Este é um texto num registo incomum para este espaço, no entanto já há algum tempo que o vinha a prometer em privado, e a honra é merecida.
Quando eu era mais novo não era pessoa de pedir que me oferecem muitas coisas e também nunca fui esbanjado como outras pessoas do meu bairro. As coisas que sonhava ter, como um skate, uma tabela de basket no meu quintal ou uma Super Nintendo, esperando mais ou menos tempo, sempre as tive. Quando queria comprar alguma coisa, os meus pais sabiam que eu não ia abusar, por isso ao pedir o dinheiro para alguma coisa, perguntava-me sempre "é isso que queres mesmo?" ou "vale a pena, não te vais fartar ao fim de um bocado?". Vezes suficientes até que passasse eu a fazer a pergunta a mim mesmo. Sempre me foi dito que valia a pena pagar mais por uma coisa boa e que durasse muitos anos, do que querer comprar uma barata e ter de voltar a comprar a mesma coisa várias vezes.
A que nos traz então isto? A dois objectos que eu considero pessoais que trago comigo quase todos os dias.
Não é só de pessoas que se faz a minha vida. Não que seja materialista, mas há que dar crédito. Onde andavam vocês há 10 anos? Pensem em tudo o que aconteceu, e imaginem a afinidade que tenho com esta carteira e este cinto.
Se fosse assaltado, ficava mais triste por perder a carteira do que pela quantia de dinheiro que lá tivesse, e nos aeroportos, sempre que é preciso tirar o cinto (tento sempre passar sem o tirar), nunca tiro os olhos dele, prestando mais atenção do que a qualquer outra coisa.
Grande parte da minha vida está marcada nestes objectos. O cinto vinha originalmente com seis furos, e o que está marcado ainda é o quinto. Mais tarde, há cerca de 5 anos, tive de fazer cinco adicionais, porque perdi peso. A côr e a forma que tem não podem ser recriadas por nenhuma fábrica, porque foi feita por mim. O mesmo para a carteira, ajusta-se ao meu corpo e a pele ficou impecavelmente lisa com o tempo. Espero continuar a usá-los diariamente, por muitos mais anos.