Tim Burton conseguiu mesmo dar cabo da Alice, não conseguiu? Contra o argumento de que se sabia que não era uma recriação da história, acho que nada joga nesse sentido, primeiro porque não a torna mais interessante, porque ignora a essência dela, e porque não faz qualquer sentido. Em última instância, Alice no País das Maravilhas é o nome tanto do livro de Lewis Carroll como da versão cinematográfica, se queriam fazer Johnny Depp no País das Cores... regravavam Charlie e a Fábrica de Chocolates outra vez?
Vi-o em Imax 3D, por isso até podia passar um filme mau (que foi o caso), que eu ia gostar, mas há coisas inadmissíveis. É uma versão fantasista, uma mistura de Harry Potter (castelos, e até contei um Professor Snake por lá), com Senhor dos Anéis (a Rainha é uma cópia da loja Chinesa de Lothlorien, Alice corta a cabeça a um monstro [espectro?] com uma armadura, etc).
O filme é francamente mau, porque está a milhas de distância dos filmes que copia. É uma pena queimarem o nome de um projecto que tinha tudo para ser histórico com inovações de mau gosto. Alice não compreende é o mundo exterior. A fantasia é a casa dela, não o inverso. Como é que uma rapariga que originalmente tinha 9 anos tem a confiança para mandar em todos os convidados num pedido de casamento inesperado, e minutos depois de o rejeitar ainda decide que há-de continuar o negócio do pai em direcção à China. E mesmo subindo a idade dela no filme para os 16 ou 17, ele está carregado de alusões à pedofilia, o que é de mau gosto para Lewis Carroll, tendo em conta que tratam mal a obra e contribui para alimentar essas ideias que lhe imputavam.
Personagens positivas: Tweedledum e Tweedledee de Through The Looking-Glass. Muito negativo: não haver ninguém que tenha percebido que é fundamental o coelho branco dizer que estão atrasados, que não há tempo, porque é a vida a passar depressa demais.