As capacidade descritivas de Nikolai Gógol, assinaladas em O Retrato, são um deleite.
Tcharkov, um pintor, compra um quadro num mercado, cujo olhar perturbador tem um efeito maléfico naqueles que lhe olham nos olhos. Quando o senhorio e um inspector da policia lhe vão cobrar a renda atrasada, mil moedas de ouro (que ele já desejara num sonho), aparecem-lhe. Com elas, compra tudo o que sempre quis ter, incluindo a fama, que lhe trouxe depois trabalho, a retratar os ilustres de São Petersburgo.
Ao ver um quadro de um conhecido que, ao deslocar-se para Roma, dedicou-se por inteiro à arte. Apercebe-se das diferenças qualitativas para os seus, que eram já profundamente elogiados e procurados, e inicia uma relação de fúria com a pintura, comprando quadros apenas pelo prazer de os queimar.
A divisão para a segunda parte refresca a narrativa, recomeçando com uma descrição realista do bairro de Kolomna por parte de um pintor, seguindo para uma inventiva descrição dos infortúnios que se abateram sobre as pessoas que se cruzaram com os cidadãos que tiveram contacto com uma figura estrangeira, pintada pelo seu pai. O retrato dessa personagem é, claro, aquele que desencadeou a fama e miséria de Tchartkov. Final brilhante.