcionária de um banco no centro de tudo, pois é quem entrega o caso ao FBI, e a a um bando de assaltantes, pois sem saber ela envolve-se com um deles e conta-lhe tudo. Tem piada para quem gosta de filmes de assaltos.

Em The Kids Are Alright os pais são piores que os filhos. Um dador de esperma conhece os filhos que fez, que cresceram com duas lésbicas. Todos parecem concordar que é saudável ele passar mais tempo com a família, até que uma das mães se envolve com ele e isso cria fissuras na família. É um filme alternativo, mas bem conseguido.

Do ano transacto, Love and Other Drugs é uma comédia romântica e bastante ligeiro, mas Jake Gyllenhaal é realmente dotado e o filme é engraçado pela química que desenvolve com Anne Hathaway. Um vendedor sai do emprego e passa a trabalhar na industria farmacêutica com o irmão, e de entre todas as mulheres, acaba por desenvolver uma afeição especial por Hathaway, que tem Parkinson e o repele por querer lidar com isso sozinha.

Divorciado, um avô interpretado por Michael Douglas é Solitary Man. Anda com uma mulher mais nova pelas conexões do pai dela, mas por acompanhar a filha dela para ser aceite numa universidade, que é a antiga dele, envolve-se com a filha. Entre as raparigas, perde o emprego e ninguém o ajuda, pois ele engana a mulher e escapa impune, falcatrua na venda de carros e ninguém repara, até que lhe cai tudo em cima de uma vez. É decente, mas neste caso, não acho que um final daqueles funcione.

Jackass 3D, para a minha geração: épico

Baseado numa história real, The Fighter é sobre o relacionamento entre irmãos boxistas, "Irish" Micky Ward e o irmão que ajudou a treiná-lo. Não acho que seja um filme bem conseguido em termos de história.

De Rodrigo Cortés, Buried é um filme de 2010 onde um Americano está enterrado numa caixa no Iraque. Tem um telemóvel e um isqueiro e, para além dos contactos por telemóvel com o governo e a família, nada pode fazer. É curioso, mas obviamente limitado, ainda que seja um desafio superado, conseguir fazer um filme apenas com um actor dentro de uma caixa.

Filmar um poema de Allen Ginsberg foi um desafio interessante a que Rob Epstein se submeteu, e com bastante sucesso. Tinha falado de Howl aqui, e o filme tem uma banda sonora de jazz, situado em 1955, quando Ginsberg tinha vinte e nove anos, e sua visão do mundo tinha sido escrita em quatro partes. O julgamento é o ponto central da narrativa, acerca da validade e do bom gosto do livro, visualmente guiado por animações, ao mesmo tempo que Ginsberg revela que nunca o pensava ver publicado, tal era a cisão com o estilo, desta forma de escrever mais perto do pensamento. Não é muito profundo no tema, mas é muito interessante e bem realizado, e obviamente que vai ser fantástico para os fans da beat generation.

Com o intuito de renovar a bailarina principal da companhia, uma nova versão d'O Lago dos Cisnes é preparada em Black Swan, onde a bailarina tem de ser capaz de fazer dois papéis, de cisne negro e branco. Entre o coreógrafo e a mãe, Nina, que consegue o papel, abate-se sob a pressão emocional e oscila entre Odette e Odile, os cisnes. Toda a sensibilidade e delicadeza pontuada pela banda sonora culminam no destino trágico, tudo excelentemente executado por Darren Aronofsky, no entanto, a actuação de Natalie Portman fica assim registada como o nível máximo da excelência e da entrega para as próximas décadas.

De 2006, Factory Girl assinala o envolvimento de Edie Sedgewick com a Factory de Andy Warhol. Com linhagem a um dos assinantes da Independência e das famílias que construíram NY, Edie começou por entrar nos filmes de Warhol e ficou famosa por ser bonita. Com a inveja e amuos de Warhol, mete-se nas drogas por causa da depressão da rejeição da Factory. Acabava por confiar nas pessoas e é uma vítima da ambição, mas também sempre soube que nunca havia de durar muito pela sua fragilidade. Uma história trágica e interessante, cujo filme mostra de maneira competente.

Noventa textos, cartas, conferências de Mark Rothko ao longo da vida, escritos entre 1934 e 1969 são reunidos em Writings on Art. As datas representam o ano a seguir à primeira exposição, e o da véspera do suicídio. Como as ensinava, muitos dos textos focam-se nas capacidades artísticas das crianças. Pela natureza completista e a teoria dos textos, é um livro mais útil academicamente do que para leituras recreativas, mas até vale a pena tomar contacto com as ideias escritas de um dos maiores vultos da pintura pós-moderna.

Como o nome indica, 50 Modern Artists You Should Know é um sumário de alguns dos artistas mais reputados do século passado. Para quem tenha poucos conhecimentos em arte moderna e queira saber mais, é um bom ponto de partida, pois além de algumas obras em boa resolução, tem uma biografia de cada artista, onde se incluém nomes como Cézanne e Gauguin, mas também Pollock ou Damien Hirst.

De Will Bingley e Anthony Hope-Smith, como o nome indica, Gonzo - A Graphic Biography of Hunter S. Thompson é uma biografia do jornalista, sob a forma de novela gráfica. Viciado em álcool e drogas, com a prisão juvenil, Hunter S. Thompson foi enviado para o exército, e passou depois a viajar por ser sempre despedido de todos os sítios para onde ia.
Se há uma vida que foi explorada pelas suas qualidades fora deste mundo foi a de Thompson. Andar com Hell's Angels, hippies de São Francisco, candidato a cherife de Aspen, protestante em Chicago, lutas contra o sistema com Oscar ao lado, Las Vegas em 71, o ódio a Nixon, tudo faz parte do mesmo mito.
Os desenhos a preto e branco têm pouco texto, e as quase duzentas páginas lêem-se depressa, com um bom prefácio de Alan Rinzler, antigo editor dele. Uma estreia de ambos os autores, não sendo um falhanço, tem pouco de espectacular.

Da autoria de Élisabeth Védrenne, Charlotte Perriand não é nenhuma monografia extensa, apenas um livro dedicado ao ícone do modernismo. Perriand criou peças de mobiliário funcionais, e noutro período, com formas orgânicas, tendo vivido o século XX praticamente todo. Curiosa e independente, as máquinas eram para ela uma maneira de aliviar a carga no homem. Sendo uma das fundadoras da Union des Artistes Modernes, o lugar na história esteve assegurado, principalmente desde a estreia nas colaborações com Pierre Jeaneret e Le Corbusier, que ficou impressionado com ela enquanto era nova, e depois com Jean Prouvé. O prazer das viagens, definido pelos seis anos de exílio no Japão, cuja estética abriu ao mundo ocidental, é marcado nas peças de diversas influências que produziu.

Cometbus é uma das mais lendárias zines do mundo, com décadas de existência a partir de Berkeley. Despite Everything reúne inúmeros artigos, começando na dedicação às bandas punk locais, e traçando o percurso através dos textos de Aaron e de todos os colaboradores. As páginas não estão numeradas, mas creio que são mais de 500, e no tipo de letra característico da Cometbus, fica quase impossível de ler tudo de uma assentada, no entanto é um registo curioso.

Cinquenta ilustradores compõem An Illustrated Life, com boas biografias e obviamente várias imagens dos sketchbooks. Robert Crum e Chris Ware são os nomes mais sonantes, e como em todas as compilações, há trabalhos mais banais, mas também obras de arte que parecem desumanas. É um conjunto interessante de artistas, e cujo processo pode ser analisado nestes rascunhos, nalguns casos, bastante elaborados.

Com música de Aphex Twin, Sleep Furiously é o primeiro filme realizado por Gideon Koppel. Em homenagem à localidade Galesa de Trefeurig, ele filma o modo de vida e as paisagens sem se intrometer na comunidade, que na calma, revela um grande prazer pela vida, e actividades que correm o risco de desaparecer com a força do progresso.

The Gilded Gutter Life of Francis Bacon não é uma biografia, pois Daniel Farson era amigo dele, mas traça o percurso desde o nascimento abastado na Irlanda, de pais Ingleses que Francis Bacon odiava, pela violência da guerra civil e da Primeira Grande Guerra, e o ser expulso para Londres aos dezasseis anos por vestir as roupas da mãe. O autor reconhece que Bacon podia ser um traidor para as pessoas que o rodeavam, e revela o revés da sua homossexualidade, as invejas que sofria, e principalmente, as tardes a beber nos clubes privados do Soho. Em Tanger, Ginsberg, Burroughs e todos os homossexuais à procura de rapazes encontram um lugar onde as suas cabeças se despreocupavam, também com o álcool como motivador. No fundo, a pobreza, o jogo e depois o reconhecimento absoluto foram algumas das barreiras auto-impostas que Bacon teve de ultrapassar. O livro entretém e é bem escrito.

Descrito por George Steiner como 'uma carta de amor à leitura', A Reading Diary - A Year of Favourite Books são os escritos feitos por Alberto Manguel ao longo de um ano, ao ritmo de um por mês, tirando notas e reflexões. Mistura as impressões dele com o mundo real, dos acontecimentos que ocorrem no mesmo espaço temporal em que ele lê. Interessante, mas não de topo.

O significado das bibliotecas ao longo da história, começando na do próprio Alberto Manguel, é o tema central de The Library At Night. O prazer de ler e organizar, as associações entre cada livro, são alguns dos rituais bem explorados pelo autor, de quem já aqui falei, e que bastante me apraz.

Ross Kemp On Gangs são dezasseis episódios para a televisão sobre gangs de todo o mundo. Seria fácil dizer mal do actor Ross Kemp, mas na realidade até é bastante competente a apresentar o programa e a desenvolver as motivações dos criminosos. São de variada natureza, desde os rapazes das favelas Brasileiras por causa das drogas, os Mongrels da Nova Zelândia mais ligados às motas e tribos, Neo Nazis em Orange County, violência da MS-13 em El Salvador, gangs Jamaicanos, entre muitos outros. A quem se interessar pelos temas, vale a pena.

Adaptação da novela gráfica de Frank Miller, Sin City mostra como três pessoas estão envolvidas na corrupção de Basin City. A transposição das tiras para filme é muito curiosa, toda a estética do filme é realmente inovadora, e a construção da história funciona bem.

Remake cena por cena do filme Espanhol Rec, Quarantine é passado em Los Angeles. Como é exactamente igual, mantém-se a minha opinião. As poucas cenas adicionadas nada trazem à história.

Dirigido por Mel Gibson, The Passion Of Christ é um filme em Hebraico que começa com a traição de Judas. Retratadas são as últimas horas de agonia pela mão dos Romanos. O filme ficou conhecido pela constante violência contra Jesus, e é isso o ponto central do filme. O guarda roupa é fantástico, quanto às representações, nada a dizer, no entanto os cenários parecem muito parcos.

O duo Belushi-Aykroyd compõe os The Blues Brothers, um filme típico dos anos 80, que tirando a presença de várias lendas do soul, é extremamente chato e longo.

Um dos filmes que eu me lembro de ver no cinema durante a minha adolescência, Black Hawk Down tem como pano de fundo a Guerra na Somália. Na altura fiquei bem impressionado, mas analisando-o hoje, falta uma maior coerência na história, estabilizando-se rapidamente, sem encontrar soluções narrativas.

Um filme Inglês, Hush Your Mouth desaponta, principalmente em comparação com os últimos que tenho visto, que são de qualidade superior. Numa Inglaterra urbana degradada, um homem responde à sua consciência, parando com a diversão de alguns. As pessoas perto dele lidam de maneira diferente com a morte, como exemplo, a irmã envolve-se com o assassino. O resto da família, a mãe e o irmão tentam reorganizar as vidas. Não é mau, mas não é bem conseguido.

Não sendo um apreciador do trabalho de Laura White, The Stuff of Images acaba por parecer um livro redundante. Foi-me oferecido pela artista, e é um extenso catálogo com muitas esculturas e aplicações que montou ao longo dos anos, bem como muitos dados biográficos e entrevistas. As fotografias são todas de bastante qualidade.

Built To Grind - 25 Years of Hardcore Skateboarding é um livro de 320 páginas compiladas a partir dos arquivos da Independent. As histórias dos quatro fundadores da Independent e da Thrasher são ilustradas com excelentes fotografias, começando com momentos históricos da primeira vaga do skate. Para além das questões técnicas, há grande enfâse nos skaters que celebrizaram a marca e o estilo agressivo que lhe é associado. A quem se interessar por skate, vale mesmo a pena, até porque dá uma história bastante íntegra, com algumas das individualidades mais interessantes, que acabam esquecidas por modas mais passageiras.

Um Western ultra-violento, que apesar de promovido por Yoko Ono e John Lennon, andou banido e desaparecido desde o seu lançamento em 1970, El Topo é um filme bastante singular. Com o realizador Alejandro Jodorowsky no papel principal, ele e o filho desafiam quatro pistoleiros, numa espécie de acid-trip violenta, e muito original.

Um filme Argentino, de Pablo Trapero, Familia Rodante começa com uma avó de 84 anos, que é convidada para o casamento da sobrinha, levando com ela o resto da família numa viagem de mil quilómetros. Os treze membros e quatro gerações reunidos na caravana dão azo a discussões a toda a hora e acidentes. É mesmo muito giro, sendo manifestamente uma influência de Little Miss Sunshine.

Tropa de Elite 2, a continuação, tem uma alteração na dinâmica entre as personagens em relação ao primeiro filme. A prisão com os 40 maiores criminais do Rio de Janeiro tem uma revolta, e um liberal, defensor dos direitos humanos dos prisioneiros entra lá para resolver a situação, mas o BOPE mente-lhe e executa quase toda a gente. O comandante do BOPE é afastado para um cargo superior, e começa uma luta contra o Governo por abandonarem o BOPE e os antigos agentes. Mete a família, e com isso o filme ganha alguma profundidade, sendo bastante satisfatório, no geral.