Como eu disse na newsletter das OA Industries (é a maneira mais fácil de saber as novidades e podem assiná-la aqui), a revista DIF mostrou-se interessada em fazer-me uma entrevista acerca do que andamos a fazer. O problema é que eles pediram à entrevistadora 2.400, e pela reacção, suponho que sejam caracteres e não palavras. Enviei-lhe 1700 palavras, porque foi a forma que eu encontrei para responder, por isso, fica aqui na íntegra, porque certamente não vai ser publicado assim.

1. Olá, Miguel! Explica lá à DIF, hoje na minha pele, o que é isto da Organic Anagram Industries. Vá, quando, como surgiu a ideia, o porquê do nome, essas coisas.
A ideia surgiu no Verão passado ao atravessar uma tempestade nocturna no Arizona. Decidi que queria apoiar alguns artistas e queria envolver-me nuns projectos.
O nome deriva daquele que eu usava para explorar algumas ideias musicais, Organic Anagram tem 2 álbuns e um EP lançados pelas três melhores netlabels nacionais. De certa maneira, a generosidade e incentivo dos donos delas, foi um dos motivos que me levou a empenhar-me nesta nova etapa. O nome de Organic Anagram vem de uma letra de uma banda Sueca, “I’m a carnal organic anagram, human flesh instead of written letters” e o sufixo Industries é uma maneira de não ser só ligado à streetwear ou só a prints, ou só a bonés, é expansivo.
Para alem de ser uma comunidade formada por quem faz e por quem se interessa pelo que é feito, com a possibilidade de inverter os papéis, há duas vertentes que se assumem como mais importantes, a secção do apparel, dedicada à roupa e acessórios limitados, e o print club, em que lançamos prints de alta qualidade de artistas do mundo todo.

2. E tu, és tipo o gestor ou tipo pai?
Pode-se ver as coisas desta maneira, eu sou o capitão do navio, porque fui eu que o construí, mas nenhum navio se aguentava em alto mar se não tivesse quem o carregasse de comida, quem cozinhasse a bordo, quem substituí-se o capitão quando ele dorme, ou passageiros, entre outras coisas. Felizmente, as pessoas que estão envolvidas nisto são todas capazes e interessantes ao ponto de eu estar bastante orgulhoso de poder trabalhar com elas, o que com a mediocridade com que o mundo se regozija hoje em dia, faz-me sentir um privilegiado. Se algum colaborador quiser pegar no conceito e alargá-lo a qualquer projecto, tem total liberdade para o fazer.

3. Olha, e com tanta concorrência a nível de streetwear, como é que isso dá para viver? Ou é muito amor à long sleeve?
Percebo, principalmente no clima económico em que estamos, no entanto, não estamos nisto pelo dinheiro. As OA Industries são não-lucrativas, os preços são para cobrir os projectos, não há lucro. A nossa postura, de oferecer peças exclusivas, limitadas e que tenham algum valor para alem do físico, faz com que não queiramos produzir em massa também. Não interessa minimamente fazer 5.000 t-shirts do mesmo modelo. Há peças especiais, quem gosta, vai apoiar e nós agradecemos. Essa relação não se consegue de outra forma. Felizmente tenho outras ocupações, pois para viver da streetwear ou dos prints ia ter de comprometer os meus valores, falsear os interesses e vender-me. Antes vender 50 peças que signifiquem algo para quem as compra e as faça orgulhosas de pertencer à nossa família, do que vender 50 mil, explorar meia dúzia de crianças, falar mal dos produtos em que não se acredita, e ter a nossa roupa usada por pessoas que passam o dia em frente à televisão a ouvir comentadores a falarem da vida amorosa de outras pessoas igualmente vazias.

4. Reparei numa coisa, tudo em inglês, em nenhuma parte do site – nem na sinopse- fazem referência a Portugal. Estratégia ou distracção (vossa ou minha)?
Não é necessário afirmar nada quanto a isso, é por isso que não está explícito. Muitos dos nossos apoiantes estão do outro lado do Atlântico, porque acreditam na honestidade e integridade com que a marca se apresenta, no entanto somos um projecto Europeu. O nosso boné 5 panel vai ter a inscrição ‘An European Company’, é uma forma de destapar o véu. Eu, pessoalmente, continuo a representar a Quinta das Lameiras/Viseu, da mesma maneira que outras pessoas envolvidas estão orgulhosas do sitio onde nasceram. Eu e o André vivemos em Londres há vários anos, o Bruno depois de um tempo fora voltou a casa, o outro Miguel nunca saiu de lá, entre outros. Já todos corremos o mundo todo, por isso não faz sentido dizer que somos de um sítio, quando estamos espalhados por vários pontos diferentes, e sentimo-nos bem em qualquer lado.

5. Quem são os vossos colaboradores? Eu adorava desenhar t-shirts- só falta saber desenhar- o que tenho que fazer para juntar-me a este projecto?
São demasiadas pessoas. Desde um rapaz que nos fez um desenho à mão, até aos meus melhores amigos, até à família de Paquistaneses que me ajudou a encontrar uns tubos para enviar um lançamento do print club, que era tão grande que nem os correios o queriam transportar, ao Bruno que me programou o site, ao André que me ajuda na maior parte das decisões e trabalhos gráficos, entre muitos outros.
Quanto ao colaborar, é tão fácil como entrar em contacto, e nós é que agradecemos. Pessoas que queiram lançar desde postais com fotografias deles, que tenham jeito para desenhar e que queiram publicar, quem queira divulgar o que faz, nós podemos oferecer uma plataforma para divulgação, se acreditarmos no trabalho e também na personalidade da pessoa, que para nós é igualmente importante. Somos um projecto que é a nossa cara e parte da reputação vem da imagem limpa que temos e de se saber que ao apoiar algo com o nosso selo, está-se a contribuir para algo feito por pessoas responsáveis e íntegras, que fazem parte de uma comunidade tal como quem apoia. Queremos mesmo ouvir de pessoas que sentem que têm valor mas não têm ninguém com quem partilhar as coisas.

6. As edições são limitadas, então e se eu quiser muito muito um boné que já esgotou? Há amigos e enteados ou quando o stock acaba é para todos?
Se for algo que já tenha esgotado e queiras mesmo muito, eu posso-te oferecer o meu sample pessoal, de outro modo, penso que não possa ser possível fazer nada, até porque eu não guardo os ficheiros dos projectos executados. Há amigos e familiares sim, mas esses são geralmente os primeiros a querer ficar com as coisas e por isso cuidam logo dos seus interesses. Eu respondo pessoalmente a todas as perguntas, por isso, se algo é anunciado e alguém quer, eu posso logo pôr de lado para ele. Somos todas pessoas humildes e respeitosas e tratamos quem está connosco bem, porque queremos ser tratados assim e faz parte de nós. Independentemente das posições hierárquicas que ocupemos nas nossas vidas profissionais, não acreditamos na cultura de celebridades, da arrogância e desprezo. Todas as encomendas que eu envio levam uma nota de agradecimento escrita à mão.

7. Agora ao contrário, como posso garantir que fico com o modelo que quero?
Lamento não perceber esta pergunta. Queres reformulá-la?

8. Então e pedidos especiais, misturar este modelo com aquela padrão, dá?
Não, para isso existem lojas de gomas onde se pode tirar de um lado e meter do outro, ou casas de corte-e-costura. Nós temos o cuidado de oferecer um produto final que vem com determinada cor, com determinado pormenor, porque é assim que queremos, por isso não há possibilidade de alterar cores. É uma questão de confiança.

9. Outra coisa, o papel dos vossos amigos e o consequente apoio é um grande pilar disto tudo. Tenho que ser tua amiga no FB para ajudar? Ou basta comprar?
Precisamente, é pela receptividade, pelas conexões que estabelecemos que isto vale a pena. Há quem seja só amiga no FB, há quem compre e não dê a cara, há quem dê palavras de incentivo e apoie, há quem fale aos amigos e não compre. Eu pessoalmente fico satisfeito com qualquer uma delas, desde que haja essa variedade e que tenham presente que as OA Industries são um projecto resultante de muitas horas de aprendizagem e execução.

10. E depois, na hora de pagar? Tenho que ficar um mês a pão e queijo ou promoções de 1euro do Mac Donald’s?
Se a tua prioridade for comprar prints ou hoodies, e não alimentares-te de uma maneira saudável, então eu ia querer ter uma conversa contigo e relembrar-te que devias orientar a vida de outra maneira. Como já referi, em relação com a qualidade os nossos preços são baixos, porque cortamos o lucro, só há que cobrir os gastos de produção e envio. Não há maneira de ser mais honesto nas nossas intenções do que oferecer as coisas desta forma, a quem queira apoiar, sem ter de passar por privações.
11. Como é que é feita a divulgação: site, FB e boca a boca ou associam-se a outro tipo de iniciativas: sei lá, concertos, exposições, campeonatos de skate...
Diria que a maior parte das nossas vendas advém de os nossos apoiantes terem uma noção sobre o tipo de pessoas que somos. Temos a página do facebook para divulgar notícias, tal como a newsletter que é possível assinar no nosso site, bem como uma forte presença nas áreas do skate, do design, da arte, da música (maioritariamente hardcore e hip hop). No entanto, isto não é o nosso limite, porque não estabelecemos barreiras, se vêm de um background da literatura, queremos falar com vocês, se gostam de ouvir jazz, também, se gostam de ballet, igualmente. Mas é nossa intenção que todas as pessoas activas nos abracem, que se excitem com os seus próprios interesses e em aprender mais sobre o que podemos mostrar, em ver mais coisas e em sentir novas experiências, porque é assim que nós somos.

Comments (4)

On 19 de março de 2010 às 05:04 , Anónimo disse...

as perguntas parecem um pouco "mal intencionadas" lol, ou entao percebi mal.

 
On 19 de março de 2010 às 18:02 , Anagrama Orgânico disse...

Acho que são só para me arrancar respostas, porque como disse, penso que não vai ser publicado assim, deve ser tudo arranjado num texto e as perguntas desaparecem. ;)

 
On 22 de março de 2010 às 21:13 , Ema disse...

gostei das respostas, e as perguntas até nem foram assim tão más. podia falar menos de moda e mais de arte, mas pronto é a DIF. por acaso tenho aqui uma para ler há algum tempo que apanhei na minha escola.

 
On 23 de março de 2010 às 00:01 , Anagrama Orgânico disse...

Yay!