Um homicídio que ficou popular, cujo desenvolvimento foi presenciado por Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William S. Burroughs teve uma versão ficcionalizada por estes dois últimos, ícones de geração beat. And The Hippos Were Boiled In Their Tanks precede a fama deles por mais de uma década, escrito enquanto eram dois jovens desconhecidos em 1944, alternando os capítulos entre eles. Os mesmos dias vividos pelas duas personagens que convivem no mesmo grupo de amigos em Nova Iorque, saltando entre apartamentos e vivendo para o álcool e com a falta de dinheiro constante, unidos por algo que não a amizade.
O crime real relatado foi um rapaz que matou o mentor homossexual e mais velho, punindo-o pelos danos psicológicos de não se ter sentido livre para partir num navio.

Do Norueguês Bent Hamer, Kitchen Stories de 2003 é um filme excelente, carregado de humor nórdico. Passado em 1950, o instituto para estudar hábitos domésticos Suecos vai ao mundo rural da Noruega para ver os movimentos dos homens solteiros na cozinha, prometendo-lhes um cavalo (de madeira) como recompensa. Um dos voluntários é mais problemático, mas acaba por ceder ao agente encarregue de o observar, formando uma parceria enternecedora. As questões que levanta quanto ao destino deles e à suposta vida em comum, são um aditivo a uma história que já era em si bem contada.

Robert Rodriguez conjuga em Machete aquilo que pode ser o limite do tipo de filmes que tem vindo a explorar, poeirentos, violentos de tempos a tempos, mas mainstream com trejeitos a série B. Danny Trejo é um herói chicano que depois de traído pela organização que o contratou, trata de ser ele próprio a encarregar-se da vingança. O papel de Robert de Niro como Republicano é hilariante, pondo a atenção na imigração, uma caricatura que terá mais realidade do que a desejada, entreposta com violência, sangue e tiros e claro, machetadas.
A maneira como o projecto foi desenvolvido a partir de um falso trailer e toda a atenção que tem gerado tem sido um fenómeno social interessante.

De Alex Boese, o criado do website Museum of Hoaxes, Elephants On Acid and Other Bizarre Experiments relata várias experiências, desde Frankensteins vitorianos a testes aos nossos sentidos, como a nossa percepção do sabor da Coca Cola e da Pepsi, aparentemente indistinguíveis para os amantes de cada facção se lhes retirarem o rótulo. Os dez capítulos vão desde testes aos hábitos do homem, até ao modo como ele reagiria perante o fim do mundo, tudo com bases científicas e sustentado por trabalho de laboratório. É informativo e também informal.

Filme ambicioso de Jacques Audiard, A Prophet é um olhar denso sobre a vida na prisão, por um rapaz que vai preso por atacar polícias, e onde tem de começar a trabalhar. Toma contacto com as hierarquias e é-lhe pedido que mate um homem. Ele segue outros presidiários, mas a religião passa a ser o mais importante. Malik, apesar de ser muçulmano, é pescado pelos brancos da Córsega, líderes das actividades presidiárias, subindo no mundo do crime tanto dentro da prisão como fora dela, educando-se desde aprender a ler, até aprender a mandar.

Tal como na edição dedicada aos pintores, The Secret Lives of Great Filmakers é um livro muito divertido, com ilustrações óptimas de Mario Zucca. E, segundo o título, ignora os feitos e foca-se no lado absurdo dos criadores, que têm tanto de génios como de loucos. Entre outros, D.W. Griffith, Chaplin, Cecil B. DeMille, Disney, John Ford, Hitchcock, Buñuel, Bergman e Tarantino.

Realizado em 1965, ainda em Inglaterra, por Roman Polanski, Repulsion é um clássico do terror psicológico, o medo do banal através de personagens femininas. A uma Belga de visita a Londres é feito um convite para sair, iniciando uma espiral pela loucura, vendo-se entregue à sua imaginação quando o amante da irmã a leva de férias. Curioso, mas não é um filme indispensável.

Sprski Film (A Serbian Film) realizado por Srdan Spasojevic tem sido falado pela violência psicológica, e por bons motivos. Um actor pornográfico retirado, que as colegas diziam mais ser um artista é aliciado a voltar, ganhando muito dinheiro com um novo filme de um artista-filósofo que não lhe diz o conteúdo. É bastante violento a nível visual, com fotografia e sonografia muito boas, tal como as interpretações. A relação com o filho esvai-se e toda a vertente de choque acaba por tornar o filme uni-dimensional, o que neste caso é benéfico, pois o espectador fica mesmo imerso e a sem pontos de referência para o que é real ou imaginado. Com cenas para ficar de boca aberta, realmente os bons filmes aparecem de onde menos se espera (e até nos géneros em que menos se espera).

Depois da Inglaterra falhar a qualificação para o mundial, um novo treinador é chamado para a selecção, deixando o clube liberto, depois uma fase de sucesso. Revisitando 1974, o filme The Damned United faz uma recriação da época, até na fotografia, para parecer um filme antigo. A arrogância e o cinismo do novo treinador caem mal na direcção que o vai receber, sendo o projecto afinal uma vingança pessoal, que dura 44 dias apenas.
Claro que a realidade, superando qualquer ficção, levou que Brian Clough se tornasse o primeiro treinador Inglês  a ganhar duas taças dos campeões seguidas, com o modesto Nottingham Forrest, e não sendo este filme um retrato cândido para ele, sem dúvida que o mau génio inspirou um filme sobre a amizade, perseverança, e no fundo o sermos verdadeiros para connosco.

Dez pessoas recontam a vida do comediante em American - The Bill Hicks Story. Morreu com apenas 32 anos e desde cedo decidiu dedicar-se à comédia, principalmente stand up, e por isso aos 23, já era um veterano. O impacto de cogumelos e as tripes psicóticas em que entrava, juntamente com o álcool fazem parte do capítulo da sua destruição, no entanto, a família recebeu-o assim que ele manifestou desejo de voltar a casa por ter cancro, ainda que continuasse a trabalhar. A parte final, dos depoimentos dos amigos e colegas é bastante tocante, mas alivia saber que Bill Hicks partiu realizado, imortalizado como um dos melhores comediantes modernos.

O rio na China e o novo país que se tem vindo a desenvolver, com poucas semelhanças com a China tradicional, desaguam no maior projecto hidro-eléctrico do mundo, uma barragem, e o custo das irrigações, com a criação de um novo lago para a população. De Yung Chang, Up The Yangtze, tem tanto um olhar sobre as novas gerações Chinesas, como outro sobre os mais de dois milhões de pessoas que têm de ser realojadas. A viagem no cruzeiro que leva as pessoas a despedirem-se do rio e das zonas que vão ficar submersas levanta importantes questões, bem ponderadas no filme.

Mais um filme Inglês, 4 3 2 1 traduz-se em quatro raparigas, três dias, duas cidades e uma suposta chance. As lágrimas habituais nestes filmes "urbanos" dão lugar a um filme de acção, que é isso que na realidade é, e o uso de alguns actores e cenários Americanos vêm dessa ambição.
É um filme excitante, e os dias de cada uma são bem estruturados. A forma como tudo se conjuga no fim é bastante engenhosa. Noel Clark (grande actor, que também entra no filme) e Matt Davies mostram mais uma vez que esta fórmula não está esgotada, num projecto de salientar.

O patriarca de uma família morre, e por isso todos os filhos e netos têm de ir ao funeral. Contada por Zooey Deschanel, a única pessoa sensata na família, Eulogy mostra os passos que ela tem de dar para arranjar um discurso para o funeral, que não consegue conjugar por os familiares não saberem nada de bom para dizer. Filme ligeiro que não compromete.

Corre o ano de 2055 e The Age Of Stupid mostra a suposição de como será o mundo, com Las Vegas enterrada em areia, a ópera de Sidney a arder, Londres submersa, o Taj Mahal com abutres, entre outras. Animais, livros e filmes, todas as peças de museus, foram guardadas num arquivo a 800 quilómetros da Noruega, o último reduto da humanidade, onde o narrador passa a defender de que perdemo-nos com a destruição até 2015, podendo ter aproveitado para garantir a continuidade da raça. Os exemplos que ele usa, são situações que todos permitimos nos dias de hoje, com consequências que podem ser bastante catastróficas. As provas autênticas das mudanças climáticas que temos vindo a sentir, a necessidade da evolução sem limites ou imposições morais, são comprovadas por todos os activistas que aparecem, pessoas fantásticas cujas vidas tentam ter um impacto na humanidade.

Ao longo de duas horas e meia, o documentário The Corporation aborda a maneira como as corporações alteraram a nossa vida e como controlam a controlam. Os negócios que se concentram apenas no lucro como objectivo sem limites, onde nenhuma estabelece um valor pré-definido para ter lucro são alvo de críticas. Tem a curiosidade de ter muitos "convertidos", presidentes de empresas cujas práticas eram ilegais ou imorais, mas que decidiram mudar a sua posição.
No limite, esta prática capitalista leva à privatização de genes, água da chuva, entre outras absurdidades, numa espiral que só acaba quando tudo for privado e uma minoria mandar na maioria. Vale a pena.

Filme de 2009 dos irmãos Coen, A Serious Man é uma história de um professor de matemática que vive segundo a tradição hebraica, partilhada com os realizadores. É uma sátira ao lado miserável dos Judeus, pois ele vai ser trocado pela mulher, e a apatia continua a ser a constante da vida, com o plano afectivo desfeito e as finanças não muito melhores. Uma história engraçada, de um homem sério que não tem muito porque viver.

A Suspeita, animação de 2000 de José Miguel Ribeiro com cerca de 25 minutos, em stop motion e com os bonecos em plasticina, é bastante boa. A história passa-se num comboio, numa carruagem que se vai enchendo aos poucos de criaturas muito engraçadas, e onde há um assassino. A caracterização dos bonecos é muito gira e as vozes também, com um desfecho em grande. Não admira que tenha ganho um Cartoon D'Or.

Bastardy é sobre Jack Charles, um aborígene Australiano, vicíado em heroína há 30 anos e sem-abrigo. Rouba coisas aos amigos do realizador Amiel Courtin-Wilson e a ricos. Aparecem recortes de jornais com os feitos e depois as quedas de Jack ao longo dos anos, pois em 1971 ele fundou a primeira companhia de teatro aborígene e alcançou algum sucesso em várias frentes. A qualidade de imagem não é muito boa e a vida dele é profundamente desinteressante, não percebo quais foram as motivações para fazer este documentário, ainda para mais ao longo de sete anos, em que ele ia sendo preso.

Shortbus, uma ode ao sexo, em forma de filme, onde aparte do shock content, não tem qualquer interesse. Cheio de pessoas a quem orgasmos são os momentos-revelaçao, é bastante mau.

Todd Phillips, o realizador do Road Trip, filmou muitos anos antes um documentário que foi banido e portanto, que nunca foi passado na televisão que o comissionou. O motivo foi Frat House ser sobre os rapazes de uma fraternidade, e os protagonistas, dizerem que tinham sido enganados (alguns estava bêbedos quando assinaram os contratos), quando na realidade foram os pais influentes que não quiseram que o filme saísse. A experiência universitária Americana é mostrada, com gravações ao longo de um ano, um Road Trip sem a ficção e com mais álcool e violência. Os "irmãos" são uma caricatura tão óbvia de como é possível ter a educação paga pelos pais e mesmo assim não saberem nada, que até tem piada, pois ao fim de serem expulsos, os realizadores têm eles próprios de passar pela experiência noutra fraternidade.

Confesso que vinha a adiar The White Ribbon pelas altas expectativas, e pela beleza estética de toda a campanha promocional. Por lhe querer dedicar a devida a atenção e por ter Michael Haneke em muito boa conta, só agora me pude sentar e deliciar. É tudo o que eu poderia esperar (talvez com menos meia hora fosse ainda melhor). Uma história de vingança de uma família que acha que a mãe morreu injustamente, a morte paira sempre no ar, com uma sucessão de acidentes na vila a levantar suspeitas. A fita branca era posta no braço ou no cabelo para as crianças se lembrarem da pureza, numa comunidade que parece perturbada por desvios comportamentais. A fotografia e os actores são intocáveis e imbatíveis. Assim vale a pena.

Pequeno livro que estende a duração das 21 projecções da exposição Shallow da autoria de Malcolm McLaren, e dos artistas convidados, Musical Paintings é uma mistura feliz. O corta e cola e apropriação dos vídeos pornográficos do antigo manager dos Sex Pistols associado às peças mais tradicionais dos artistas dá uma boa mistura, com um bom trabalho editorial num livro conciso. Não é nenhuma revelação nem tem obras primas, mas é bem executado.

O criador de moda Karl Lagerfield está no centro de Lagerfeld Confidential, um documentário que explora algumas das paixões e vocações do estilista, como o trabalho como fotografo, que têm sido referidas ao longo de entrevistas e publicações. Tem piada que sendo Alemão, fale em Francês, e é obviamente muito talentoso e criativo, a um nível quase sobrenatural, e é bom ver de perto o que ele faz. Eu tento sempre ler entrevistas dele, pois é bom ouvi-lo falar, e é alguém com quem me identifico e cuja atitude me influencia. Pouco fala de moda, apenas de alguns métodos que ele usa e da sua posição, e até nisso se vê a grandeza do 'Kaiser'.

Da série Photofile, o volume dedicado a Henri Cartier-Bresson contém o esperado. Num formato reduzido e apenas com um texto introdutório de Michael Brenson, as fotografias de Cartier-Bresson falam por si. É para mim o grande fotógrafo dos nossos tempos, e as 63 fotografias aqui contidas realçam a posição intocável que ele tem na história da arte moderna. Traz ainda uma bibliografia e videografia. Indispensável para quem se interessa por fotografia.

A obsessão por discos e a importância que as lojas de musica independentes tiveram para muitos de nós é a temática para Need That Record, um documentário de 2008. É bastante triste e um sinal dos nossos tempos, pois para além de músicos, aparecem os testemunhos de donos de lojas e de clientes que as mantêm. Analisa a indústria, as editoras e as rádios e em como é um sistema que através de chantagens, falhou os ouvintes. As lojas que aparecem têm todos um destino previsível, e ainda bem que este documentário registou para a eternidade o valor sentimental que elas tiveram para os clientes.

Divertido, um pai faz sucesso da filha um sucesso sem nenhum talento aparente para a pintura. Com quatro anos começa a fazer exposições e a ter destaque nos jornais. My Kid Could Paint That acaba por ser mais sobre como os pais lidam com o sucesso dela, e depois com as duvidas sobre a autenticidade do trabalho, por ser supostamente o pai a acabar as peças. Não me vou alongar sobre o rumo, mas a forma como o documentário é conduzido, com o plano inicial alterado e o comentário ao nosso modo de contar histórias, é muito bom.

O documentário Crumb de Terry Zwigoff e produzido por David Lynch é sobre a dedicação de Robert Crumb ao desenho, mas também a maneira despegada como ele lida com a fama relativa. É amigável e disponível para discutir quase tudo e guiar o espectador por algumas obras, sendo o sexo um dos maiores motivadores. É importante referir que é também dado particular destaque às vivências dos seus familiares (o irmão mais velho, que aparece muitas vezes, suicidou-se antes do lançamento do filme). É um dos documentários mais bem recebidos por Hollywood, e 15 anos depois, continua a ser bastante bom, e com a constante ascensão da carreira de Crumb, mantém-se actual.

Da mesma série que já aqui tinha falado, Never Use Pop Up Windows dá algumas regras do webdesign que podem facilmente ser corroboradas ou desmentidas por citações. É um exercício curioso, nada mais.

Sendo Werner Herzog um realizador que aprecio, My Son, My Son What Have Ye Done foi um grande desapontamento. Baseado na história real de Mark Yavorsky, que matou a mãe, o filme é descrito como um filme de horror sem sangue, no entanto acho que é um passo em falso, que nem David Lynch como produtor soube remediar. Falta vida, falta algo que faça a audiência pulsar e querer saber mais sobre o criminoso que conseguiu escapar inicialmente do local do crime.

Boa edição do documentário de skate Brasileiro Dirty Money, com muitas imagens de arquivo para dar uma envoltura sobre a sociedade brasileira em geral. Aparecem muitos skaters antigo a falar do fascínio inicial e de como ficaram viciados, sentimento replicado por todos os skaters, dos altos e baixos da industria e das competições. No caso desta marca, que foi importante para a cena de S. Paulo, o empreendedorismo, dos vídeos para a roupa, foi o que os guiou, ocupando-se com os vídeos, de registar tudo.
O mais notável dos skaters que aparece é obviamente Bob Burnquist, mas é curioso ver o que fez a crew, para a musica, publicidade, para carreiras profissionais no skate, e a forma em como os valores da Dirty Money os influenciaram.

fotografia muito boa

Ao longo de quase três horas, Magnolia vive do acaso e coincidências mórbidas, no entanto, com o desenvolver, começam a aparecer sinais de que nove histórias diferentes têm pontos em comum. O filme é passado apenas num dia em San Fernando Valley, e na minha opinião, tem elementos a mais. É suposto ser uma obra complexa, e é certamente, com muitos elementos que dão azo a variadas interpretações, no entanto, a mim não me apelou, ainda que lhe reconheça a qualidade.

Bill and Ted's Excellent Adventure é um teen movie com uma dupla que abusa do 'dude' de maneira algo irritante. Sem conteúdo, com adições sem sentido à história, é dos piores filmes que já vi, com ambos a viajarem no tempo e assim presenciar os acontecimentos que deviam ter estudado na aula de história. Keanu Reeves bem se deve arrepender.

Não há melhor maneira de descrever About a Boy, do que dizendo que é um filme com Hugh Grant. Vale o que vale, com o actor a desenvolver uma parceria incomum com um rapaz que supostamente lhe ensina várias coisas sobre a vida, através do convívio. Entretenimento para massas, boa história, também não havia maneira de a estragarem pois não corre riscos.

Vodka Lemon, dirigido em 2003 pelo Curdo Hiner Saleem é um filme distinto, com localização numa aldeia da Arménia. A personagem de Hamo, viúvo que visita a campa da mulher diariamente, é fascinante, sendo os actores e cenários usados de uma beleza estonteante. É no cemitério que conhece uma mulher que trabalha num bar local, e no meio da miséria, tentam revitalizar-se em conjunto. Os resquícios de liberdade pós-Soviética não lhes trouxeram vantagens, mas no meio de toda a tragédia, há humor. No fundo, preferiam viver sob o comando dos Russos, pois sempre haviam mais coisas. A saudade é o sentimento que ecoa em todas as cenas, e recomendo vivamente este filme.

Estão três novas t-shirts disponíveis em organicanagram.com. Foram feitas em tamanho S, M e L, com a nossa própria etiqueta, sendo de qualidade superior e com um bom corte. A quem puder apoiar, agradeço.

Se há filmes com um ambiente único, A Divina Comédia de Manoel de Oliveira dificilmente pode ser replicada. A mulher em relação ao Homem e a Deus, o confronto da religião e descrentes, as obsessões que perseguem os humanos, o sentido sublime da musica, a convivência entre cépticos e revoltados são alguns dos conceitos tocados nesta obra de muito prazenteira visualização, com diálogos de Manoel de Oliveira com extractos d'A Biblia, Dostoievski, José Régio e Nietzsche.

De John Waters com Melanie Griffith, Cecil B. DeMented parte de uma premissa divertida, um grupo de cineastas jovens rapta uma estrela do cinema e obrigam-na a entrar no filme amador que estão a fazer, dirigido por Cecil B. DeMented, um louco que rouba alguns das loucuras a Cecil B. DeMille. A pureza do cinema sem concessões que ele advoga pode até ser partilhada em certa medida (muitas vezes transbordada), pela figura de John Waters, um realizador admirável na carreira ímpar que tem construído, e se algumas das suas insistências podem não servir um público mais abrangente, os seus filmes são pérolas na forma em como se impõem a tudo o que é convencional.

De Jim Jarmusch, Ghost Dog - The Way of the Samurai tem Forest Whitaker como um justiceiro moderno que segue os ensinamentos dos samurais, trabalhando para um mafioso através de um pássaro, e cujo estilo de acção lhe vai trazer problemas. Boa banda sonora, e Forrest realmente encarna a personagem, mas não me parece que haja mais para além disso no filme. Apesar de o final ser decente, a primeira meia hora é dispensável. As personagens são muito curiosas, o melhor amigo, dono de uma carrinha de gelados que só fala Francês, o construtor de um barco no telhado que fala Espanhol, os mafiosos Italiano-Americanos, a rapariga que se torna amiga de Ghost Dog. Pena não ambicionar a mais.

Manufactured Landscapes começa com o percurso longitudinal de uma câmara ao longo de uma fábrica absolutamente gigante e com milhares de operários, uma imagem muito marcante, e passa por analisar a nossa relação com a natureza e em como esta relação com a indústria não é natural. A cena seguinte são os milhares (!) de empregados que se vêem a aproveitar uma pausa. As fotografias (muito boas) da erosão que temos provocado na natureza são então o tema central, o trabalho do fotógrafo Edward Burtynsky. É um documentário com poucas palavras, mérito da realizadora Jennifer Baichwal, muito visual, pois as fotografias merecem todo o destaque. A maneira como chama atenção para a reciclagem de metal na china, desperdício enorme, para além de tóxico, são quase na totalidade computadores antigos enviados pelo mundo ocidental, entre outros problemas ilustrados por fotografias colossais como o monte de pneus, entrosamento de auto-estradas ou os carros no parque da fábrica, é meritória. A expansão da China e da quantidade de petróleo que precisam são preocupantes, as poucas vantagens, serão documentários como este.

Não sendo um apreciador da ideia em redor dela, a qualidade de Annie Leibovitz como fotógrafa é inegável, um talento único que necessita de muito dinheiro para se exercitar.
Os cenários construídos para ela são uma coisa abismal, e é isso que se pode ver em Annie Leibovitz: Life Through A Lens, seguindo-a nos trabalhos onde aparecem muitas personalidades e colaboradores a falar sobre a fotógrafa, que se especializou em retratos.
Há momentos curiosos, como antes de todas estas mega-produções, quando houve muitos anos de trabalho na estrada, que tanto apanharam Nixon, como o movimento hippie, os Rolling Stones, pessoas do bailado ou Schwarzennegger. A parte mais emotiva é dedicada a Susan Sontag, a amante, mulher de letras, que lhe deu profundidade ao trabalho. Conseguir transformar-se de fotografa de rock na Rolling Stone para editoriais da Vanity Fair é um feito notável, mas se a péssima gestão de carreira que faz há-de ser esquecida com o tempo, as fotografias que hão-de ficar, certamente a vão deixar na história.

Elephant, escrito e dirigido por Gus Van Sant é sobre os alunos de uma escola e como encontram o seu destino. Se a comparação servir de algo, não é um soneto, mas um poema de quatro versos simples, com alguma profundidade e mais do que aparenta. Pena o final ser tão pouco imaginativo.

Realizado por Éric Tessier, o Canadiano 5150 Elm's Way é um thriller psicológico passado no ambiente sufocante de uma casa. Uma adaptação do livro de Patrick Senécal em que uma família distinta, encabeçada por um pai com um sentido de justiça implacável, observa o tratamento que este dá aos traficantes e pedófilos do bairro. O tribunal familiar é interrompido por um novo morador no bairro, um jovem que acaba por ficar refém, e que para se libertar, tem de ganhar um jogo de xadrez. É um filme intenso, mas não asfixiante, com actores muito acima da média, também inserido no Motelx.

Inserido na programação do festival de cinema de horror Motelx, Centurion de Neil Marshall segue um centurião Romano, Quintus Dias, um sobrevivente em Inglaterra, cuja legião é dizimada e cuja aliança ao Império Romano é testada, pois são deixados ao abandono. As cenas de luta são particularmente muito bem cuidadas, e, não sendo uma produção de milhões, é muito bem conseguido a nível técnico.

Oferecido no Member's Pack desta nova época do Arsenal FC, Football Ambassador é auto-biografia de Eddie Hapgood, humilde capitão do clube e que na altura, meio do século passado, capitaneou a selecção Inglesa por um número de vezes que constituiu recorde. O livro tem a curiosidade de ser a primeira biografia de um futebolista, publicada ainda em 1945. Há acontecimentos que ele relata que são impensáveis nos dias de hoje, como o início de carreira ao abandonar o emprego numa leitaria para tentar jogar futebol, ou outros, como o orgulho em jogar pela selecção nacional, que era para ele motivo de maior orgulho, quase irrelevante pelos jogadores de hoje em dia. Sempre com a guerra presente, Hapgood teve de jogar frente a Hitler e Mussolini, entre outros acontecimentos, numa época em que o futebol era seguramente diferente. É um livro ligeiro, mas interessante.

The Girlfriend Experience de Steven Sodebergh é muito mau, dos filmes mais insignificantes que já vi. Sasha Grey com a cara de enjoada do costume a fazer de prostituta que tenta balançar a vida pessoal com a profissão, no clima económico em que vivemos.

François Ozon trata em O Tempo Que Resta de uma temática sensível, usando um fotógrafo de moda com um cancro em fase terminal como medidor da provisoriedade da vida. Ele não se dá com a familia, portanto esconde-lhes a doença, não tendo medo dos remorsos, pois vai morrer jovem. As cenas com a avó são belíssimas, destacando-se a elegância do actor principal, num filme muito seguro e competente.

A primeira incursão de Luís Miguel Novais no romance histórico, género de que me distancio, é sobre a figura de D. Miguel da Silva, primo do rei D. João III e Bispo de Viseu no século XVI. Quanto ao género, cabe-me dizer que me custar ler um livro sobre uma figura histórica onde factos se misturam com ficção, no entanto, A Janela do Cardeal é útil ao conceder pelo menos umas luzes sobre este Eborense que foi feito bispo de Viseu pelos inimigos (onde se incluía o rei seu primo, que tudo fez para o afastar de modo a perpetuar-se a Inquisição), para o manter afastado da corte de Lisboa e Roma, onde era querido entre os vários Papas com quem travou amizade, sendo que, não fossem as complicações dadas pela pátria que o fizeram perder tanto tempo, era uma aposta quase certa para ser o segundo Papa Português.
No epílogo, o autor distingue alguns dos documentos e episódios que existiram e comprava-se que de simples factos, ele faz muitas conclusões, mas mais uma vez, é um problema meu com o género dos romances históricos. É sem dúvida muito bem escrito, ainda que com tendência a cair numa enumeração histórica em alguns capítulos.

Neste ano, Oliver Stone resolveu reviver Wall Street: Money Never Sleeps, numa sequela que segue a prisão de Gordon Gekko. A ganância e a vingança são dissimuladas por sorrisos e o jovem Jake (LaBeouf) aprende lições de várias frentes, dando um passo atrás para poder dar dois em frente, até ficar perdido. Bom guião, que certamente presta homenagem ao original, dando uma sequela muito forte, que neste clima económico em que vivemos, se mantém relevante.

Por ter visto e revisto tantas vezes Mulholland Drive antes de criar este blogue, ele ainda não estava aqui. Na ocasião de o rever mais uma vez, fica a entrada então do filme, que, talvez a par de Lost In Translation, melhor define a minha geração. O desafiar o perigo com velocidade e ter um acidente num minuto seguinte, ver as luzes de uma cidade, mas ela estar distante, todo o desconforto da falta de segurança e da afectividade.
Os sonhos de uma carreira em Hollywood desfeitos pela realidade, onde se cometem erros para tentar corrigir o destino são a base de Mulholland Drive, a estrada que atravessa sinuosamente o percurso até aos estúdios de Hollywood.
Camilla (Rita no sonho) teve tudo em Hollywood, o papel, o realizador e a fama, ao invés de Betty, que tenta imaginar a amiga subjugada a ela numa relação, com amnésia, e ficar com um papel apenas porque Betty sofreu pressões apesar de uma brilhante audição. Diane (ou seja, Betty) suicida-se. O clube silêncio, onde tudo é falso e nada é credível é a explicação que as duas horas anteriores foram uma idealização de Betty, a convulsão mostra o final para elas as duas, e a morte da cantora em palco mostra que chegou ao fim esse roteiro. Mais aqui, principalmente a ordem das cenas na realidade, para as quais é preciso um bloco de notas para compreender. Estimulante, e uma forma que Lynch aperfeiçoou até a esta obra seminal de 2001.

Fuck - The Documentary de Steve Anderson é divertido, pegando em pessoas históricas e outras não tão históricas como Hunter S. Thompson ou Tera Patrick, académicos, personalidades da rádio e do humor, com o objectivo de provar que toda a gente deve expressar-se como quer, neste caso usando uma palavra com mais de 6 séculos, ainda que haja uma clara agenda de pudico que querem retirar o uso de expressões como fuck, na televisão e rádio dos EUA. Muito bem construído e curioso.