Já tinha posto aqui este documentário sobre Pirate Radios, algo que me fascina. Fora de Londres acho que não é possível perceber a dimensão e o impacto destas rádios. Como tinha dito da outra vez,
as pirate radios de Londres foram passos fundamentais para estabelecer géneros como o grime, drum n bass ou o garage. Hoje em dia não sigo nenhuma nem tão pouco sei se ainda existem as de qualidade, mas foram boas horas a descobrir musica que de outro modo não se podia ouvir em mais nenhum lado.

O espectador transformado em espectáculo no filme Branca de Neve de João César Monteiro. Na primeira vez que vi, sabia o que ia ser, se não o soubesse, ia ficar chateado com o Monteiro (depois do final, talvez me fizesse uma luz e o perdoasse), mas assim é um episódio com muita piada.
Como seguidor confesso do César Monteiro, é triste ser este episódio que marcou muito o nome dele, ainda assim, pode haver melhor atitude do que pegar no dinheiro do Estado e fazer um filme sem imagem?
Os textos originais do Suiço Robert Walser são interessantes, ainda que os intérpretes não seja nada de notável, principalmente o brasileiro que faz de Príncipe Estrangeiro.
O filme em si, por um lado goza com quem não percebe que há pessoas que vêm e procuram outras coisas no cinema, e goza com os espectadores que vão encontrar algo aqui, pois não existe nada. Que não sirva isto de impeditivo para descobrir o resto da obra do melhor realizador Português de sempre, de que já falei aqui várias vezes (ainda que haja muita gente que descreva este como o filme da vida delas pelos mais variados motivos).
Quer isto dizer que, pode ser uma experiência interessante ouvir isto no escuro do cinema, é um manifesto com graça e peculiar do César Monteiro, mas não é a pólvora, nem vem abrir mundos para nada. É o que é, um filme sem imagem.

Jumbo Jr. é um elefante com azar. A história baseada na obra de Helen Aberson e Harold Perl tornou-se um clássico da Disney. Para além da música, as personagens extra como as cegonhas ou os corvos concedem outra dimensão à história do elefante Dumbo e do rato Timóteo. Ainda assim, o melhor de tudo é o technicolour do filme, principalmente se se atender que foi realizado em 1941. A sequência a seguir ao Dumbo estar bêbado (a personagem principal que se limita a ser trapalhão ainda se pode embebedar num filme, quem não quer ser actor?) é pura exibição técnica, e bastante impressionante, diga-se.

O filme que atirou a Disney e a Pixar (que teve aqui o primeiro filme) para uma nova era do cinema de animação, Toy Story já completou 15 anos. A história é conhecida, os bonecos de Andy reúnem-se para ver quais são os amigos que ganham com a chegada das prendas de anos do dono. Uma das prendas é Buzz Lightyear, um boneco de última geração que ameaça a predilecção por Woody, no entanto, ao verem-se nas mãos de um miúdo mau, Buzz e Woody têm de se ajudar. Continua a ser um filme engraçado, principalmente pelos diálogos.


De Sam O'Hare, feito a partir de 35.000 fotografias, tiradas durante 5 dias em Nova Iorque.




Como cresci a ver a guerra da estrelas, com direito a algumas loucuras aquando o recomeço da saga, e a minha paixão é devidamente publicitada, adorei Star Wars In Concert. A premissa é ter uma orquestra a musicar excertos do filme, mas as partes em que se transpõe a barreira emocional acaba por ser quando a orquestra está a tocar sem imagens, no entanto, para o povinho entende-se que tem de haver as imagens dos filmes colados, para distrair as pessoas. Bastante bom ainda assim, e recomendo.

Também recomendo a peça Uma Familia Portuguesa de Filomena Oliveira e Miguel Real, com a participação da minha sogra Luisa Salgueiro. Tem mesmo muita piada e o ambiente é bastante íntimo, com uma família a ocupar a casa do antigo patriarca e numa neurose constante. Está até dia 2 de Maio, de quarta a sábado, às 21h30 e ao domingo às 16h00 no Teatro Aberto.
Revi Era Uma Vez Na América, Fight Club e Get Rich or Die Tryin', que para além da temática violenta, continuam a ser filmes bons.

É verdade que nenhuma delas foi com extrema atenção, mas vi Monsters Inc. três vezes seguidas. A história é engraçada, uma cidade de monstros sobrevive graças aos gritos das crianças assustadas, o seu combustível. No entanto, uma pequena rapariga infiltra-se no mundo dos monstros e eles ficam desorientados. A animação da Pixar é, como de costume, bastante boa.

Como eu disse na newsletter das OA Industries (é a maneira mais fácil de saber as novidades e podem assiná-la aqui), a revista DIF mostrou-se interessada em fazer-me uma entrevista acerca do que andamos a fazer. O problema é que eles pediram à entrevistadora 2.400, e pela reacção, suponho que sejam caracteres e não palavras. Enviei-lhe 1700 palavras, porque foi a forma que eu encontrei para responder, por isso, fica aqui na íntegra, porque certamente não vai ser publicado assim.

1. Olá, Miguel! Explica lá à DIF, hoje na minha pele, o que é isto da Organic Anagram Industries. Vá, quando, como surgiu a ideia, o porquê do nome, essas coisas.
A ideia surgiu no Verão passado ao atravessar uma tempestade nocturna no Arizona. Decidi que queria apoiar alguns artistas e queria envolver-me nuns projectos.
O nome deriva daquele que eu usava para explorar algumas ideias musicais, Organic Anagram tem 2 álbuns e um EP lançados pelas três melhores netlabels nacionais. De certa maneira, a generosidade e incentivo dos donos delas, foi um dos motivos que me levou a empenhar-me nesta nova etapa. O nome de Organic Anagram vem de uma letra de uma banda Sueca, “I’m a carnal organic anagram, human flesh instead of written letters” e o sufixo Industries é uma maneira de não ser só ligado à streetwear ou só a prints, ou só a bonés, é expansivo.
Para alem de ser uma comunidade formada por quem faz e por quem se interessa pelo que é feito, com a possibilidade de inverter os papéis, há duas vertentes que se assumem como mais importantes, a secção do apparel, dedicada à roupa e acessórios limitados, e o print club, em que lançamos prints de alta qualidade de artistas do mundo todo.

2. E tu, és tipo o gestor ou tipo pai?
Pode-se ver as coisas desta maneira, eu sou o capitão do navio, porque fui eu que o construí, mas nenhum navio se aguentava em alto mar se não tivesse quem o carregasse de comida, quem cozinhasse a bordo, quem substituí-se o capitão quando ele dorme, ou passageiros, entre outras coisas. Felizmente, as pessoas que estão envolvidas nisto são todas capazes e interessantes ao ponto de eu estar bastante orgulhoso de poder trabalhar com elas, o que com a mediocridade com que o mundo se regozija hoje em dia, faz-me sentir um privilegiado. Se algum colaborador quiser pegar no conceito e alargá-lo a qualquer projecto, tem total liberdade para o fazer.

3. Olha, e com tanta concorrência a nível de streetwear, como é que isso dá para viver? Ou é muito amor à long sleeve?
Percebo, principalmente no clima económico em que estamos, no entanto, não estamos nisto pelo dinheiro. As OA Industries são não-lucrativas, os preços são para cobrir os projectos, não há lucro. A nossa postura, de oferecer peças exclusivas, limitadas e que tenham algum valor para alem do físico, faz com que não queiramos produzir em massa também. Não interessa minimamente fazer 5.000 t-shirts do mesmo modelo. Há peças especiais, quem gosta, vai apoiar e nós agradecemos. Essa relação não se consegue de outra forma. Felizmente tenho outras ocupações, pois para viver da streetwear ou dos prints ia ter de comprometer os meus valores, falsear os interesses e vender-me. Antes vender 50 peças que signifiquem algo para quem as compra e as faça orgulhosas de pertencer à nossa família, do que vender 50 mil, explorar meia dúzia de crianças, falar mal dos produtos em que não se acredita, e ter a nossa roupa usada por pessoas que passam o dia em frente à televisão a ouvir comentadores a falarem da vida amorosa de outras pessoas igualmente vazias.

4. Reparei numa coisa, tudo em inglês, em nenhuma parte do site – nem na sinopse- fazem referência a Portugal. Estratégia ou distracção (vossa ou minha)?
Não é necessário afirmar nada quanto a isso, é por isso que não está explícito. Muitos dos nossos apoiantes estão do outro lado do Atlântico, porque acreditam na honestidade e integridade com que a marca se apresenta, no entanto somos um projecto Europeu. O nosso boné 5 panel vai ter a inscrição ‘An European Company’, é uma forma de destapar o véu. Eu, pessoalmente, continuo a representar a Quinta das Lameiras/Viseu, da mesma maneira que outras pessoas envolvidas estão orgulhosas do sitio onde nasceram. Eu e o André vivemos em Londres há vários anos, o Bruno depois de um tempo fora voltou a casa, o outro Miguel nunca saiu de lá, entre outros. Já todos corremos o mundo todo, por isso não faz sentido dizer que somos de um sítio, quando estamos espalhados por vários pontos diferentes, e sentimo-nos bem em qualquer lado.

5. Quem são os vossos colaboradores? Eu adorava desenhar t-shirts- só falta saber desenhar- o que tenho que fazer para juntar-me a este projecto?
São demasiadas pessoas. Desde um rapaz que nos fez um desenho à mão, até aos meus melhores amigos, até à família de Paquistaneses que me ajudou a encontrar uns tubos para enviar um lançamento do print club, que era tão grande que nem os correios o queriam transportar, ao Bruno que me programou o site, ao André que me ajuda na maior parte das decisões e trabalhos gráficos, entre muitos outros.
Quanto ao colaborar, é tão fácil como entrar em contacto, e nós é que agradecemos. Pessoas que queiram lançar desde postais com fotografias deles, que tenham jeito para desenhar e que queiram publicar, quem queira divulgar o que faz, nós podemos oferecer uma plataforma para divulgação, se acreditarmos no trabalho e também na personalidade da pessoa, que para nós é igualmente importante. Somos um projecto que é a nossa cara e parte da reputação vem da imagem limpa que temos e de se saber que ao apoiar algo com o nosso selo, está-se a contribuir para algo feito por pessoas responsáveis e íntegras, que fazem parte de uma comunidade tal como quem apoia. Queremos mesmo ouvir de pessoas que sentem que têm valor mas não têm ninguém com quem partilhar as coisas.

6. As edições são limitadas, então e se eu quiser muito muito um boné que já esgotou? Há amigos e enteados ou quando o stock acaba é para todos?
Se for algo que já tenha esgotado e queiras mesmo muito, eu posso-te oferecer o meu sample pessoal, de outro modo, penso que não possa ser possível fazer nada, até porque eu não guardo os ficheiros dos projectos executados. Há amigos e familiares sim, mas esses são geralmente os primeiros a querer ficar com as coisas e por isso cuidam logo dos seus interesses. Eu respondo pessoalmente a todas as perguntas, por isso, se algo é anunciado e alguém quer, eu posso logo pôr de lado para ele. Somos todas pessoas humildes e respeitosas e tratamos quem está connosco bem, porque queremos ser tratados assim e faz parte de nós. Independentemente das posições hierárquicas que ocupemos nas nossas vidas profissionais, não acreditamos na cultura de celebridades, da arrogância e desprezo. Todas as encomendas que eu envio levam uma nota de agradecimento escrita à mão.

7. Agora ao contrário, como posso garantir que fico com o modelo que quero?
Lamento não perceber esta pergunta. Queres reformulá-la?

8. Então e pedidos especiais, misturar este modelo com aquela padrão, dá?
Não, para isso existem lojas de gomas onde se pode tirar de um lado e meter do outro, ou casas de corte-e-costura. Nós temos o cuidado de oferecer um produto final que vem com determinada cor, com determinado pormenor, porque é assim que queremos, por isso não há possibilidade de alterar cores. É uma questão de confiança.

9. Outra coisa, o papel dos vossos amigos e o consequente apoio é um grande pilar disto tudo. Tenho que ser tua amiga no FB para ajudar? Ou basta comprar?
Precisamente, é pela receptividade, pelas conexões que estabelecemos que isto vale a pena. Há quem seja só amiga no FB, há quem compre e não dê a cara, há quem dê palavras de incentivo e apoie, há quem fale aos amigos e não compre. Eu pessoalmente fico satisfeito com qualquer uma delas, desde que haja essa variedade e que tenham presente que as OA Industries são um projecto resultante de muitas horas de aprendizagem e execução.

10. E depois, na hora de pagar? Tenho que ficar um mês a pão e queijo ou promoções de 1euro do Mac Donald’s?
Se a tua prioridade for comprar prints ou hoodies, e não alimentares-te de uma maneira saudável, então eu ia querer ter uma conversa contigo e relembrar-te que devias orientar a vida de outra maneira. Como já referi, em relação com a qualidade os nossos preços são baixos, porque cortamos o lucro, só há que cobrir os gastos de produção e envio. Não há maneira de ser mais honesto nas nossas intenções do que oferecer as coisas desta forma, a quem queira apoiar, sem ter de passar por privações.
11. Como é que é feita a divulgação: site, FB e boca a boca ou associam-se a outro tipo de iniciativas: sei lá, concertos, exposições, campeonatos de skate...
Diria que a maior parte das nossas vendas advém de os nossos apoiantes terem uma noção sobre o tipo de pessoas que somos. Temos a página do facebook para divulgar notícias, tal como a newsletter que é possível assinar no nosso site, bem como uma forte presença nas áreas do skate, do design, da arte, da música (maioritariamente hardcore e hip hop). No entanto, isto não é o nosso limite, porque não estabelecemos barreiras, se vêm de um background da literatura, queremos falar com vocês, se gostam de ouvir jazz, também, se gostam de ballet, igualmente. Mas é nossa intenção que todas as pessoas activas nos abracem, que se excitem com os seus próprios interesses e em aprender mais sobre o que podemos mostrar, em ver mais coisas e em sentir novas experiências, porque é assim que nós somos.

Depois de se estabelecer como a comunidade de posters e prints de concertos, tanto para artistas como para fãs, o fundador do Gigposters.com lançou este primeiro volume em livro, que reúne, mais de 700 cartazes do arquivo do website, maioritariamente dedicados ao rock. A cada um dos 101 artistas com entrevistas bastante boas e informativas, corresponde um print destacável, pronto a emoldurar. O livro é por isso bastante grande. Como em tudo, em GigPosters Volume 1 há trabalhos mais genéricos e cuidados, enquanto que outros excedem-se e criam obras de arte.

Como um dos documentos que oficializou o hip hop no mainstream, até pela divulgação televisiva que teve na época, Style Wars foca-se no graffiti. Realizado por Tony Silver e Henry Chalfant, é um relato da vida de vários writers Nova-Iorquinos e das dificuldades e motivações que eles tinham, glorificados na excitação de verem as peças que desenharam a passarem nos comboios. Por isso mesmo, há uma forte vertente que mostra o desagrado por parte das autoridades e de uma fatia da população pelo que eles faziam. Não é nenhuma obra prima, mas é uma obra pioneira.

De William Wyler, The Letter (1940) é um filme noir, um filme clássico bastante consistente. A mulher interpretada por Bette Davis mata o amante, e a chave para o marido dela descobrir o mistério é uma carta escrita por ela a convidar o amante. A história dá várias voltas, o que mantém a acção viva.

Continuando a temática desta entrada, Manson Superstar é a história de Charles Manson contada por ele próprio na prisão. Pode ser visto aqui, e a entrevista é bastante boa com as alucinações habituais dele.

Já tinha falado aqui sobre o Fred Baier, entretanto ele foi gentil ao ponto de me oferecer um livro escrito sobre ele chamado Furniture In Studio. A entrevista por John Houston começa com a presença da mulher, até que Baier começa a contar as suas histórias e motivações. O carácter dele é interessante, com uma vontade de querer fazer ele próprio objectos novos, de tentar novas formas sem olhar ao passado.

Em 2007, com o quinquagésimo aniversário do typeface Helvetica, Gary Hustwit lançou o celebrado documentário homónimo.
Quando saiu fez muita gente olhar as ruas de outra maneira (e muitos geeks da minha antiga universidade salivarem), e eu acho que é uma peça curiosa. Para além de relatar a história por trás da criação e os princípios que transmite, irem buscar os detractores da Helvetica, aqueles para quem já não era o modernismo nem a novidade, mas o que era clássico, é curioso. A forma como o design gráfico hoje em dia está muito mais ligado à nossa própria identidade, a maneira como nos representamos e de como queremos ser vistos faz com que uma fatia grande da população tenha dado atenção a este filme que vale a pena ver por quem se interessa pela estética.

Um filme algo incomum, mas tão bom. Born Of Hope é uma produção independente, com um grupo de autores amadores, baseado na obra de J. R. Tolkien. A história é a dos herdeiros de Isildur, os Dunedains, portanto os pais de Aragorn, e de como ao morrer Arathorn, a linhagem supostamente fica interrompida.
Se o filme podia existir sem a trilogia de Peter Jackson? Não, porque é tudo uma extensão dela, mas conseguir com tão poucos meios, acrescentar um capítulo à história e ser convincente, é notável. Actores, musica, imagem, fotografia, cinematografia, é tudo bastante competente, e se se tiver em atenção que até os vestidos e jóias foram feitos por eles, ainda mais crédito tem de se dar. O filme está disponível em Português em bornofhope.com.

Em Português, The Conversation de Francis Ford Coppola é O Vigilante. De 1974, trata sobre a vigilância aúdio e a vida nas empresas de vigilância. Gene Hackman como Harry Caul, a personagem principal, tem uma grande interpretação, mas o filme, como funciona através das conversas gravadas, é algo repetitivo pelas vezes que rebobinam cassetes para se ouvir o mesmo diálogo. No geral não é um filme memorável, mas as reuniões dos espiões têm muita graça e Gene Hackman é um espanto.

Este filme dos anos 70 é tão esquisito que eu nem consegui chegar à conclusão se o título é The Helter Skelter Murders ou The Other Side of Madness. Anos mais tarde, iria haver outro filme com o mesmo nome e assunto, mas este de Frank Howard é mais desorientador e perturbante. Entre cenas da época, há recriações do caso que ficou conhecido como Tate-Labianca, pela família Manson. Não há grande organização no filme, a montagem é algo estranha, com julgamentos a misturarem-se com manifestações dos anos 60, no entanto pode ser uma peça com interesse para quem tenha curiosidade pelas acções da familia Manson.

O documentário The Story Of The Wu Tang Clan sobre o grupo Nova Iorquino com o mesmo nome foi lançado o ano passado. Tem muitas filmagens antigas, incluindo do dia em que o Method Man assinou pela Def Jam e do dia em que o Ol' Dirty Bastard saiu da prisão. Começa quando o saem a Protect Ya Neck e a Method Man, o que eu acho que perde um bocado por não ter nenhuma menção à fase do planeamento do Rza, a forma como ele definiu um plano para todos eles e o seguiu com rigor, com os resultados que se sabe. Foca-se na vida pessoal do ODB em vez de falar da carreira de quem lançou álbuns vitais como o Gza, Method Man, Rza ou U God. Bem realizado, mas não é a história dos Wu nem demonstra a verdadeira influência dos Wu Tang na cultura urbana. Tem mais entrevistas com as pessoas que estavam com eles desde o inicio do que entrevistas actuais com os membros. Se vale a pena ver para quem gostar do grupo, há-de haver quem faça melhor no futuro.

Vai haver um momento da minha vida, em que eu vou decidir limitar os escritores que leio, os realizadores que vejo e a música que oiço a 10 autores de cada. Até lá, hei-de continuar a ter de tolerar a mediocridade. Mas vai ser bom.
Desde que me mudei para o sítio onde vivo, e paralelamente à atitude que eu defendo de não idolatrar ninguém, principalmente celebridades que nada têm para dizer, tenho tomado contacto com algumas pessoas que se podem considerar influentes. O dinheiro nunca é importante para eles, e ajuda-me a ter as coisas em perspectiva. Uma coisa que me surpreende, é a forma como pessoas que fazem milhões (e estou a falar literalmente) me recebem, ficam excitadas por me mostrar os trabalhos que fazem, coisas brilhantes que criam. Vou mostrar também os exemplos de alguns trabalhos que eles fazem.
O primeiro, Danny Lane, é um artista Norte-Americano que vive em Londres há pelo menos duas décadas. A melhor forma para o descrever é intenso. Assim que me recebeu, começámos a falar da feijoada que o restaurante Português ao lado do estúdio dele fazia. Como todos os génios, tem uma personalidade bastante extrovertida, pergunta, faz rir, mas quando é preciso falar de ideias, aparece aquele brilho nos olhos, tal como quando vê um pedaço de vidro para trabalhar.

O nível técnico dele é algo que o mundo ainda tem de correr atrás. As peças, como esta de vidro em baixo são coisas únicas. Os efeitos de luz e reflexo alcançado são autênticos prodígios da engenharia. Contrabalançando toda essa inovação, o que ele consegue fazer com um martelo e vidro é sublime. Comigo, ele pegou num pedaço de vidro grosso, literalmente atirou-o para cima de uma mesa, começou a martelar e em segundos tinha uma peça que nenhuma máquina conseguia reproduzir, até por ter ficado cheia de sangue dele, enquanto se ria.

Voltando aquilo que eu disse acerca das pessoas que admiram celebridades e perdem tempo a mitificar pessoas pela côr dos olhos. O Danny, a falar do trabalho dele de há alguns anos, falava do Ron Arad como se fosse amigo dele, a questão é que é mesmo. Apesar de ter nascido em Israel, foi em Londres que se popularizou, e a recente exposição Restless no Barbican Center tem sido um sucesso tremendo.

Para além de designer, o Ron Arad é também arquitecto, e os projectos dele são obras únicas que eu aconselho a explorarem se gostam de arquitectura. Só para dar uma ideia, ele pôs um restaurante giratório numa montanha de neve, com a particularidade que o restaurante está na ponta de um braço que tem um eixo, que faz o braço todo ser giratório. Se alguém é capaz disto, imaginem o que acontece com uma cadeira.

Ele teve mesmo muitas fases, todas igualmente fascinantes, desde o metal das cadeiras moldado com um martelo, até ao que faz hoje em dia. Tal como o Danny Lane, ele é tão tecnicamente avançado, que estes tipos têm de ter uma sociedade secreta com pactos alienígenas para perceberem estas coisas. Há coisas mesmo surreais, e inclusivamente posso dar um exemplo, que sem a imagem não tem o mesmo impacto, mas exemplifica. Vi uma cadeira que era banal, em que qualquer pessoa que se sentasse nem reparava no que ela era. Ao lado dela, estava um sample de produção, preta, mas toda anotada com as alterações que tinham de ser feitas. Não era um esboço, era já um sample, e não estou a exagerar se disser que tinha pelo menos 15 marcas a giz com linhas que tinham de ser baixadas, sobreposições da madeira que tinham de haver para se segurar na cadeira, entre outras coisas. Isto num sample de produção. Falem-me de se ser bom.

Por fim, ontem tive a oportunidade de estar umas horas com outro designer chamado Fred Baier. Como podem ver pelo site, é um tipo bastante excêntrico e as histórias dele dos anos 60 e 70 são o género de coisas que nos faz pensar "este tipo viveu mesmo tudo e viveu para contar".

Mais uma vez, com o Fred Baier repete-se a história. Tem idade para ser meu avô, fez coisas que eu nem tenho cabeça para compreender, quanto mais para as pensar, e mesmo assim fala comigo durante horas como se eu tivesse alguma coisa para lhe ensinar. A maneira dele existir é paralela à nossa realidade. Os objectos que cria, a maneira como persegue cada ideia que tem, são uma autêntica loucura. A história e o dinheiro envolvido para fazer esta última imagem, são irreais. Ninguém, a menos que seja mesmo fiel a uma linha artística, gastava £1700 para alugar um camião para transportar um tronco de uma árvore para ser cortado, sem saber se é possível executar o projecto sequer.

Da maneira como lida com o horror por não o mostrar, Repulsion, 1965, de Roman Polanski é um bom filme. Foi o primeiro filme em Inglês do realizador, e a grande estrela é Catherine Deneuve, como uma jovem neurótica, que sofria de distúrbios, ou seja, a fonte de medo vem de dentro. Quem gosta de Rosemary's Baby vai gostar de ver este filme.

A partir do livro de Bob Woodward e Carl Bernstein, All The President's Men foi realizado por Alan J. Pakula em 1976. O conhecido caso Watergate fica bem retratado neste filme, que tem as prestações célebres de Dustin Hoffman e Robert Redford. É interessante para quem gostar desse momento político, que eu sempre achei fascinante, pela maneira como foi descoberto.

Para incentivar as tropas no activo no Vietname, o exército envia um radialista, que cumpre o trabalho exemplarmente, mas choca os comandantes com temas difíceis que aborda nas piadas. Good Morning Vietnam parece ficar com algumas pontas soltas na história, mas a boa cinematografia e principalmente a fantástica prestação de Robin Williams são momentos memoráveis do cinema.

Façam favor de entrar. A loja está aberta, agradeço as encomendas e sintam-se à vontade para divulgar de todas as formas precisas. Se eu tiver de responder a perguntas, é um favor que me fazem. Obrigado!

http://organicanagram.com/industries.html

Tim Burton conseguiu mesmo dar cabo da Alice, não conseguiu? Contra o argumento de que se sabia que não era uma recriação da história, acho que nada joga nesse sentido, primeiro porque não a torna mais interessante, porque ignora a essência dela, e porque não faz qualquer sentido. Em última instância, Alice no País das Maravilhas é o nome tanto do livro de Lewis Carroll como da versão cinematográfica, se queriam fazer Johnny Depp no País das Cores... regravavam Charlie e a Fábrica de Chocolates outra vez?
Vi-o em Imax 3D, por isso até podia passar um filme mau (que foi o caso), que eu ia gostar, mas há coisas inadmissíveis. É uma versão fantasista, uma mistura de Harry Potter (castelos, e até contei um Professor Snake por lá), com Senhor dos Anéis (a Rainha é uma cópia da loja Chinesa de Lothlorien, Alice corta a cabeça a um monstro [espectro?] com uma armadura, etc).
O filme é francamente mau, porque está a milhas de distância dos filmes que copia. É uma pena queimarem o nome de um projecto que tinha tudo para ser histórico com inovações de mau gosto. Alice não compreende é o mundo exterior. A fantasia é a casa dela, não o inverso. Como é que uma rapariga que originalmente tinha 9 anos tem a confiança para mandar em todos os convidados num pedido de casamento inesperado, e minutos depois de o rejeitar ainda decide que há-de continuar o negócio do pai em direcção à China. E mesmo subindo a idade dela no filme para os 16 ou 17, ele está carregado de alusões à pedofilia, o que é de mau gosto para Lewis Carroll, tendo em conta que tratam mal a obra e contribui para alimentar essas ideias que lhe imputavam.
Personagens positivas: Tweedledum e Tweedledee de Through The Looking-Glass. Muito negativo: não haver ninguém que tenha percebido que é fundamental o coelho branco dizer que estão atrasados, que não há tempo, porque é a vida a passar depressa demais.

A adaptação do livro The Treasure of the Sierra Madre de B. Traven por John Huston foi realizada em 1948. A história da busca do sucesso através do ouro no México é um dos grandes clássicos do cinema, com Humphrey Bogart. Não é propriamente um western, mas tem muita profundidade. Se é verdade que o filme é excessivamente longo com quase três horas, vê-lo num cinema à cinquenta anos devia ser uma experiência fantástica.

Demorou, mas lá acabei Damned to Fame, a biografia de Samuel Beckett. James Knowlson conheceu-o, foi sondado em 1972 para lhe escrever a biografia, mas por Beckett não o querer a ele (queria que perdurasse o trabalho e não a vida pessoal), rejeitou. Mais tarde, já que alguém ia acabar por escrevê-la, chamou-o. Beckett deu-lhe acesso a tudo, concedeu entrevistas semanais, mas pediu que fosse publicado postumamente. Seis meses depois, morreu.
São quase 900 páginas, muito bem escritas e sem tomar partidos ou uma atitude populista, até porque com a vida de Beckett, não havia lugar para esses desvarios. Em termos culturais, já o disse aqui que para mim existe Beckett, e depois vêm os outros. A liberdade e as convicções anti-raciais e contra as injustiças foram características que o Irlandês desenvolveu pelas situações em que esteve. Das pessoas a locais, Knowlson mostra de onde surgem as personagens e o que elas significavam na obra.
A honra, integridade e educação eram importantes para Beckett, e com a ida para Paris para ensinar, começa a beber e aumentam os contactos com o meio artístico. O início prometedor como professor depressa deu lugar a doenças físicas e mentais que o perturbaram, e os anos seguintes com tantas viagens e regressos a casa são fascinantes. Com as dificuldades de guerra e as doenças e mortes na família, encontrou no teatro a ocupação da vida, com inúmeras viagens para auxiliar na produção das peças por todo o mundo.
É curioso ver que as obras literárias de maior expressão foram escritas no pós-guerra, em poucos anos e após grandes pausas e dificuldades. O resto da vida, foi reservado para as difíceis traduções, muitas por ele próprio. Teve os seus leitores, as suas amizades e amores, e há dois episódios que definem o maior génio do século XX. Ao vencer o Nobel da Literatura, ofereceu o dinheiro a amigos e colaboradores necessitados e fugiu para Tânger e Cascais. E quando foi enterrado, no dia a seguir ao Natal, sem que muita gente soubesse, até pela inconveniência da data, estava apenas rodeado pelos mais próximos, com o mundo aos pés dele, numa herança que há-de perdurar.

Hoje, 3-1 e temos Walcott.

Picante, não comprometeu.

Semana passada, Grizzlies vs Knicks no Madison Square Garden.

Capa demasiado boa.

Fila para o lançamento da nova linha da Supreme com a colaboração do Lee Scratch Perry (eu depois um dia conto como é não ter caído na streetwear de pára-quedas e ter algumas coisa sem ser pela Internet)

O que deu para juntar mais duas tábuas a uma colecção específica.

Este é um texto num registo incomum para este espaço, no entanto já há algum tempo que o vinha a prometer em privado, e a honra é merecida.
Quando eu era mais novo não era pessoa de pedir que me oferecem muitas coisas e também nunca fui esbanjado como outras pessoas do meu bairro. As coisas que sonhava ter, como um skate, uma tabela de basket no meu quintal ou uma Super Nintendo, esperando mais ou menos tempo, sempre as tive. Quando queria comprar alguma coisa, os meus pais sabiam que eu não ia abusar, por isso ao pedir o dinheiro para alguma coisa, perguntava-me sempre "é isso que queres mesmo?" ou "vale a pena, não te vais fartar ao fim de um bocado?". Vezes suficientes até que passasse eu a fazer a pergunta a mim mesmo. Sempre me foi dito que valia a pena pagar mais por uma coisa boa e que durasse muitos anos, do que querer comprar uma barata e ter de voltar a comprar a mesma coisa várias vezes.
A que nos traz então isto? A dois objectos que eu considero pessoais que trago comigo quase todos os dias.
Não é só de pessoas que se faz a minha vida. Não que seja materialista, mas há que dar crédito. Onde andavam vocês há 10 anos? Pensem em tudo o que aconteceu, e imaginem a afinidade que tenho com esta carteira e este cinto.
Se fosse assaltado, ficava mais triste por perder a carteira do que pela quantia de dinheiro que lá tivesse, e nos aeroportos, sempre que é preciso tirar o cinto (tento sempre passar sem o tirar), nunca tiro os olhos dele, prestando mais atenção do que a qualquer outra coisa.
Grande parte da minha vida está marcada nestes objectos. O cinto vinha originalmente com seis furos, e o que está marcado ainda é o quinto. Mais tarde, há cerca de 5 anos, tive de fazer cinco adicionais, porque perdi peso. A côr e a forma que tem não podem ser recriadas por nenhuma fábrica, porque foi feita por mim. O mesmo para a carteira, ajusta-se ao meu corpo e a pele ficou impecavelmente lisa com o tempo. Espero continuar a usá-los diariamente, por muitos mais anos.

Concluídas as seis temporadas, é aceitável dizer que a série Entourage foi suavizando com o tempo. A história dos amigos de Vincent Chase, um actor Nova-Iorquino que foi em busca do sucesso a Hollywood, tende a ficar mais suave à medida que eles se acostumam a uma vida de festas. Inevitavelmente as coisas começam a correr mal e a atenção volta-se para a carreira e em como todos o têm de ajudar. O final não compromete, e é interessante como os carácteres verdadeiramente interessantes como Ari Gold e o assistente Lloyd são secundários.

Antes de mais, Precious, uma adaptação de Lee Daniels (o primeiro negro a ser nomeado para melhor filme), é realmente bom. A história de uma jovem obesa do Harlem, incapaz de ler e com uma vida familiar disfuncional é muito bem expandida. É ao ser encaminhada para uma escola de educação alternativa que o filme ganha uma nova dimensão, com todas as personagens muito bem exploradas e interpretadas. Para além do óbvio talento de Mo'Nique, que tem um dos papéis pelo qual actores terão de se comparar, todo o elenco é muito bem arranjado (e alguém me esclarece quem ensinou a Mariah Carey [ou o Lenny Kravitz] a representar tão bem?). Os ambientes escurecidos que alternam com os momentos de maior esperança em que há mais luz e uma câmara mais estável mostram a perícia que está nesta história simples e tão bem contada.

Apesar de um indivíduo ter sido preso, o Unabomber nunca foi na realidade desvendado, até porque ao longo de mais de duas décadas, referiu-se a si próprio no plural. Como todas as pessoas com comportamentos desviantes, atraiu o fascínio do público e teve a arte de engendrar algumas complicações à justiça bem rebuscadas.
O Manifesto do Unabomber, contra a sociedade industrial, que foi publicado sob a ameaça de novas explosões se não fosse divulgado pela imprensa, é um documento interessante. Tem ideias muito sensatas, principalmente no que toca ao controlo do comportamento humano numa sociedade electrónica, mas ainda que os valores libertários que Unabomber clama seriam ideais, parar o progresso é idealismo.