Apesar de se dedicar ao pensamento cultural e à literatura, a filosofia é a base de tudo. Eduardo Lourenço, analisado por Miguel Real no ensaio publicado no ano passado, Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa, promove a heterodoxia em oposição às correntes ortodoxas reinantes, o Cristianismo e o Marxismo, que se anulam no limite.
A existência crepuscular de Portugal que dura há 400 anos, desligado de uma Europa em queda mas tentado pertencer-lhe é o assunto recorrente na análise à obra do pensador. Miguel Real é notável na análise e no detalhe com que demonstra o pensamento Eduardino, e nas conclusões que tira, servindo-se de textos de toda a vida deste.
A lucidez e o brilhantismo, como se vê Portugal e como tem sido visto, são assim mantidas por um discurso analítico, extremamente excitante e estimulante, por mais de 400 páginas, divididas pelos quadrantes cultural, político, estético e filosófico. Uma das dissecações mais interessantes é a da diferença entre a poesia do Orpheu e a Presença.