Nesta ultima edição da Everyman's Library, Animal Farm do George Orwell é apresentado luxuosamente, com os apêndices e introduções originais, bem como uma encadernação de capa dura esteticamente interessante. A história, é a de uma quinta que ao se insurgir, tem necessidade de eleger líderes, que como todos, são incapazes de lidar com o poder. Com patos, desconfiança e história.

Nesta nova versão restaurada do western clássico de Sergio Leone, a unica coisa que há mesmo a apontar é a remistura das vozes, pois com tanto cuidado a tratá-las, acabam por ficar dessincronizadas. Fora isso, é um dos melhores westerns, com Clint Eastwood

Já toda a gente percebeu que a sociedade moderna é devassa, no entanto este volume de sete histórias intitulado Entre os Lençóis, faz Ian McEwan ser uma espécie de rei da pornografia fácil, com uma mente que nos EUA deve dar direito a alguns protestos de católicos inveterados. Não é que seja um mau livro, mas não choca sequer e há melhores formas de passar o tempo.


As Velas Ardem Até Ao Fim do Húngaro Sandór Márai é um livro assombroso, ao intrometer-se e esgravatar as relações humanas de amizade e traição. Um longo confronto silencioso entre um passado ainda em aberto entre dois idosos que se reencontram, ainda de costas voltadas ao que se passou, encobertos pela vergonha. Uma escrita carregada de classe e filosofia, num dos melhores livros publicados no século transacto.

Ao desdobra-se nos heterónimos e ortónimo, Fernando Pessoa não só enriquece uma obra pessoal inqualificável, mas traz também consigo vivências e um rol de tristezas que dão profundidade a uma dor escondida tão fundo.
Ficções do Interlúdio reúne os poemas publicados em vida (exceptuando A Mensagem) do maior poeta do século XX. Porque ser grande não implica tamanho, como este volume de bolso demonstra.
Uma resumida biografia de cada heterónimo está aqui, para quem se quer familiarizar.

Deep Jungle, um documentário dividido em três partes, que explora a relação dos animais entre si, bem como as ligações que temos ou queremos ter com aqueles mais desconhecidos e exóticos. Com vários especialistas em cada área, entre outros, somos levados 'a procura de aranhas que matam galinhas no Brasil, gorilas no Uganda, civilizações perdidas no Cambodja e espécies não registadas na Amazónia. Com uma grande qualidade de imagem é um esforço notável de equipas de todo o mundo que trabalham em prol da ciência. A versão visualizada foi o Dvd.

The Champion, um filme dos primeiros anos de Chaplin em Hollywood (1915) é uma história bastante bem musicada, onde Charlie Chaplin se torna um lutador de boxe, vencendo com uma ferradura dentro das luvas de boxe, e alcança a luta pelo título de campeão perante uma vasta assistência contra o antigo campeão, bastante superior fisicamente. O alheamento de Chaplin a todo o circo da preparação contribui para este interessante documento que inclui também The Park, onde Chaplin é assaltado e assaltante ao mesmo tempo, num misto de trafulhice e camaradagem e de constantes trocas do sentido de bondade e maldade. Ao devolver uma mala roubada, fica preso numa história de amor que acaba num suicídio assistido.

Este manual compromete-se a ser uma ferramenta que ajuda cada um, com poucos conhecimentos e muita disposição, a concretizar pequenos projectos. Desde cartões de visita, a blogs, a capas de CDs até t-shirts.
Desenvolvido por Ellen Lupton com alunos de um colégio do Maryland, apesar da fantástica apresentação, as soluções apresentadas são no geral bastante rudimentares ou então muito difíceis de produzir em mais do que uma unidade. No entanto, pode lançar algumas ideias sobre d.i.y. e dar umas luzes sobre design, com os textos concisos que inclui.

A novela com qeu Charles Bukowski se estreou em 1971, este Post Office é o relato da vida de Henry Chinaski, que quase toda a vida trabalha nos correios, ganhando dinheiro para o niilismo exacerbado que descamba em álcool, drogas e mulheres, muitas, a santíssima trindade, portanto.
Essa personagem, presença recorrente em Bukowski, é baseado nele e nos acontecimentos por que ele passou.
Acaba por ser um livro interessante, pelo uso do jargão e o constante virar de costas de Chinaski 'a sociedade, no entanto torna-se um bocado maçador a meio do livro, para completar num bom final.


Este Borges Oral, constituido por cinco conferências de temas que se relacionam com a sua intimidade, como o próprio diz, retrata Jorge Luís Borges já cego, dando a importância devida 'a palavra oral, indo desde os três livros sagrados, atribuidos ao Espírito Santo e não a uma só pessoa, até Pitágoras e Sócrates.
Divaga também sobre o conforto que os livros proporcionam, bem como a forma mutável em que se vêm apresentando ao longo dos tempos.
Borges nutre uma admiração por Emanuel Swedenborg, e por isso dedica-lhe uma das conferências. Um Sueco do século XVIII que veio a morrer em Londres, com quase cem anos, na corte de Carlos XII. Filho de um bispo luterano, no entanto não acredita na salvação pela graça, e estabelece o argumento que Borges discute na conferência anterior, dedicada 'a imortalidade, em que o autor, a salvação, é feita pelas obras. Borges refere que um escritor só deve ser analisado depois de morto, e que os leitores fazem o livro, tudo o que aconteceu ao longo dos anos, confere ao livro uma carga que o escritor não inscreve. Ao discutir textos Gregos clássicos da questão da imortalidade, bem como do Renascimento, Borges chega 'a conclusão que existe uma imortalidade cósmica, onde os nossos actos e obra ficam.
O mais fraco será o dedicado ao conto policial, onde exalta Edgar Allen Poe e fala sobre os talentos que despontaram de Massachusetts. Acaba com uma interessante introdução 'a questão do tempo, onde demonstra uma ligeira análise a um tema que se encontra em voga.

Podia levar com uma descrição pior. Este livro, já com mais de quinze anos, reune os textos de Agustina Bessa-Luís sobre Camilo Castelo Branco, a que se lhe juntam duas peças de teator perfeitamente dispensável.
Agustina que vai buscar muito do romance que envolve Camilo, analisa-o como pessoa e como autor, transparecendo admiração por ambos, mas dividindo as suas características.
Relata também as viagens que fez 'a casa dele com José Régio, e faz uma observação bastante feminina 'a presença (e ausência), bem como a importância, de mulheres em Aquilino. E todas as influências Francesas que Agustina também partilha, mas isso é chato.


Um livro de bolso, mas muito completo. A capa tem uma grande qualidade, só superada pelo conteudo, com bastante texto que traça os conjuntos de evoluções que levaram ao modernismo, a desconstrução ao pós-modernismo e por fim o supermodernismo, com vários exemplos arquitectónicos de todo o mundo.


Numa outra nova, a revista Ler, completamente renovada e bastante agradável, é daquelas coisas que até custa a acreditar que existe em Portugal.
A capa não é da edição de Junho, mas a anterior.

Este O Jogo da Glória, da autoria do advogado Portuense Octávio Abrunhosa, pai do conhecido cantor, é uma colectânea de histórias, pequenos contos, maioritariamente passados no Portugal rural. É uma agradável leitura, com as desavenças e infortúnios que os locais hoje despovoados, proporcionam. Acrescentam-se ainda três contos infantis muito interessantes.


Esta produção de Clint Eastwood e Steven Spielberg, divide o evento da batalha da ilha Japonesa de Iwo Jima, pela perspectiva das duas frentes, durante os quarenta dias que a carnificia durou.
A visão Americana (As Bandeiras dos Nossos Pais), é também uma versão Americana, muitas explosões, a mentira que envolve os três "heróis" que nem em si acreditam, a mediatização da guerra que rouba espaço aos verdadeiros heróis.
O lado Japonês (Cartas de Iwo Jima), imperial mas também mais comedido sem descurar a passionalidade. A dualidade dos sentimentos estende-se também ao respeito pelos superiores e a constante quebra de regras, numa situação de clara desvantagem numérica, num exército dividido e que vê o seu território assaltado. Nos túneis joga-se não só o destino duma ilha que acarreta um império, mas também a honra, e essa extravasa as fronteiras. Ao contrário de As Bandeiras dos Nossos Pais, aqui há figuras de proa e papéis de destaque, talvez por isso este filme tivesse tido mais reconhecimento em termos de prémios.
Ambos os filmes são muito emocionais, e ao mostrar que numa guerra tudo depende da perspectiva, que quase sempre é alimentado pela ignorância, para desumanizar o inimigo e diabolizá-lo, quando no entanto existem famílias 'a espera de ambos os lados.
:


Dirigido pelo Americano Phil Mucci, este The Listening Dead é um filme de horror mudo, de treze minutos, feito em homenagem aos filmes dos anos 30, mas com tecnologia actual. Dura o tempo de um intervalo de um jogo do Europeu.

A Carta, dirigido por Manoel de Oliveira é uma adaptação aos tempos modernos de um texto de Madame La Fayette e é simplesmente desconexo, sem "ponta por onde se lhe pegue." Falado em Francês, serve de montra a Maria João Pires e a um Pedro Abrunhosa encalhados pelo meio (este a desafinar muito e com um ângulo de camêra digno das festas populares de uma qualquer aldeia refundida no sopé da Serra da Estrela).
Fora isso, tenta-se construir uma história de amor, mas é apenas mau.


Uma certa antipatia pelo jogador, mas principalmente um embaraço por ver um filme sobre futebol afastaram-me deste Zidane : A 21st Century Portrait por muito tempo.
Só num conceito muito alargado é que isto é um filme enquanto arte. Não tem uma beleza estática, que se destaca pelos detalhes, é apenas enfadonho, monótono, muito monótono.
A musica dos Mogwai, excelente banda sonora original, demora muito tempo a entrar e é mal utilizada, pois é apenas usada de tempos a tempos.
Os comentários em legenda acabam por ser o mais interessante, dado que num desporto colectivo, Zidane consegue ser tão solitário e é a forma de o espectador se sentir mais perto dele.

Um romance hilariante, com passagens baseadas em personagens que o maestro Vitorino d'Almeida se cruzou ao longo da vida, relatadas com um humor refinadíssimo, que se no primeiro quarto do livro espanta pelo nível constante, linha após linha, pelo fim acaba por se perder em longas descrições. Com referências culturais e vários tributos, bem como ridicularizações de características bem portuguesas. Marcelino de Gama, a personagem, vê-se vítima das situações que ocorrem 'a sua volta, sem que ele possa alterar algo, num cenário pré e pós 25 de Abril.
Tem exactamente o mesmo tamanho de In Cold Blood de Truman Capot, mas obviamente que as semelhanças findam aí.

Nesta produção Brasileira, José Padilha, tem um tom bem mais adulto que Cidade de Deus , perdendo por isso a vertente de risco, de aventura, e apresentando um perigo conhecido sobre o qual é preciso agir. É um argumento adaptado de um livro que contou com a participação de agentes do BOPE que abandonaram as forças especiais.
Em situações precárias, mais do que não ter opções, é preciso medir as consequências das acções e os agentes vêm a ameaça vir de dentro também.
Com o impacto que um filme tem deste género, com o aligeiramento dos problemas, uma simplificação, que faz pessoas mais jovens sentirem-se iludidas por uma guerra que devia desaparecer, mas os dramas pessoais do Capitão Nascimento, mostram que por trás dos cargos, estão pessoas que procuram a paz. Mostra problemas do Brasil ao mundo, mas também aponta e analisa deficiências que o sistema social tem, mostrando as fissuras de um sistema que tem de combater males que parecem ser grandes de mais.

O livro Um Escritor Confessa-se, de Aquilino Ribeiro, incide principalmente no trabalho como contestatário de ruela por parte de Aquilino, e no seu envolvimento na queda do regime monárquico com o regicídio.
Para além de fornecer um interessante retrato social da Lisboa do inicio do século XX, é também uma obra com um tom gracioso, mesmo aquando da descrição da bomba que rebentou no quarto que Aquilino arrendava, vitimando dois republicanos. A parte que principia este registo auto-biográfico, que acaba por ser ligeiramente extenso para o propósito, é bastante interessante, onde o escritor, que domina a língua Portuguesa como ninguém, relata os dilemas familiares bem como episódios em Viseu e a expulsão do seminário de Évora.


Arte Conceptual, de Daniel Marzona traça a história de movimentos artísticos que despontaram no surrealismo, arte minimal e afins, e as preocupações de comercialização e estrutura em reacção aos clássicos e numa busca pela essência artística que partia pela redescoberta pessoal do que ela devia significar na perspectiva de cada artista.
Numa passagem pelo cubismo e construtivismo Russo que desmontaram, a par da politização do Dadaísmo 'a escala do global, o que se tinha como formas de arte, dando lugar a novas correntes de influências que brotaram dos dois lados do lado do Atlântico.
Obviamente que com todas as "personagens" de um movimento que não se quer um movimento, mas um conjunto de acções isoladas em busca de uma nova definição, torna-se difícil seleccionar um bom conjunto de artistas, mas apesar da mediania, o livro serve especialmente o propósito de divulgação de obras de uma vida, que pela persistência se tornam válidas. Destaca-se Stephen Kaltenbach, On Kawara e Sol Lewitt, apresentados por essa ordem.






A colecção Phaidon 55, dedicada 'a fotografia e altamente recomendada. Cada volume contém 5 livros de diferentes fotógrafos que se revelaram influentes quer como impulsionadores de um estilo ou como mestres na execução de diferentes técnicas. Cada livro, em formato de bolso, tem 55 imagens bem como uma detalhada análise e dados biográficos do fotógrafo.
Neste volume acima apresentado, que inclui várias épocas e envelopes sociais, destacam-se os dois seguintes.

Eugene Atget, Francês que cobriu Paris, especialmente reconhecido pela documentação das lojas e becos, muitos deles inexistentes nos dias de hoje.




Gustave Le Gray, começou como pintor, mas expandiu o conceito de fotografia e foi um dos impulsionadores desta como forma de arte legitima. O elevado nível técnico, bem como o aperfeiçoamento de técnicas de colagem, tirando o céu de uma fotografia para usar num fundo de mar fizeram dele um dos mais reconhecidos inovadores. Reconhecido pelos retratos, os ultimos anos de vida foram passados no Egipto, onde documentou os modos de vida locais.