Por ter visto e revisto tantas vezes Mulholland Drive antes de criar este blogue, ele ainda não estava aqui. Na ocasião de o rever mais uma vez, fica a entrada então do filme, que, talvez a par de Lost In Translation, melhor define a minha geração. O desafiar o perigo com velocidade e ter um acidente num minuto seguinte, ver as luzes de uma cidade, mas ela estar distante, todo o desconforto da falta de segurança e da afectividade.
Os sonhos de uma carreira em Hollywood desfeitos pela realidade, onde se cometem erros para tentar corrigir o destino são a base de Mulholland Drive, a estrada que atravessa sinuosamente o percurso até aos estúdios de Hollywood.
Camilla (Rita no sonho) teve tudo em Hollywood, o papel, o realizador e a fama, ao invés de Betty, que tenta imaginar a amiga subjugada a ela numa relação, com amnésia, e ficar com um papel apenas porque Betty sofreu pressões apesar de uma brilhante audição. Diane (ou seja, Betty) suicida-se. O clube silêncio, onde tudo é falso e nada é credível é a explicação que as duas horas anteriores foram uma idealização de Betty, a convulsão mostra o final para elas as duas, e a morte da cantora em palco mostra que chegou ao fim esse roteiro. Mais aqui, principalmente a ordem das cenas na realidade, para as quais é preciso um bloco de notas para compreender. Estimulante, e uma forma que Lynch aperfeiçoou até a esta obra seminal de 2001.