Manoel de Oliveira tem o estigma de ser um realizador moroso, mas cuja visão é indiscutívelmente Portuguesa. Vale Abraão, realizado em 1993, sofre por uma e ganha pela última. O começo auspicia uma história muito interessante, um original de Flaubert (Madame Bovary) adaptado por Agustina Bessa-Luís, em que uma jovem Ema é desejada por todos. É feita casar-se com um doutor amigo do pai, Carlos Paiva, de quem acaba por viver isolada. Depois da primeira meia hora fantástica, o filme só volta a ganhar alma com as imagens da vindima no Douro e com alguma respiração fornecida pela banda-sonora. É uma pena a insistência por quatro horas de filme, quando, com metade, podia estar aqui uma obra ainda mais prestigiada, com uma Leonor Silveira capaz de centrar em si todo o filme.