Feito à medida do volume de Adam Lindemann dedicado à arte contemporânea, o mesmo autor lançou este ano Collecting Design, contando com vinte e dois especialistas entrevistados. São definidos como coleccionadores (a paixão), galeristas (dedicação e a especialização pelas iniciativas individuais), tastemakers (estilistas e decoradores) e peritos em leilões (mercado). As motivações de cada um para coleccionar mobiliário do século XX, a raridade, o conceito de design art, edições limitadas e as oscilações do mercado, são alguns dos temas abordados. Dá para tomar contacto com alguma da história do design, com muitas imagens, sendo no geral um livro bastante satisfatório para quem quer aprofundar a temática, e entusiasmante para quem quer aprender sobre este negócio emergente.

A poetisa Londrina Jo Shapcott, recipiente de várias distinções, recebeu com Of Mutability o Costa Book Award de 2010. Mortalidade e mudança, alegria em estar vivo e a fragilidade do corpo são as temáticas do volume. A escrita dela é moderna, com uma voz cerebral e autónoma, tendo menos força os poemas de inspiração helénica do que o registo normal.

O grande destaque de The Boy In The Oak, de Jessica Albarn é para os materiais com que as ilustrações são impressas, e a organização do livro. Um rapaz que cresce esquecido pelos pais numa quinta, descobre um carvalho e pega-lhe fogo acidentalmente, por a mãe o chamar quando acendia uma fogueira. As fadas que zelavam pelo bosque, incomodadas, queriam que ele tivesse uma lição e portanto, fizeram com que ele fosse assimilado pela árvore. Sem ele, os pais mudam-se para a cidade e uma nova família ocupa a casa que se dizia amaldeiçoada. A filha e os pais embeleza o sítio, até ao dia em que precisam de lenha. As fadas tentam puxá-la para a árvore, mas é o rapaz que provando a sua bondade, a salva, fazendo o mesmo por ele.

A sumptuosidade e a beleza puritana da última exposição de Mark Ryden: The Snow Yak Show foram preservadas numa reprodução em postal das dezassete pinturas da exposição no Japão. Fazendo uso do cinzento e cores celestiais, a inocência que parece tornar aquelas criaturas as únicas habitantes do mundo, sobressai e deixa-nos como observadores apenas. É realmente um talento único.

JR


A escala assombrosa dos trabalhos de JR são o tema desta monografia da série Designer & Design. Contém uma introdução de François Hébel e fotografias dos espaços em confronto onde JR insere as suas pessoas. O centro do trabalho são as expressões delas, e o antigo writer, que começou no metro de Paris e rapidamente alastrou as suas fotografias a preto-e-branco para o resto do mundo, tem realmente um grande impacto nas localidades que escolhe. A capacidade de ele fotografar a área submetida a uma intervenção, de cujas impressões em galerias são a maneira de fazer dinheiro, tornaram-no num gigante, que atrai atenção para os espaços globais onde põe as fantásticas imagens.

Da autoria de Chris Carle, com várias ilustrações das personagens à medida que os jogos da série foram saindo, Street Fighter: The Complete History tem também arte conceptual e interpretações dos lutadores. Visualmente, é um tributo de grande qualidade ao jogo que revitalizou as arcadas e criou rotinas que opunham dois jogadores. Uma visita curiosa aos vinte anos da série, não exaustiva.

Começa com o discurso que teve de ser proferido pelo filho do Rei George V, o Duque de
Iorque. Nessa aparição pública, ele expõe as debilidades da fala. The King's Speech segue então o príncipe nos treinos que teve de fazer, pela relação dele com a nova pessoa encarregada de o ajudar.
Não sendo o primeiro filho, não quer que o irmão case com uma mulher divorciada, pois isso faz com que seja ele próprio o herdeiro por o irmão ter de abdicar, deixando-lhe a posição de destaque a ele, que não se sente preparado para ser rei, nem a mulher quer ter as obrigações reais. A combinação de Colin Firth e Geoffrey Rush é algo de mágico, dois actores de topo num filme que celebra um momento decisivo como foram os anos da Segunda-Guerra, e os discursos motivadores do rei.

De Henri-Georges Clouzot , Salário do Medo/The Wages of Fear de 1953 foi-me recomendado, e fiquei surpreendido.
Numa aldeia da América do Sul, Las Piedras, um grupo de quatro homens tem de transportar nitroglicerina sem os meios adequados. Os Europeus dividem-se em grupos de dois, um em cada camião, deixando para trás toda a profusão de vozes e personagens que existiam na aldeia, uma mistura de locais com Franceses e Americanos. Acaba por se tornar mais silencioso, mas não menos excitante, ao longo de duas horas e meia, pois obviamente que explora bem mais do que uma simples viagem de camião para extinguir um fogo. Muito bom.

My Own Private Idaho marcou uma época, até pelo final repentino da vida de River Phoenix. Realizado por Gus Van Sant em 1991, começa com um jovem caído numa estrada, à espera por uma vida diferente. Os dois jovens de Portland, prostitutos, envergam por uma via de descoberta, vivendo na rua e sendo aliciados. Phoenix e Keanu Reeves funcionam muito bem, indo a Itália, procurar a mãe de Phoenix que já havia regressado aos Estados-Unidos. A amizade deles sofre um revés, pois Keanu recebe uma herança e larga a rua, acabando Phoenix na mesma estrada em que começou, assaltado por desconhecidos, para depois ser recolhido por Keanu Reeves. Muito bem filmado, servindo o imaginário do viajante para o desconhecido popularizado por tantos livros, incluindo City of Night, que terá sido uma das influências para a versão final do argumento.

You Don't Know Jack é a biografia de Jack Kevorkian, o médico que popularizou o debate sobre o suicídio assistido nos Estados Unidos. Um lançamento directamente para a televisão, e que já deu prémios a Al Pacino no papel do médico, onde a velhice e doenças terminais são o centro do debate. É, por isso, bastante forte. O estado do Michigan proibe Kevorkian de continuar a ajudar as pessoas a morrerem, e pela sua idade avançada, a luta contra a lei é urgente. Todos os esforços acabam por ser em vão devido à influência da igreja. O médico acabou por ser preso, estando hoje em liberdade, sob a condição de não auxiliar suicídios. Tal como a luta de Jack Kevorkian tinha sido de um homem acima dos outros, também Al Pacino se excede no papel.

Audrey Tautou está muito bem em Coco Before Chanel. A história da estilista começa com a espera pelo pai no orfanato, que nunca vem. A ambição leva-a a andar com um homem mais velho e é aí que aprende as
regras da alta-sociedade, mas acaba por ser um outro Inglês que a satisfaz. O inicio e o fim são estimulantes, mas o título não mente, o filme cinge-se ao relacionamento dela com dois homens, e eu continuo a não perceber o propósito deste tipo de biografias. Com tanto por onde escolher, por exemplo o que foi feito em La Vie En Rose, parece uma homenagem que fica aquém das expectativas.

Filme Norueguês de Tommy Wirkola, Dead Snow tem como protagonistas um grupo de jovens estudantes de medicina, rapazes e raparigas que vão para uma montanha nevada passar as férias da Páscoa. Um sítio que os nazis supostamente tinham tentado ocupar, mas a população retaliou e eles teriam ficado congelados na montanha. Os jovens são atacados por criaturas, que se revelam serem zombies Nazis. Eu não entendia a fixação de algumas pessoas por zombies Nazis, mas o conceito é genial, e neste filme, dão aquilo que se intitula por uma lição de fragatada. A quem gostar de filmes gore, não podia recomendar mais este filme.

Um dos filmes icónicos sobre o submundo da droga em Manhattan, New Jack City de 1991 tem um bom ritmo, mostrando o lado dos agentes secretos da policia e o dos traficantes. O criminoso Nino Brown mantém-se como um ícone da cultura popular, iludido com os lucros do crack e perdendo a ligação à realidade.

Emílio Gauna, um jovem de vinte e um anos, muda-se para um bairro novo com um amigo de infância, que lhe arranja trabalho. Gauna, orfão, fica impressionado com o doutor Valerga e enquanto se distrai com os colegas da oficina, ganha mil pesos numa aposta de cavalos. Nos três dias e três noites seguintes, compromete-se a gastá-los todos, com os amigos ao lado. Depois de um final misterioso, ele passa os três anos seguintes a desvendar, numa trama onírica, um mistério que tem Emílio a repetir os passos de quando ganhou o dinheiro, entre a ilusão e a realidade.
O Sonho dos Heróis de Adolfo Bioy Casares tem o problema de não se cingir ao grupo, pois o livro torna-se confuso com novas personagens, ainda assim, é seguramente, muito especial.

O Herói das Mulheres reúne um conjunto de histórias de Adolfo Bioy Casares que misturam o fantástico com a banalidade, com personagens que procuram escrever o seu próprio destino. Um estudante de direito que se isola num rio para estudar e vira contrabandista, sofrendo na expectativa e pela posição, sem que realmente aconteça algo. Um empregado de sanatório nas pampas descobre que a dor dos doentes é usada para produzir energia. Exemplos do engenho de Bioy Casares. Para se admirar como bem escreve, basta 'Uma Guerra Perdida', meia dúzia de páginas sobre um mulherengo. Noutra excelente, um rapaz que sonha vir para Rosario, vê o seu destino remexido para ter uma vida normal, pois em vez de se tornar num criminoso, misteriosamente dormiu três dias, para que nada se sucedesse.
A história que dá nome e encerra o livro é sobre uma caçada a um tigre que pode ser um homem, que pode existir ou ser um sonho. Bom final, bem escrito, mas uma má história, que não mancha a qualidade incontestável do autor.

Colaborador de Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares vai merecer mais umas entradas, de seguida. Plano de Evasão, é um romance curioso, até pela actualidade que o filme Shutter Island lhe concede, dadas as semelhanças.
Henrique Nevers desembarca numa ilha com o cargo de a administrar. Costel é o governador das ilhas, e os duelos na prisão fazem-se mentalmente por Nevers, desconfiado de todos. Mal chega, o tenente Nevers quer logo voltar para França, de onde foi enviado por causa de uma chantagem com documentos roubados, deixando uma mulher amada, mas acaba por se dedicar à causa. Empolgante e extremamente inventivo nas experiências de Castel e nos seus resultados, Bioy Casares constrói livros que buscam no fantástico o que falta à racionalidade.

Alberto Manguel, Argentino tornado Canadiano que vive em França, bebe daquela tradição Latino-Americana de conjugar ensinamentos helénicos com aplicações dos governos actuais, cruzando com escritos medievais. Em City of Words, a identidade que certos livros deram a povos e épocas é medida, contando-se autobiografias, livros de história, teologia e mitologia. Manguel, nascido em Israel por o pai ser lá embaixador, e amigo de Borges (uma das pessoas que liam para ele quando cegou), faz muitos pontos interessantes, no que acaba por ser uma lição de história.

No sol de Los Angeles, o detective Doc ergue uma vida longe das ilegalidades do passado. O agente Bigfoot volta a aparecer-lhe na vida, prende-o e incrimina-o, para depois o soltar. A pedido de uma ex-namorada, infiltra-se num caso que conjuga criminosos e polícias. Com o surf e ácidos por trás, Vício Intrínseco é o último livro de Thomas Pynchon, que ao fim das primeiras cem páginas, vê o rumo da história num abismo. Todas as referências culturais que apontam para uma época específica e muito bem descrita com os carros, as séries de televisão, os músicos ou os políticos.
Uma crítica comum a Pynchon, é que acrescenta personagens desmesuradamente, e este pode ser um problema do livro. Pynchon já foi capaz de melhor, e um não-tão-bom livro dele, vale igualmente a pena, mas fica-se a desejar maior fixação na narrativa singular.

Da autoria do jornalista Joaquim Magalhães de Castro, radicado em Macau, Viagem ao Tecto do Mundo assinala uma viagem de dois mil kilómetros ao longo de mês e meio ao Ngari no Tibete, que fica a semana e meia de Lhasa, sem transportes regulares. O local, isolado até ao século XVII, revelado por exploradores Portugueses em Goa, inspirou Magalhães de Castro, território explorado em outras viagens à zona de que o autor é conhecedor, incluindo bons apontamentos históricos.
É bem escrito no âmbito da literatura de viagens, se bem que a atitude do autor não seja a mais perspicaz. Por irem de boleia, sujeitam-se a péssimas condições. Ainda que o autor critique os turistas ocidentais que pagam milhares de dólares para visitar a região, os constantes subornos e favores pagos, essenciais naquela parte da China, fazem-me ter pouca vontade de me submeter aos humores dos locais. Basicamente, ele gosta de ser explorado por camionistas que o levam ao frio, não vendo nem encontrando mais do que os turistas normais e com a particularidade de, pelas aventuras, se chatear com o companheiro de viagem, naquela acção Portuguesa que é acompanhar o amigo até encontrar uma estrangeira e isolar-se assim dele. Vale a pena a leitura, até pelas personagens que encontram pela estrada.

Da colecção A Biblioteca de Babel dirigida por Jorge Luis Borges e com a magnífica capa de origem, O Olho de Apolo de Gilbert Keith Chesterton reúne cinco contos. Antigo ilustrador, e Católico convertido do Anglicanismo, Chesterton escreve muito bem.
O Olho de Apolo tem um sacerdote que venera o sol, a morar no mesmo prédio que duas excêntricas dactilografas que abdicaram de uma fortuna, com um padre de visita a desvendar um homicídio com lógica e limpidez.
O mesmo Padre Brown surge na Escócia em A Honra de Israel Gow, mais uma vez para visitar o amigo, detective Flambeau, e ser ele a desvendar o mistério por trás do desaparecimento do último herdeiro de uma família nobre, afinal banal, exaltando a virtude de um homem honesto.
O Olho do Doutor Hirsch é uma história em Paris, durante a Segunda Guerra, em que um segredo de guerra vai confundir uma população e mostrar duas pessoas antagónicas.
Os Pés Estranhos, o jantar d'Os Doze Pescadores Verdadeiros, marca o regresso do Padre Brown, para desvendar o paradeiro do faqueiro desaparecido, e de um dos quinze empregados que aparece morto.
Os Três Cavaleiros do Apocalipse é sobre o poeta Paul Petrowski e os vastos pântanos da Prússia à Sibéria, onde os cruéis marechal Von Grock e tenente Von Hocheimer o querem ver morto, anulando os intervenientes. Tudo do melhor.

Uma adaptação do livro de Lin Qianyu, Detective Dee and the Mystery of the Phantom Flame é uma versão ficcionada sobre uma história de 689 AC, em que teria a primeira Imperatriz sido coroada, contra a vontade de muitas pessoas influentes. Na antecedência da coroação, várias pessoas são mortas e com isso a cerimónia caminha para um adiamento. A construção de uma estátua para a cerimónia, uma reprodução titânica da imperatriz, está no meio de tudo isso.
Para resolver as mortes, o tal Detective Dee é chamado do exílio a que a própria imperatriz o tinha submetido, e num misto de animação com actores reais, lutas de poder, cenas de luta, efeitos especiais, e tudo mais o que seria de esperar. Para quem gosta de filmes de acção, deve ser bastante bom, para o público geral, é preciso estômago para aguentar tanto tempo.

Uma adaptação do livro de Kazuo Ishiguro de 2005, Never Let Me Go tem três personagens centrais envolvidas entre si, cujo propósito de vida parece ser fornecer os orgãos. Carey Mulligan e Keira Knightley enquanto actrizes, são o melhor que o filme tem. Conhecem-se numa escola que prima pela excelência dos alunos, no entanto, nesta realidade alterada, o futuro deles passa por serem doadores, como lhes comunica uma professora. O desmitificar deste sonho e de um mundo que na sua filosofia tem pouco (ou muito?) em comum com o nosso, fazem deste um interessante exercício.

Com o marido pedófilo encarcerado, uma mulher vai casar com um homem cujo ponto de interesse para ela, é ser normal. Em Life During Wartime, diferentes relações entre pessoas estranhas cruzam-se, entre famílias disfuncionais. Os clichés tão exagerados com que procura brincar acabam por se tornar irritantes.

Usando uma universidade de negros organizada tal como uma normal, como cenário, Spike Lee não usa nem a ironia nem o comentário social, nem uma wake-up call para os negros. School Daze é mesmo racismo exacerbado. School Daze podia ter piada, não fosse uma má piada racista e as terríveis cenas de dança. Algures entre Glee e Grease, muito mal escrito.

George Clooney é um fotógrafo, The American, fazendo o filme mais dispensável da história do cinema. Da relação com o padre Benedetto ou do romance com uma mulher, é demasiado simples, tudo muito silencioso e solitário.

Os filmes de terror e ficção científica marcaram o público geral Americano mais do que qualquer outro, e Nightmares In Red White and Blue é um documentário em que diferentes realizadores falam sobre o fascínio pelos monstros, as causas sociais para a sua popularidade nos EUA e a evolução dos medos. Aparecem muitos realizadores e cenas de diferentes filmes, é um olhar curioso para quem gostar do género.

Quase que podia jurar que Pret-a-Porter já aqui tinha estado, pois tenho-o em casa e lembro-me de o ver na sala, no entanto, como me foi recomendado, resolvi vê-lo outra vez. De 1994, com Sophia Loren, Marcello Mastroianni, Julia Roberts, Kim Basinger, Forest Whitaker, Rupert Everett, entre outros, é sobre o mundo da moda, em Paris. Um estilista morre engasgado, e com isso abre-se a objectiva para outras pessoas que rodeiam a indústria, a jornalista com a adjectivação exagerada e que faz tudo pelos exclusivos, o fotografo-celebridade que se aproveita de todos. Precede as últimas incursões pela moda no cinema e por isso é algo refrescante, ainda que ligeiro.

O primeiro filme de Gus Van Sant, Mala Noche de 1985 é uma adaptação das palavras do poeta Walt Curtis. Também rodado no Oregon, a história é sobre um homossexual e uns Mexicanos, mas o facto de ser rodado em 16mm, a preto-e-branco, dão-lhe um aspecto francamente amador.

The Wild Hunt é um filme Canadiano e uma confusão em cinema. Um conjunto de actores a gravar um filme de vikings vê o cenário invadido, e o mundo medieval conflui-se com a vida moderna, quando um rapaz tenta reconquistar a namorada que vive agora entre guerreiros. Há momentos curiosos, mas claro que com tamanha mistura, deixa uma sensação muito estranha.

Mike Bassett - England Manager é um filme de ficção (que depois acabou por dar uma série de televisão), em que o treinador do Norwich, que faz tudo pelo clube, acaba por aceitar o cargo de seleccionador da Inglaterra para os últimos três jogos da qualificação para o Mundial. As coisas correm mal, mas acabam por se qualificar através de outra equipa. Com um discurso que devia ser o da resignação, altera tudo ou muito pouco, dado que continua a ser um grupo desunido e caricato. Entretém, mas não é nada de especial, ainda que o actor que faz de Mike Bassett seja hilariante.

Documentário sobre Nova Orleans pós-Katrina e o que a comunidade negra passou, com filmagens dos momentos que antecederam o furacão, Trouble The Water pede emprestada a visão de uma família. No mundo deles, a família está despedaçada, com conhecidos presos ou viciados em substâncias, não conscientes do perigo que se aproxima. É uma visão privilegiada do desastre e do impacto directo nos habitantes, pois a família tenta levantar-se, mudando de localizações, perante a ineficácia do governo ao limpar a cidade. Como em todas as tragédias naturias, os maiores afectados são os pobres, neste caso a população negra, pois sem evacuação nos transportes públicos, houve gente que não tinha maneira de sair dos bairros.
Mais real não pode haver.

The Last Letter é uma adaptação teatral dirigida pelo documentarista Frederick Wiseman. Nele aparece a actriz Francesa Catherine Samie a dizer um monólogo da perspectiva de uma Judia Russa, dirigida ao filho, perante uma morte certa. Do ponto de vista da representação é uma coisa assombrosa, e apenas com uma hora de duração, o texto é um capítulo do livro Life and Fate do escritor Soviético Vasily Grossman.

No blog da marca estão algumas fotografias que tirei em Tóquio.

A Carolina tirou-me umas fotografias com a Aurora, a usarmos as t-shirts que ela fez. No blog dela estão os detalhes. Já tinha sido ela a desenhar os nossos decks.

Tymothy Treadwell é um apaixonado por ursos e sabe dos riscos, vivendo obcecado em proteger os animais. Para dar voz à sua luta, filma mais de 1000 horas da vida dos ursos no seu habitat natural, onde ele também vive. Após a sua morte, atacado por um urso, Werner Herzog deu uma narrativa às imagens e apelidou-o de Grizzly Man. Por trás da paixão pelos ursos, revelam-se as causas da obsessão de uma pessoa perturbada que apesar de ter um sentido de responsabilidade para com os ursos, tentava agir como um deles. As paisagens são obviamente magníficas.

Public Housing é um documentário de Frederick Wiseman sobre as más condições de habitação das populações negras nos subúrbios Americanos. A forma de Wiseman editar é uma maneira diferente de fazer documentários, pois não tem narração e as cenas demoram muito tempo. Em contrapartida, parece-se mais com o mundo real, exercendo um fascínio difícil de explicar. Os bairros consumidos pelas drogas, ratos e falta de emprego, são retratados, bem como a forma como a lei os tenta ajudar. O documentário tem uma duração longa, mas o tema fica muito bem tratado, sem ter qualquer intervenção do realizador.

Sweet Movie do Jugoslavo Dusan Makavej tem uma imagem bastante má e datada, no entanto, a força e ambição do filme fazem com que seja uma interessante amálgama de freakshows e devassidão. Uma miss mundo 1984 do Canada, quase surda, que fica louca, e uma comandante de um navio cheio de doces, matando os homens que sobem para o navio, são as personagens principais. Os homens têm estranhas desvirtuações, acabando num cena final que é o que se pode chamar, uma grande salganhada. Amor, revolução, juntos, misturados, em cima um do outro. Apesar de ser de 1974, só após o lançamento pela Criterion em 2007 é que um público maior teve acesso a ele, estando ainda banido em muitos países.

A história verídica do passado de um jogador de futebol Americano, The Blind Side deu um Oscar a Sandra Bullock. Big Mike, que está sozinho, é albergado por uma família por iniciativa da mãe. Apesar do tamanho, é cuidadoso demais a jogar futebol Americano, mas lá conseguem levá-lo ao sítio e todas as universidades o querem, formando-se como Michael Oher, que hoje joga nos Ravens.

Uma co-produção Anglo-Americana, The Special Relationship foi realizado em 2010 para ser exibido em televisão. sendo o terceiro de Peter Morgan que lida com o governo de Tony Blair. A história parece ficar incompleta e limita-se a assinalar alguns factos como a maneira como Blair ignorou as promessas à França e Europa e se vira para Bill Clinton, dando preferência à agenda Americana, iludido pelas promessas e preparações Norte-Americanas. O conflito na Irlanda do Norte, o escândalo Lewisnky, e a guerra do Kosovo são alguns dos temas com que os dois líderes se entendem e desentendem, e neste olhar curioso, Michael Sheen, mais uma vez, revela o actor terrífico que é.

O bem intencionado documentário I'm Still Here relata a ascensão e suposta queda de Joaquin Phoenix, que ao querer-se libertar do sucesso, desiste da carreira para lançar um álbum de rap. É entretenimento, mas é pena que o final não seja algo de realmente bombástico, e que entretanto se tenha tornado público que não era verdadeiro.

Jay And Silent Bob Strike Back foi o primeiro filme dedicado exclusivamente a Jay e Silent Bob (os mesmos que apareceram aqui). O tipo de humor é o mesmo, e apesar do grande potencial de Jay, e sendo o filme aquilo que se pode esperar de Kevin Smith, talvez tivesse mais graça se fossem só piadas na loja de conveniência. Neste caso, os dois nativos de New Jersey partem para Hollywood para impedir a realização do filme em que as suas personagens de banda desenhada são as estrelas.

Em (Rec) de 2007, uma jornalista vai ver como é a noite num quartel de bombeiros Espanhol, na tentativa de ver alguma acção. Há uma emergência num prédio, onde uma idosa começa aos gritos e os bombeiros e a policia são chamados. Quando pessoas começam a ser mortas por ela, a policia sela o prédio e eles ficam presos lá dentro por risco de contaminação, onde os ocupantes começam a ficar infectadas por uma menina Portuguesa supostamente possuída. Não é muito longo, mas é bem conseguido, até pelo estilo amador/falso-documentário, uma boa opção neste caso.

The Wackness de 2008 é passado em Nova Iorque em 1994, a banda sonora é muito boa, mas o filme é francamente entediante, muito obrigado, e bom dia.

Algumas das sugestões que me dão, eu aponto-as e depois não sei a proveniência, mas acerca de Kicking And Screaming, onde um filho entra numa competição amigável com pai, que volta a ser pai e torna-se avô, no mesmo dia, tornado-se num treinador de futebol, eu penso que me recomendaram foi o filme de 1995 com o mesmo nome. Ou espero eu, porque este é horrível.

Partindo de um convite muito gentil, compus um conjunto de coisas que gostava de ter para o blog Dflektor.
Antes de começar, convém explicar que já pensava em fazer umas entradas relativas a álbuns que não chegam a toda a gente, mas sobre os quais convém falar. Durante um ano, no primeiro dia de cada mês, vai haver então um disco que eu disponibilizarei aqui. Alguns vão ser recentes, outros mais antigos, abrangendo vários estilos.


Orphans of Cush - White Noize

Se no Reino-Unido o hip hop acaba por ser preterido pelo grime, um estilo com anos de desenvolvimento e um sentimento de autenticidade, não é por falta de entusiasmo pela cena Americana, mas a falta de talento e também de apoio ao estilo, sendo que o grime ou garage conseguiram estabelecer-se no mainstream.
Parte do colectivo Triple Darkness, os Orphans of Cush são um projecto colaborativo de quatro mcs, M9, Cyrus Malachi, Kyza e Masikah, e o álbum White Noize foi lançado em 2009.
Das diferentes categorias em que o hip hop se desenvolveu, o som que os Orphans of Cush fazem foca-se no liricismo, sendo que as comparações mais óbvias serão com os Wu-Tang Clan, ainda que neste caso com produções mais negras e hipnóticas, com muitas vozes e trompetes a intrometerem-se, quase todas emprestadas de outros artistas (Havoc, Mathematics, Lord Finesse, Rza, entre outros).
Apesar da qualidade óbvia deste grupo, o principal problema prende-se com a capacidade de concentração deles num projecto, o que prejudica a divulgação. Se é fácil de encontrar pela internet conversas acerca do grupo, geralmente elas focam-se na obscuridade em que eles se movimentam, e nas poucas pessoas que tiveram oportunidade de ouvi-los.
A criatividade dos quatro Orphans of Cush com as palavras não tem rival na actualidade, sendo qualquer um deles capaz de discorrer sobre as ruas de Londres durante vários minutos sem perder a mão do ouvinte. Se White Noize fosse de 1996 e dos Estados-Unidos, estávamos a falar de um clássico, no entanto, dadas as condições, fica remetido para categoria dos lost classics, talvez quem saiba para ser descoberto daqui a uns anos por outra geração. Se alguém acabar inspirado pelos Orphans of Cush, White Noize pode-se cimentar como a primeira obra-prima do hip hop Britânico, e o melhor é que as músicas estão gravadas, prontas a serem descobertas por qualquer um. Coeso, nocturno e muito preciso nas palavras, podem comprovar com o disco disponível no topo.