Foi aqui manifestada por mim, uma certa surpresa pelo reconhecimento concedido a Godard, no entanto, com o magnífico Bando à Parte, é impossível não tecer elogios. É um filme em homenagem aos anos 40, com dois maltrapilhas que se dedicam a engendrar um plano para um assalto, fazendo uso de Odile, uma jovem que balança entre o desinibido e o envergonhado, soberanamente transposta para o ecrã por Anna Karina, a musa e mulher de Godard. Com os aldrabões a revezarem-se em cena, quem se destaca é mesmo ela, até ao ponto alto do filme, quando todos repetem a coreografia. Brilhantes jogos mentais, com destaque para a cena do quase-minuto de silêncio. O lirismo do texto adaptado, com a sumptuosidade das interpretações, com o papel ambíguo de Franz e Arthur, que ora cedendo ao encantamento de Odile, ora repudiando-o, desafiam a percepção do espectador, desafiando os limites do relacionamento entre eles os dois e com a estudante de línguas, nunca se decifrando quem está do lado de quem. O desenlace racional num filme atípico é a coroa inesperada.