Muito se tem falado de Pedro Costa. Depois de Ossos, dei nova oportunidade com Juventude em Marca (Colossal Youth). Visualmente, o filme tem cenas que são um espanto. A câmara digital de Pedro Costa com as técnicas analógicas e uma fotografia de alto nível conseguem alcançar cores belíssimas.
O filme segue a vida de Ventura no bairro das Fontaínhas, falado em crioulo e com diálogos péssimos, que se assemelham a uma conversa de bêbedos (do tipo crónico e não ocasional, infelizmente). É um constante revisitar dos mesmos sítios, sem acontecer rigorosamente nada. A música do disco de vinil é um bom apontamento, tal como a lufada que é a visão do lago, distante da pobreza, no fim do filme. No entanto, é justo pedir três horas de concentração para mostrar a beleza singular desses momentos?
Estamos a falar de um filme para as quais foram gravadas mais de 320 horas ao longo de 15 meses, por isso, se nada foi deixado ao acaso, como é que depois de tudo espremido, apenas sai isto? Uma pequena olhada a reviews e basta ver a quantidade de gente que se veio embora antes de o filme terminar. É péssimo, é ridículo haver retrospectivas na Tate Modern, é ridículo haver um artigo por semana no Ipsilon sobre o Pedro Costa, quando isto é tudo tão fraco, sem sentido e principalmente, sem um fim.
A câmara consegue captar cenas muito boas, como foi dito, mas a quantidade de planos estáticos num quarto que faz um showroom da Moviflor parecer um palácio é quase desesperante, pois não adiantam rigorosamente nada.
Ao menos a temática está de acordo com o que o filme retrata: é uma miséria que não se pode, não é minimalismo. E se a ideia é mostrar que o virtuosismo está em não intrometer a câmara pelas Fontainhas adentro, mas apenas mostrar uma personagem, porque não escolher outra que não Ventura (algum crédito ao Ventura homem na interpretação), um tipo que no fundo passa o mês a olhar para as paredes?
Falta-me Sangue e Ne Change Rien e as minhas expectativas não podiam ser mais baixas. E depois de serem tão elevadas devido a toda a imprensa, talvez seja bom.