Só agora a escrever sobre ele é que me lembrei que Patricia Highsmith foi também a autora d'O Talentoso Mr. Ripley, pois li-os com um intervalo curto mas as capas eram de décadas diferentes, logo nem associei. Mas percebo agora as semelhanças, ambos trazem uma máscara como herança, ainda que escritos com uma subtileza feminina.
De 1977, Edith's Diary é acerca de uma vida normal a ruir, da perspectiva de Edith Howland, a mãe de Cliffie, que só dá problemas, acentuando-se com a adolescência e a mudança para uma nova casa, e mulher de Brett, que a abandona. Com a ida de Manhtattan para perto do rio Delaware, em vez de aliviar a vida da familia, começa a desmoronar-se a instituição familiar.
A escrita é uma neblina negativa cruzada com um ultra-realismo desconcertante, que vê Edith escrever no seu diário uma versão alternativa do que seria a vida. O tio George, que Brett leva por compaixão para casa, acaba por se afeiçoar ao que é o fim da vida dele naquela casa, enquanto Brett se muda com uma mulher mais nova e Cliffie, que o leitor vê crescer até se tornar uma personagem egoísta e psicótica. A personagem central, Edith, é brilhantemente construída, desassociando-se do mundo que a abandona, e criando uma realidade que a faz feliz.