Do surpreendente vencedor do Prémio Saramago e obviamente, filho de uma figura pública, João Tordo envia em O Bom Inverno, um contingente da arte e do cinema numa mistura de horror e romance. Dá-lhe uma dose de Europeísmo, a partir da qual não é possível apurar que o escritor é Português, com algum jeito para o diálogo (ou seja, falta de... quase tudo), com muitas referências culturais e palavras em itálico (ou seja, falta de...).
O narrador desta história tem então um tom de livro, mas não de literatura. A frustração que ele sente perante a sua imóvel carreira literária ecoa nas palavras de Tordo. Talvez ele não o sinta, e as frases sucedem-se, mas falta quase tudo. Os adjectivos e descrições estão lá, as personagens e sítios com nome exótico igualmente, mas é um rio que o escritor não consegue atravessar, arrastado por um caudal pouco estimulante cujo caminho ele próprio foi cavando. Sem qualquer noção de tempo, com vocabulário 2/5 (3 dado a alguém muito coeso, 4 a um colosso e 5 a um Deus, ou seja, nada de envergonhar, apenas fica numa panela com 95% dos livros publicados). Seguramente irá ganhar mais prémios que hão-de consistir a base de uma carreira literária sem sentido ou qualquer valor que o demarque dos próximos.